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Nós que há tanto esperamos

Nós que há tanto esperamos

Por Jhonatan Almada


A revista Carta Capital dessa semana, publicou matéria especial sobre o sucesso do Brasil no mundo, versão traduzida da que foi veiculada pela revista The Economist. A matéria destoa da tradicional visão exótica em relação ao país e aos brasileiros, tão característica das narrativas estrangeiras, desde o século XVI. Desenha um quadro denso, coerente, sério e rico sobre o Brasil.

Mas o grande destaque da matéria está no que foi expresso, mas não explicitado, algo compreensível considerando que olham de fora as complexidades de nossa terra. Sobretudo quando da passagem: “Muitos dos seus políticos não veem nada de errado em roubar dinheiro público ou nomear parentes para cargos nos seus feudos pessoais, e se recusam a renunciar quando descobertos” (p. 57).

O que possibilitou ao Brasil chegar nesse patamar elogiado pela matéria, não foi outra coisa que não a alternância do poder. Aos trancos e barrancos, com marchas e contramarchas, ditadores e democratas, efetivamente, ao longo do século XX, o poder político no Brasil mudou de mãos, ora de forma democrática, ora golpista, oxigenando os quadros dirigentes e as idéias dirigentes.

Vamos ao Maranhão. Apesar das inúmeras tentativas pela força das armas ou das idéias, em tempos democráticos ou autoritários, não conseguimos efetivar alternância consistente no poder político local. Nós que há tanto esperamos e lutamos, ficamos presos a opção pelos mesmos, quando muito pelos filhos dos mesmos. Isso há mais de 200 anos. Incrível, em qualquer outro lugar do mundo, já teríamos ido às armas, aqui a maioria se cala e se submete às certezas de quem está no poder.

A ausência de alternância é tão grave que basta olhar como contamina todas as instituições. Veja-se o quadro de desembargadores, de conselheiros dos tribunais, de dirigentes das federações e associações, das ordens profissionais. Poderão contar nos dedos os que estão fora do quadro desenhado. Em geral, mesmo nos setores progressistas, é impensável sair desse quadro, o que está fora dele é exótico ou visto com desconfiança, serve no máximo como lustre da moldura, nunca integrando a composição, posto que estragaria a harmonia, julgam pela idade e pelo nome.

Nenhuma emancipação é possível sob o jugo de senhores e famílias, daí as revoluções e a busca infinita, incansável e alguns dirão, vã, pela mudança, que nos caracteriza nos últimos séculos.

A primeira alternância de poder experimentada no Maranhão, com a ruptura do ex-governador José Reinaldo e os 2 anos e 3 meses do governo Jackson Lago, resultou em melhoria de grande parte dos indicadores sociais e pujante crescimento econômico, consultem a PNAD e o PIB, no site do IBGE.

Todo o trabalho desenvolvido, sobretudo no planejamento público, visava desconstruir em concretude e realidade a imagem que apareceu estampada no jornal O Estado do Maranhão-EMA, de 22 de novembro de 2009, a página 5, do Caderno Cidades – o secretário de planejamento e os técnicos ao redor de uma mesa planejando o Estado. Voltamos ao tempo da cubata, como lembrou o ministro Edson Vidigal.

A gestão da Seplan, liderada por Aziz Santos, deixou e executava o Planejamento Estratégico interno, o Programa de Capacitação e Aperfeiçoamento dos servidores e Redesenho dos Processos de Gestão, tudo, construído pelos próprios funcionários, longe dos pré-moldados das grandes consultorias.

Da construção coletiva, que buscava ouvir os anseios da sociedade, de toda a população, e transformá-los em programas, projetos e ações factíveis e consistentes, voltamos à ditadura dos iluminados, das grandes consultorias privadas, das ilusões vestidas em documentos vistosos e caros, quando existem – que não cantam nada de sua terra e de sua gente, mas lustram a vaidade e a ambição dos mesmos, dos filhos dos mesmos.

Muitos analistas locais, dizem: em 2010 não tem para ninguém; que a família de volta ao poder é muito competente e sabe divulgar o que não fez, tão bem que parece já feito; que é impossível vencer sem a máquina na mão e com programas como Viva Luz e Viva Água; que sem o apoio do Lula ninguém leva essa; e tantos, tantas análises incisivas e concludentes.

Se o maranhense é capaz de vender sua dignidade pelo pagamento de sua conta de luz e de água, então, estamos mal e fizemos muito pouco para incluir mais gente nesse estado; mas, se o maranhense gostou de singrar por outras águas, sentiu o vento que só sopra aos livres, percebeu e sentiu algo de diferente ao escolher novos dirigentes, verdadeiramente novos, sem os adornos ou a proteção de figuras paternas, temos complexidades que as análises não dão conta.

Não podemos olhar o céu rosado e acreditar que não virá chuva, mas estarmos sempre preparados; nunca parados, mas andantes, caminhantes e apressados, já esperamos muito, muito tempo. Talvez nossa pressa não seja correspondida, compreendida ou mesmo acompanhada, nos cumpre seguir.

Comentários

  1. Almada.
    Não sou de postar comentarios em blogs(so blogues)
    Apreciei muito essas suas observações.Vira sim muita chuva . Meu abraço. Luiz Raimundo de Azevedo

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