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REGULAÇÃO ECONÔMICA DAS MÍDIAS



Jhonatan Almada, historiador, escreve as sextas-feiras no Jornal Pequeno


As mídias no Maranhão pertencem a famílias locais que exercem a política profissional.  O Grupo Difusora pertence aos Lobão, o Grupo Mirante pertence aos Sarney e por aí vai. Essa informação parece óbvio, mas precisa ser permanentemente lembrada. Nada, nada mesmo, sai ou sairá nos jornais, rádios, tv, sites e blogs vinculados a esses grupo que não seja do estrito interesse dos seus donos. Não há liberdade de imprensa nesses veículos, existe a verdade dos donos. Não há credibilidade da informação, existe a falsificação dos donos. Creio que os profissionais que aí trabalham, mesmo contaminados pelas paixões políticas dos donos, devem ser respeitados. Isso significa que a informação que levam deve ser questionada por todos os meios legais e tecnológicos disponíveis para que o público tenha acesso aos fatos de forma mais fidedigna.

O italiano Antonio Gramsci (1891-1937) analisando os jornais burgueses afirmou que “aquela folha de quatro ou seis páginas que todas as manhãs ou todas as tardes vai injetar no espírito do leitor os modos de sentir e de julgar os fatos da atualidade política que mais convém aos produtores e vendedores de papel impresso”. Assistimos sem perplexidade alguma a desconstrução dos fatos relativos ao atual governo em injeções diárias. Em outras palavras Gramsci desnudou uma situação que é pujante e presente, sem mencionar, quando o “jornal burguês ou cala, ou deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público trabalhador”. Silêncios, deturpações, falsificações, enganos, ilusões e ignorâncias tem sido o cardápio cotidiano dos meios de comunicação em crise de abstinência de recursos públicos que antes preenchiam suas narinas.

É fundamental entender que esse poder de pauta impõe debates infecundos. Nunca se apontam as soluções, apenas ressaltam-se os problemas em cores e tons ampliados. O Maranhão tem uma agenda de ações a executar. Agenda voltada para o enfrentamento de problemas cruciais, como a exclusão social, os péssimos indicadores, a precariedade econômica, as carências de infraestrutura, o atraso educacional e científico, os escassos serviços públicos essenciais. Essa é uma agenda que vale a mobilização popular buscando criticar e aperfeiçoar o programa de governo em andamento.

O agravamento da situação climática do mundo, o acirramento extremista no Oriente Médio, a criação do Banco dos BRICS, a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos, as sanções econômicas contra a Rússia, os avanços tecnológicos da China, o fato de termos brasileiros chefiando organismos relevantes como a OMC e a FAO, tudo isso é obstaculizado, omitido ou escamoteado. A vida familiar da realeza britânica invadindo nossas casas com boletins sobre casamento, gravidez, nascimento, sexo e batismo soma-se à pequenez do presidente da Câmara dos Deputados, o retrocesso de uma reforma política autoritária e inconstitucional, a pauta bíblica-medieval dos evangélicos no Congresso Nacional, a troca de cargos no Poder Executivo e as negociatas do incansável José Sarney para manter cargos federais. Essas são as pautas impostas por uma mídia que se move conforme os interesses dos donos e se distancia completamente do sentido público dessas concessões.

A América Latina praticamente inexiste na mídia brasileira, como se nenhum fato relevante ocorresse nas dezenas de países do continente. Exemplifico com uma notícia do Chile. A Fundação Pablo Neruda lançou nota em que reivindica o sepultamento do corpo do poeta. Ele foi exumado dia 8 de abril de 2013 para subsidiar investigações quanto à sua morte, com a suspeita de ter sido assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet. Já se vão mais de dois anos sem que as investigações sejam concluídas e sem que a justiça se pronuncie. A nota cita trecho das Disposições do livro Canto Geral onde o poeta pede “Companheiros, enterrem-me em Isla Negra, frente ao mar que conheço”. 

A regulação econômica das mídias precisa avançar no Congresso Nacional para que os fatos não fiquem sepultados ao sabor dos interesses familiares que controlam os meios de comunicação do Brasil e do Maranhão. Não se trata de limitar ou regular a liberdade de imprensa, mas de coibir a prática de monopólio da verdade, hoje quase naturalizado. Que a lenta justiça chilena, irmã em velocidade da brasileira, possa devolver o poeta ao descanso!

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