Pular para o conteúdo principal

SEGURANÇA PÚBLICA PARA ALÉM DA BALA



Jhonatan Almada, historiador, escreve as sextas-feiras no Jornal Pequeno


Muitos no Maranhão não deram consequência à diretriz do novo governo em relação ao cumprimento da lei. Interesses poderosos começam a se preocupar com os desvios, as bandidagens, a corrupção ampla, geral e irrestrita que implantaram nas últimas décadas. As operações da Polícia que prenderam prefeitos envolvidos com agiotagem e empresários que desviaram milhões da finada Univima sinalizam para a materialidade dessa diretriz. Não é a toa que esses interesses se ajuntam aos intelectuais dos direitos humanos para vilanizar as polícias e a Secretaria de Segurança Pública. Olhos sem luz.

Não há nada desconexo nestes tempos de hipocrisia em rede. As investigações em andamento revelarão muito mais. As mesmas hienas que ululam contra a polícia e os policiais, a secretaria ou o governo, no seu recôndito ser e nas quatro paredes de seus castelos de areia, tremem por antecipação. É necessária muita ignorância para creditar essas vozes que por conveniência enxergam discursos no lugar de ações em andamento.

Os olhos sem luz da província sempre pintam o cenário como turvo, não vislumbram nada no horizonte. A ampliação do efetivo policial é uma medida de impacto no médio prazo para reduzir o déficit, mas não é única. A política de pau e pedra, bala por bala está superada. A política de segurança cidadã desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) trabalha com a causalidade múltipla da violência. Em face disso, propõe conjunto de políticas públicas para enfrentamento dessas causas. Não basta reprimir, fundamental prevenir, reconstruir a confiança nas polícias e a coesão social com a oferta de serviços públicos de qualidade. 

Se nos bairros mais periféricos existe ambiência para a violência, o Estado há que se fazer presente com creche, escola, biblioteca, internet livre, posto de saúde, praças poliesportivas, centros culturais, ruas calçadas, abastecimento de água, coleta de lixo, esgotamento sanitário, iluminação pública, transporte de qualidade, qualificação profissional para o empreendedorismo e a geração de oportunidades de emprego e renda. Essa presença sim. O pontapé que derruba a porta e a mão acintosa que procura arma no corpo destrói a confiança. 

É tolice pensar que esta ou aquela política por ter sido proposta ou implementada em governos anteriores não tem mais validade. É preciso ir além da discordância ou rivalidade pessoal. As políticas públicas precisam ser experimentadas e avaliadas para se formar algum conceito quanto a sua eficácia. A política de segurança cidadã não pôde germinar no Maranhão, não criou raízes, portanto, enquanto metodologia demanda ser reanalisada. 

Nesse sentido, participação cidadã na governança da segurança pública, integração das polícias, uso intensivo de tecnologias e sistemas inteligentes, articulação com a sociedade civil organizada e movimentos sociais, inserção ativa e democrática nas comunidades são caminhos a serem trilhados. 

O Mapa da Violência 2014 aponta duas grandes causas das mortes no Brasil: homicídios e acidentes de transportes. Ao olhar do curto prazo precisamos contrapor o olhar no longo prazo. Não basta o dedo sujo do Velho do Restelo a se escandalizar com o episódico. Os dados dos últimos dez anos (2002-2012) apontam que a taxa de homicídios no Maranhão cresceu 162,4%, perdendo apenas para Bahia (221,6%) e Rio Grande do Norte (229,1%) em todo o país. Evoluímos negativamente de 9,9 para 26 mortes por 100 mil habitantes. A maior queda na taxa de homicídios ocorreu em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, lugares em que a percepção de violência é maior por força da cobertura midiática nacional. 

Observa-se com as medidas iniciais adotadas, certa redução percentual, contudo, o desafio é enorme. Ninguém é insensível à morte, sobretudo quem tem a responsabilidade de garantir a segurança pública. O dever de casa é aprender com quem avançou. Firmar cooperação técnica e reiniciar a experiência de outra política de segurança pública com cidadania. Londres e Nova York, em que pesem casos de excesso com repercussão internacional, são modelos de efetividade sem recorrência significativa ao uso da violência armada. Portugal e Colômbia (Medelín) têm casos de sucesso no combate às drogas. Esse saber é camoniano, de experiência feita. Há que buscá-lo e praticar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,...

A Educação do Brasil

A Educação do Brasil: cinco contrapontos necessários Este livro é fruto de um esforço de sistematização sobre cinco questões relevantes presentes no debate sobre a educação pública do Brasil e que tenho abordado em aulas, conferências e intervenções públicas, sobretudo para estudantes na Universidad Autónoma de Baja California (UABC), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Centro Universitário IESB, Universidade Estadual de Roraima (UERR), Centro Universitário UNDB, Faculdade Santa Luzia e Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Portanto, há uma postura didática na minha escrita para responder às seguintes perguntas: 1. Existe só descontinuidade nas políticas educacionais brasileiras? 2. A infraestrutura escolar não importa para a qualidade do ensino? 3. Sobra recurso e falta gestão na educação pública? 4. A qualidade do ensino se resume aos resultados das avaliações? 5. As escolas militares são solução para os problemas da educação pública? Organizei as respostas para essas p...

Faltam recursos e gestão na educação

É sempre necessário lembrar Celso Furtado quando disse que economia sem ciência social é pura álgebra, assim se pode compreender o texto do economista Marcos Mendes publicado dia 1º de novembro na Folha Mendes se volta contra a expansão da complementação federal ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb, por ter sido supostamente incapaz de entregar resultados melhores em exames como o PISA, avaliação internacional amostral. O aumento da participação federal no Fundeb de 10% para 23% foi previsto pela Emenda do Fundeb permanente em 2020 (EC 108), mas ainda não foi concluído, porque está escalonado para ocorrer paulatinamente de 2021 até 2026. Todavia Marcos Mendes se apressa em avaliar a mudança desde já, como se já estivesse plenamente implementada há décadas. O autor ignora ou deliberadamente desconsidera que reformas educacionais não produzem efeitos imediatos, tampouco são automáticas, porque demandam enraiza...