O Brasil vive momento de transição, pela primeira vez em 30 anos desde a Constituição Federal de 1988, teremos um governo assumidamente à direita, fato novo, mas neoliberal, algo repetido. Governo Bolsonaro continuará o de Michel Temer, avançando na agenda daqueles que derrubaram Dilma e assumiram o poder em 2016. Os militares voltam ao centro do palco político de Brasília para garantir a manutenção dos seus privilégios de aposentadoria e pensões, bem como, dar o seu tom no enfrentamento dos problemas brasileiros.
A Operação Lava Jato mudou do Judiciário para o Executivo, a burocracia judicial assume protagonismo político inédito na República, inclusive com pretensões presidenciais. Os filhos do manifestante verde-amarelo que eram contra a política, assumem mandatos como senadores, deputados federais, deputados estaduais e governadores. Os empresários que financiaram a campanha de Bolsonaro com fakenews e mensagens de Whatsapp cobrarão essa fatura em breve.
A esquerda perdeu a eleição. Quatro temas importantes não foram compreendidos, alguns foram ignorados ou secundarizados. Corrupção, segurança, deveres e eficiência do governo foram temas apropriados pela direita, apesar de não serem de direita ou de esquerda. O combate à corrupção avançou muito nos Governos do PT, por outro lado, a exposição dessa corrupção cresceu de forma fenomenal, isso fragilizou ainda mais os políticos e os governos, basta checar quantos conseguiram reeleição e se verá o tamanho do impacto dessa avalanche ampliada pela Lava Jato, 20 governadores tentaram, 10 se reelegeram, dos 513 deputados federais eleitos, 240 se reelegeram.
Não é possível ser conivente com a corrupção, mas não basta caprichar nos mecanismos de transparência, do “rouba, mas faz” de Maluf ao “não sabia” de Lula, quem está na política não conseguiu responder de forma consistente, clara e séria a este tema.
A insegurança pública é grave. A angústia de todos sobre este tema e a descrença nas promessas de solução nos fez aceitar qualquer fórmula, do “bandido bom é bandido morto” ao “vamos atirar na cabecinha”. As pessoas não querem esperar reduzirmos as desigualdades para se sentirem seguras, lhes parece algo distante, querem segurança agora. É neste clima que as soluções demagógicas encontram aceitação popular. As políticas de segurança devem estar de mãos dadas com as políticas sociais inclusivas, o crime não pode ser a única opção ante a pobreza e a exclusão, a pobreza e a exclusão não podem ser a única opção. Não existe mágica, necessário conhecer experiências que deram certo, testar, avaliar, fazer e refazer para encontrarmos o nosso próprio caminho, comunicando para a sociedade, dando transparência ao que se está buscando.
Os governos são grandes, caros e ineficientes, isso é uma realidade no Brasil e no mundo. Não é questão de ter mais ou menos órgãos, mais ou menos servidores, mas o centro do debate é o projeto de país que desejamos, as estruturas governamentais devem ser responsivas a esse projeto. Trabalhar com metas, avaliação de programas e tomar decisões com bases consistentes ainda está longe dos políticos e dos governos, prevalece o instinto. Se um programa foi criado pelo adversário, devo extingui-lo ou mudar seu nome, algo comum em diversas políticas públicas que são tratadas como políticas pessoais.
É claro que os governos devem ser eficientes e todos nós desejamos que isso ocorra. Os governos passam a ideia de que não precisam se justificar, são autoreferentes e portam discurso poderoso em sociedades altamente dependentes de políticas públicas. Não faltam caminhos de aprendizado para que os governos sejam eficientes, falta liderança política e continuidade de políticas. Liderança política que enxergue o projeto de país acima das diferenças ideológicas e disputas partidárias. Continuidade de políticas que não interrompa boas iniciativas.
É necessário um esforço cognitivo e iluminista para enfrentar tempos tão toscos e sem criatividade que se avizinham, pensar com a própria cabeça como sugeriu Kant nunca foi tão atual e pertinente.
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