Pular para o conteúdo principal

UM PROJETO INSTITUINTE PARA O JOVEM

Existem programas, projetos e ações que implementam políticas públicas. E existem projetos instituintes, cuja concepção e escopo perenizam modelos, definem desafios a enfrentar e materializam anseios do povo. A humanidade para superar a morte inventou as instituições, a forma que encontrou para transcender ao tempo e estabelecer o diálogo entre o passado, o presente e o futuro. Podem existir instituições sem projetos instituintes, mas não existem projetos instituintes sem instituições.

O Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IEMA é um projeto instituinte do Governo Flávio Dino que se concreta como instituição de ensino, o sentido essencial é fazer com que as pessoas e a sociedade acreditem na eficiência, eficácia e efetividade da escola pública, trabalho diário, árduo e coletivo desenvolvido em tempos de crise e de ódios. O IEMA articulando educação, ciência e desenvolvimento representa a aposta política na força das ideias em contraposição a barbárie dos caminhos extraviados e sem retorno.

É a mudança da surrada “qualidade” para a inovadora “excelência com equidade”, conceito detestado pelo Brasil que persegue a diversidade, queima Museus, mata reputações de intelectuais, bate em professores e desfinancia a educação, ciência, tecnologia e inovação. Enfrentar essa mudança nos exige autoria e autoridade para ante a ignorância e a descrença ir compondo esse quadro novo com os filhos de hoje e de amanhã.

Não podemos esquecer que essa instituição nasce em um lugar caracterizado pela prevalência de sociabilidade e cultura política ultrapassada, mas condizente com suas desigualdades agudas. O desrespeito às instituições é parte da forma política oligárquica que ainda predomina no Maranhão, onde a dignidade dos dirigentes educacionais também é tratada como pescoço para ser pisado pelas botas do coronelismo e omitida pela mesquinhez dos sacerdotes do poder.

Seria fácil copiar modelos e implantá-los, em educação muitos se julgam preparados e fazem isso sem piscar. Aquilo que o projeto instituinte do IEMA propõe é aprender com as experiências exitosas e construir seu próprio ser institucional, cuja consolidação não está concluída e terá de ocorrer no tempo que a política impõe, as vezes apenas pelo instinto das paixões que vem de dentro ou pela percepção pragmática daquilo que pode dar certo. É dessa corda esticada sobre o abismo que somos convidados a olhar para as estrelas com fé na capacidade humana de superar a si mesmo e ser mais.

A realidade educacional da América Latina, do Brasil, do Maranhão é marcada por dois desafios enormes: alta proporção de jovens que interrompem sua trajetória escolar antes de finalizar o nível e pela baixa proporção de egressos com aprendizagens pertinentes e significativas. A cada 100 que começam o ciclo básico, somente 54 chegam ao final desse ciclo, isso é a máquina de moer sonhos e produzir desesperanças para o qual o projeto instituinte do IEMA não é a solução, mas farol de novas rotas para audazes navegantes.

O jovem brasileiro também vivencia crise de sentidos, abandonando a escola, permanecendo nela mas avesso ao que ali se faz, impermeável aos valores democráticos e a civilização, seduzido pela sereia do autoritarismo, do falso heroísmo e da banalidade da violência. O mito que está ligado ao imaginário em nossa cultura e sempre representou a luta contra a dureza das desigualdades pela sobreposição criativa do mágico, foi transformado na exaltação fanática de espantalhos nazistas, os velhos bezerros de ouro erguidos nos desertos éticos.

Muitos jovens mergulham na ignorância para enfrentar o mundo chato e inseguro dos adultos, confrontar suas razões pelo prazer de irritar, chamar a atenção, ser notado, marcar uma diferença para ser o descolado. Neste mundo de memes e mídias, ensinam-lhes que vale tudo para ser famoso, ser famoso se confunde com ser respeitado, querido e até idolatrado.

O que me alegra e renova a esperança invencível é perceber que muitos jovens também enfrentam a crise e constroem projetos de vida para si, respeitando e incluindo o outro como parte indispensável da existência humana. Sofrem, mas não se desesperam, vão à luta, defendem suas ideias, não são egoístas, desejam que outros jovens possam ter as mesmas e mais oportunidades, entendem-nas como direitos. Tenho orgulho desses jovens, eles certamente não desistirão da aventura que é viver neste mundo, serão seus próprios heróis e heroínas nas histórias que construirão em tempos de agora e de breve, de perto e de longe, do aqui e do lá.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,

Tetsuo Tsuji - um sumurai em terras do Maranhão

Esta semana faleceu meu querido amigo Tetsuo Tsuji (1941-2023), um sumurai em terras maranhotas. Nascido em 13 de julho de 1941 em São Paulo construiu sua carreira lá e no Maranhão. Neste espaço presto minha sincera homenagem. Formado em Administração Pública e Direito pela USP, mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas-FGV e doutor em Administração pela USP. Tetsuo trabalhou na Secretaria de Finanças do Estado de São Paulo e foi professor na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Largou tudo e veio para Maranhão ser empresário na área de agricultura e pesca, formou família. A vida acadêmica volta na Universidade Federal do Maranhão-UFMA onde se tornou professor e reconstruiu carreira. No Maranhão foi pioneiro nos estudos de futuro e planejamento estratégico, contribuindo para o processo de planejamento do desenvolvimento no âmbito do Governo do Estado. É aqui que nos conhecemos, na experiência do Governo Jackson Lago (2007-2009). Tinha uns 2

A escola honesta

a) O que falta na escola pública? 69% não tem bibliotecas 91% não tem laboratório de ciências 70% não tem laboratório de informática 77% não tem sala de leitura 65% não tem quadra de esportes 75% não tem sala de atendimento especial São dados do Censo Escolar de 2022 e que acompanho há mais de 10 anos, afirmo com segurança, pouco ou quase nada mudou. b) E as propostas de solução? - formação continuada - flexibilidade curricular - gestão por resultados - avaliações de aprendizagem - plataformas a distância - internet Darcy Ribeiro finaliza um dos seus livros mais emblemáticos dizendo que nossa tarefa nacional é criar escola honesta para o povo. Quando?