Pular para o conteúdo principal

O QUE FAZEM OS EX-PRESIDENTES?

Jhonatan Almada, historiador, escreve as sextas-feiras no Jornal Pequeno

Entendo que a Presidência de um país é a mais alta magistratura pública que um político pode almejar em sua história de vida. As altas responsabilidades e a gravidade das decisões tomadas geram um desgaste físico e mental significativo. Os anos de Presidência são mais pesados que todos os anos precedentes. A usual comparação entre a foto da posse e a foto do final de mandato registra em cores brancas o peso do tempo e da história. Há que se respeitar o saber originado da experiência feita e a sabedoria alcançada por alguns que por ali passaram.

Em geral, compreendendo que essa colaboração marca sua biografia, os ex-presidentes resolvem se dedicar a política no sentido amplo, sem partidos ou mandatos. Assumem causas, viajam o mundo, levantam bandeiras internacionais, colaboram com os organismos multilaterais, incentivam e participam do debate dos grandes temas. Furtam-se do jogo do poder, se poupam das paixões dos atores, da disputa por cargos e prebendas. Assumindo posição de referência para o país pela estatura pública adquirida, eventualmente são considerados estadistas.

A criação de fundações, institutos, bibliotecas, escolas ou memoriais é ação adotada quase imediatamente ao término dos mandatos presidenciais. O objetivo é resguardar o acervo acumulado e dar algum retorno à comunidade nacional ou internacional. Essas instituições promovem estudos e pesquisas, realizam eventos, campanhas, organizam e mobilizam o debate público. Doações privadas custeiam sua construção e funcionamento. Afastam o cálice da viúva.

Júlio Maria Sanguinetti presidiu o Uruguai de 1985-1990 e 1995-2000. Após sua saída, fundou o Círculo de Montevideo em 1996, formado por personalidades políticas e intelectuais que discutem novos caminhos para a governança e o desenvolvimento humano na América Latina. Escreve para periódicos, publica livros e ministra conferências.

François Mitterrand foi Presidente da França de 1981 a 1995. Quando deixou o governo, viveu pouco tempo devido ao câncer avançado. Ainda assim se dedicou a algumas viagens internacionais e publicou três livros, um deles tratando das relações entre França e Alemanha. Seus herdeiros se encarregaram de fundar o Instituto François Mitterrand que atualmente preserva seu acervo e promove pesquisa científica.

O Presidente Bush que governou os Estados Unidos de 1989-1993 fundou a Biblioteca e Museu Presidencial George Bush. Publicou livros sobre sua trajetória, a política externa de seu governo, a coleção de suas melhores cartas e um diário sobre sua visita a China. Atua como membro honorário de centros de pesquisa sobre o câncer, realiza campanhas de doação para a caridade e lidera instituição internacional de voluntariado. Por ocasião dos desastres provocados pelo tsunami do sudeste asiático e do furacão Katrina atuou em parceria com o Presidente Clinton para o levantamento de fundos e ajuda internacional aos sobreviventes, bem como, para a recuperação da infraestrutura destruída.
Felipe González foi presidente do Governo da Espanha (equivalente a primeiro-ministro) de 1982 a 1996. Após a saída do governo tem se dedicado a questões de política internacional junto aos países da América Latina e a União Europeia, participando de fóruns, ministrando conferências e liderando grupos de trabalho. Foi um dos fundadores do Club de Madrid, onde participam ex-chefes de estado e governo de vários países. Presidiu o Grupo de Reflexão sobre o futuro da Europa no horizonte de 2020-2030. Publicou inúmeros livros, além de se dedicar a arte do bonsai e da joalheria.

Os exemplos citados contrastam com os ex-presidentes brasileiros. Fernando Collor exerce o mandato de senador e se esforça para apagar o passado do impeachment e da corrupção. Fernando Henrique Cardoso ainda que não tenha mais concorrido à eleição, mantem forte atuação no combate ao PT. Lula reconhecido internacionalmente também continua atuante para manter seu grupo no poder e combater o PSDB. Os dois sem mandatos se engalfinham como se ainda os exercessem, se apequenam, perde o Brasil.


José Sarney foi contemporâneo de Sanguinetti, Bush, Mitterrand e González. Só está sem mandato por que não teve condições políticas para concorrer e ganhar a última eleição. Não os seguiu em nada. Ataca os adversários políticos, pede cargos para os aliados e se dedica diuturnamente a boicotar o atual governo do Maranhão. Cresceria em estatura e limparia sua biografia portando-se de forma mais republicana. Menos Carlos Lacerda, mais Juscelino. Trocar o fuzil pelo ramo de oliveira.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,...

Jackson Lago - uma biografia para o nosso tempo

JACKSON LAGO uma biografia para o nosso tempo [1] O Grupo Escolar Oscar Galvão e o Colégio Professor Vidigal ainda estão lá, em Pedreiras, como testemunhas vivas a guardar memórias desse maranhense exemplar aí nascido em 01/11/1934. Estruturava-se, então, uma rara vocação de serviço e servidor público, sua marca indelével por toda a vida. De Pedreiras a São Luís, onde freqüentou o prestigiado Colégio Maristas, Jackson Lago foi amadurecendo, mesmo que adolescente, sua aprendizagem de mundo e seu convívio humano e cultural com a admirada Atenas Brasileira. Vocacionado a servir e a salvar vidas, formou-se médico cirurgião na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, aprimorando-se também na residência médica do Departamento de Doenças Pulmonares da Policlínica Geral da Cidade do Rio, então Capital político-administrativa e cultural do Brasil. Com a alma encharcada de chão das vivências da saga do arroz e d...

A Educação do Brasil

A Educação do Brasil: cinco contrapontos necessários Este livro é fruto de um esforço de sistematização sobre cinco questões relevantes presentes no debate sobre a educação pública do Brasil e que tenho abordado em aulas, conferências e intervenções públicas, sobretudo para estudantes na Universidad Autónoma de Baja California (UABC), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Centro Universitário IESB, Universidade Estadual de Roraima (UERR), Centro Universitário UNDB, Faculdade Santa Luzia e Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Portanto, há uma postura didática na minha escrita para responder às seguintes perguntas: 1. Existe só descontinuidade nas políticas educacionais brasileiras? 2. A infraestrutura escolar não importa para a qualidade do ensino? 3. Sobra recurso e falta gestão na educação pública? 4. A qualidade do ensino se resume aos resultados das avaliações? 5. As escolas militares são solução para os problemas da educação pública? Organizei as respostas para essas p...