Pular para o conteúdo principal

Os pássaros

Os pássaros

Meninas e meninos, a briga entre os bichos da floresta era sobre "dieta": quem come o que, quem come quem...Os vegetarianos formaram o Partido das Bananas. Os carnívoros pensaram em formar o Partido da Linguiça, mas logo, aconselhados pelo Camaleão, adotaram a tática da dissimulação e deram ao seu partido o nome de Partido dos Abacaxis, que, graças à ingenuidade dos membros do Partido das Bananas, que acreditaram que, entre banana e abacaxi, não havia diferença, ganhou as eleições.Empossado o Congresso, os representantes elegeram o seu presidente, a Hiena, sempre com um sorrisinho de Monalisa no focinho.

Na sua posse, ela fez um discurso sobre as excelências da dieta vegetariana. Citando o filósofo alemão Ludwig Feuerbach, que disse que somos o que comemos, ela declarou: "Vacas comem capim, portanto são capim. Macacos comem banana, portanto são bananas. Galinhas e patos comem milho, portanto são milho. Assim, onças que comem vacas estão, na verdade, comendo capim. Uma cobra que come um macaco está, na realidade, comendo bananas. Um gambá que come galinhas está, na realidade, comendo milho. São todos, portanto, vegetarianos. Assim sendo e em cumprimento às promessas que fizemos no período eleitoral, proclamo a lei de que todos os animais terão de ser vegetarianos. Viva a República Vegetariana!".

O discurso da Hiena foi seguido por um festival gastronômico em que hienas, onças, lobos, cães vadios, cobras, gambás e gatos vegetarianamente churrasqueavam vacas, veados, macacos, galinhas e passarinhos. A lei é clara: todos os animais são vegetais transformados...Aí os membros do Partido das Bananas perceberam que haviam caído numa armadilha. Leis são armadilhas. Uma vez feitas, não podem ser abolidas, a menos que sejam revogadas por aqueles que as fizeram.E, olhando para seus gordos representantes no Congresso, perceberam que nenhum deles estava disposto a trocar costeletas, lombos e linguiças por alface, couve e cenoura... Concluíram, então, que, com aquele Congresso de carnívoros, a reforma política jamais seria realizada.

Foi então que um leitão rechonchudo chamado Alfred Hitchcock pediu a palavra. O dito leitão ponderou: "Eu não posso enfrentar a onça. As galinhas não podem enfrentar os gambás. Os cordeiros não podem enfrentar os lobos! Mas os pássaros! Milhares de pássaros em seus voos rasantes e bicos pontudos! Que poderão fazer as onças, os gambás e os lobos contra o ataque de milhares de pássaros? Vamos chamar os pássaros! Eles são vegetarianos! São nossos aliados!".

E assim aconteceu. Vieram então, em bandos que tapavam o sol, milhares de andorinhas, sabiás, pardais, tico-ticos, periquitos... Invadiram o edifício do Congresso. Foi um pandemônio. O espaço escureceu. O barulho dos pios e dos gritos dos pássaros era ensurdecedor. Milhares de bicos bicando sem parar em mergulhos certeiros.Além disso, por onde iam, soltavam seus excrementos moles e fedidos que escorriam pelos sorrisos de Monalisa dos excelentíssimos.

Os representantes gritavam histéricos: "Isso é conspiração dos meios de comunicação". Os gambás, as onças, os lobos, os cães vadios e as hienas fugiram e nunca mais voltaram, com medo de que os pássaros lhes furassem os olhos...Isso, meninos e meninas, tem o nome de revolução. Revolução é quando os eleitores resolvem, eles mesmos, demitir os seus representantes que os traíram e fazer, eles mesmos, as leis. Portanto vamos chamar os pássaros...

Rubem Alves

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,

Tetsuo Tsuji - um sumurai em terras do Maranhão

Esta semana faleceu meu querido amigo Tetsuo Tsuji (1941-2023), um sumurai em terras maranhotas. Nascido em 13 de julho de 1941 em São Paulo construiu sua carreira lá e no Maranhão. Neste espaço presto minha sincera homenagem. Formado em Administração Pública e Direito pela USP, mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas-FGV e doutor em Administração pela USP. Tetsuo trabalhou na Secretaria de Finanças do Estado de São Paulo e foi professor na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Largou tudo e veio para Maranhão ser empresário na área de agricultura e pesca, formou família. A vida acadêmica volta na Universidade Federal do Maranhão-UFMA onde se tornou professor e reconstruiu carreira. No Maranhão foi pioneiro nos estudos de futuro e planejamento estratégico, contribuindo para o processo de planejamento do desenvolvimento no âmbito do Governo do Estado. É aqui que nos conhecemos, na experiência do Governo Jackson Lago (2007-2009). Tinha uns 2

A escola honesta

a) O que falta na escola pública? 69% não tem bibliotecas 91% não tem laboratório de ciências 70% não tem laboratório de informática 77% não tem sala de leitura 65% não tem quadra de esportes 75% não tem sala de atendimento especial São dados do Censo Escolar de 2022 e que acompanho há mais de 10 anos, afirmo com segurança, pouco ou quase nada mudou. b) E as propostas de solução? - formação continuada - flexibilidade curricular - gestão por resultados - avaliações de aprendizagem - plataformas a distância - internet Darcy Ribeiro finaliza um dos seus livros mais emblemáticos dizendo que nossa tarefa nacional é criar escola honesta para o povo. Quando?