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O BRASIL E O COMPLEXO DE VIRA-LATAS



Jhonatan Almada, historiador, escreve as sextas-feiras no Jornal Pequeno


Nelson Rodrigues ao cunhar o termo “complexo de vira-latas”, em uma de suas crônicas, quis caracterizar a inferioridade do brasileiro em relação ao resto do mundo. Temos uma grande dificuldade de reconhecer nossa potencialidade, nossas fortalezas. Em geral nos deixamos perder no curto prazo, colhidos pela violência e corrupção. Por um lado, o pessimismo mais obtuso, de outro, a esperança mais frenética, diria Nelson Rodrigues. Penso que o pessimismo tem dominado. A esperança está no banco de reservas. 

O “complexo de vira-latas” foi relembrado pelo sociólogo Domenico de Masi, em recente entrevista na Folha de São Paulo. Segundo ele, ao conversar com intelectuais brasileiros sobre o Brasil em 2025, a maioria apresentou uma visão pessimista quanto ao futuro. Ao serem confrontados com os dados econômicos e sociais das últimas décadas e a posição ocupada pelo país em relação à Itália e a Inglaterra, por exemplo, os intelectuais reviam suas opiniões. Aqui, conclui Domenico de Masi, os intelectuais se enxergam como Terceiro Mundo, no sentido mesmo de inferioridade em relação ao Primeiro Mundo.

Inobstante sabermos que os problemas brasileiros são históricos e mais amplos, sendo que muitos ocorrem não só aqui, mas em inúmeros outros países de forma agravada, Nelson Rodrigues dizia que nosso problema é de fé em si mesmo. Apesar da conjuntura política tortuosa e retrógrada, o Brasil e os brasileiros são maiores que a elite dirigente ou a direita golpista. É impensável que 200 milhões de pessoas ficarão sentados na calçada com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte. Temos capacidade e fôlego para consolidar nossa posição global e avançar naquilo que estamos mais atrasados, sobretudo no campo da educação e da ciência. 

Precisamos do realismo esperançoso de Ariano Suassuna para não sucumbir ao pessimismo mais obtuso. Todos os anos em que a avaliação do PISA, aplicada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é divulgada, temos as mesmas discussões sobre a qualidade da educação. O PISA foca o aprendizado de leitura, ciências e matemática. Ocupam as primeiras posições, China, Cingapura Coréia do Sul e Japão. Quando buscamos identificar explicações para isso, novamente, destacam-se os investimentos elevados em educação, pesquisa e desenvolvimento desses países, o currículo mais racional, o intercâmbio internacional de professores e estudantes, a existência de grupos de estudo e pesquisa no âmbito das redes escolares, salários mais elevados e condições de trabalho para os professores.

O debate no Brasil se reduz a elevação do investimento, não se toca no currículo ou na organização escolar. O documento Pátria Educadora, elaborado por Mangabeira Unger foi atacado pela sociedade civil organizada, sem qualquer discussão do mérito da proposta. Continuamos com uma visão equivocada: ensinar tudo em 3 anos de ensino médio de forma generalista e com baixíssima eficácia. Os estudantes que conseguem concluir o ensino médio chegam ao ensino superior com enormes lacunas em termos de leitura e raciocínio lógico-matemático, obrigando as instituições de ensino a suplementar a formação básica. 

O Brasil é extremamente injusto e desigual, mas pode e precisa avançar. O Maranhão ainda está corrigindo problemas de infraestrutura de suas escolas. O Programa “Escola Digna” do atual governo tem esse objetivo em relação às escolas dos municípios, em geral, a rede mais precarizada. A rede do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia (IEMA) objetiva suprir uma infraestrutura atualmente inexistente com a construção de unidades para a oferta de cursos técnicos e tecnológicos. Em paralelo, construiremos um novo currículo para o ensino médio que permitirá à nova rede do IEMA ensinar com qualidade e formar com efetividade. Estamos plantando no curto prazo para colher nas próximas décadas. O Maranhão será um Brasil que dá certo.

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