PREFÁCIO - O MARANHÃO, AS MAIORIAS HETEROGÊNEAS E A SUA SAGA PELO DIREITO AO DESENVOLVIMENTO - DO LIVRO "A ALTERNÂNCIA DO PODER NO MARANHÃO" DE JHONATAN ALMADA
Elias Jabbour*
Foi com imensa honra, e uma ponta de orgulho, que
recebi o convite de meu amigo Jhonatan Almada para prefaciar este livro.
Existem coisas que tocam na alma da gente. Escrever sobre as possibilidades de
desenvolvimento de uma unidade da federação como o Maranhão não é uma tarefa
simples. Porém, a tendência ao simplismo é imensa. Não se trata do estado com
péssimos índices econômicos e sociais, uma parte do Brasil condenada à Idade da
Pedra.
Prefiro não enxergar o processo desta forma. Tenho
clareza que a primeira tarefa do novo governo é não tocar adiante o Maranhão
partindo do que ele contém de atraso. Sim, existe atraso. Muito atraso. Mas.
Existe dinamismo. Um dinamismo expressado, também nas urnas. Um povo capaz de
eleger um Flavio Dino de Castro e Costa para comandar o seu destino não pode
ser um povo qualquer. É um povo especial. Um povo que expressou nas urnas as
leis econômicas capazes de transformar atraso em dinamismo. Capaz de construir
uma difícil transição do velho ao novo.
O destino de qualquer povo que expressa o exercício
do direito ao desenvolvimento e de planificar este mesmo desenvolvimento em
lugares com seus dramáticos contornos políticos. Com o Maranhão não será
diferente. O velho pode cair de maduro. E sua resistência não será pequena. Neste
cenário, o novo governo, ao maturar uma ampla aliança deu seu “passo um” para
ter êxito: acertar na política.
Um quadro político numa teia de complexidades
encerrada, tanto no Brasil quanto no Maranhão demanda compreender uma lei
objetiva da política em formações sociais
complexas. A base material deve
ter expressão na superestrutura. Uma
única força política não consegue levar adiante nem imediatos, nem tampouco
estratégicos. Não tenho dúvidas que o Maranhão de Flávio Dino não é exceção do
resto do Brasil.
Compreender como as coisas funcionam, de fato,
demanda uma visão de processo histórico.
É saber que as chamadas maiorias
heterogêneas e seu significado expressa a necessidade de nos colocarmos
sempre acima de nossa condição de esquerda. Desta forma trocamos o abstrato
(visão ideologizada) pela abstração
(visão de processo histórico). É
pensar grande exercendo em último grau o exercício da inteligência. Ou
percebe-se isso ou nos condenaremos à morte política. Não é comum escolher a
segunda opção. Inclusive por acreditar que a oligarquia está morta. O novo está condenado a conviver com o velho. A proscrever, na política, o
velho que ainda sobreviverá – sobretudo na máquina feudal do estado maranhense.
Daí a noção de construção de uma difícil transição. O povo do Maranhão está
apenas começando sua saga pelo direito ao desenvolvimento. Não nos iludamos.
Neste sentido, quis o Brasil que o Maranhão
produzisse, na esteira do mais completo pensador brasileiro do século XX, o
maranhense Ignacio Rangel, uma figura chamada Flavio Dino. Entre trabalhar com
uma clara visão de processo histórico
e a morte política por insuficiência de cérebro, escolheu o primeiro. Falar
dele é uma honra ímpar. Trata-se de um amigo que já passou da esfera do
pessoal. O conheci em minha primeira passagem por Brasília, na assessoria
econômica da Presidência da Câmara dos Deputados. O que era comum a quem o
conhecia há muito tempo, ficou claro a mim logo no primeiro apertar de mãos. O
Dino é conhecido em seu meio. Pensamento rápido, uma impressionante capacidade
de articular ideias e construir a unidade
na heterogeneidade.
Homem de humanismo límpido. Humanismo este
expressado na sua habilidade de transformar a dialética em algo simples. Nunca
sendo simplista. Sabia, após o nosso primeiro contato, que estava diante de um
gigante político e pessoal. Ser-humano de estirpe diferenciada. Longe de ser
alguém letal, típico do meio. Flávio Dino, 42 anos de idade. Juiz de direito,
deputado federal filho do nobre deputado Sálvio Dino, que teve seu mandato
cassado pela ditadura militar. Ditadura esta, em cujos quadros de sustentação esteve
o maior inimigo do progresso do Maranhão.
Flávio Dino é um “marxista cristão”, no melhor
sentido que o termo pode revelar. Com uma obstinação única, colocou em suas
costas o desafio de livrar o Maranhão – de uma vez por todas – das raias da
miséria e da degradação política e social. Flávio Dino encarna o mesmo espírito
da geração de Ignacio Rangel. Um Brasil que começava a tomar o destino em suas
mãos. Como Sérgio Buarque de Hollanda e Gilberto Freyre, Rangel era de uma
geração fascinada pelo Brasil novo que nascia com a Revolução de 1930,
encabeçada pelo patriota e estadista Getúlio Vargas. A única diferença está na historicidade: Flavio Dino é expressão
da Revolução Democrática iniciada por Luís Inácio Lula da Silva em 2003.
A Revolução Democrática no Maranhão começou. Li
algo sobre a prioridade imediata do novo governo em trabalhar medidas profundas
de corte social. Um outro golpe sobre a oligarquia, sem dúvidas. Isso deve ser
apenas o começo. O Maranhão, como o próprio Brasil, necessita de um projeto
estratégico capaz de ao mesmo tempo reunir toda inteligência humana possível,
além de empolgar a todos com uma perspectiva mínima de futuro. E o futuro
deverá ter como norte a paz, a paz social. E a paz não floresce na desigualdade
e na pilhagem de uns poucos sobre a grande massa de trabalhadores. Não floresce
em meio a ignorância generalizada. A paz é um imperativo do desenvolvimento e
de nossa capacidade de lutar pelo direito a ter esse desenvolvimento.
Por fim, algumas palavras sobre um projeto estratégico
de desenvolvimento ao Maranhão. Em primeiro lugar, devemos perceber a base de
poder da oligarquia. Trata-se de uma base de poder incrustrada no seio do
aparelho de Estado. A batalha neste campo é mais tortuosa. Não se trata apenas
de desalojar da noite para o dia essa gente do aparelho estatal. A oligarquia
só é oligarquia por ter perdido completamente o sentido da separação entre o
público, o privado e o papel da pessoalidade
no trato entre o poder interno. O desenvolvimento deveria ser postergado ao
infinito, pois o surgimento de um empresariado local corresponderia a uma
grande ameaça ao status quo reinante.
O desafio imediato é de criar condições objetivas à
criação de condições ao surgimento de um ambiente propício ao investimento
privado no Estado. Além disso, criar condições – também – ao surgimento de um
empresário local, maranhense. E esse empresário a surgir nas entranhas da
Revolução Democrática deverá ter amplo apoio de agências de fomento locais, um
mínimo de crédito para tocar seus pequenos, médios e grandes negócios. O estado
ao criar as condições propícias a isso, estará – na ponta do processo – dando o
“beijo da mulher aranha” na oligarquia. É, na prática, um poderoso exercício de
GRANDE POLÍTICA, colocar no centro do processo a criação de um ambiente
propício e capaz de gerar empregos suficientes para transformar o aparelho
estatal em algo única e exclusivamente voltado à administração de grandes
projetos de cunho social e inclusivo.
Por
fim, aqui pelas bandas cariocas, estarei torcendo pelo êxito absoluto deste
novo governo. O Brasil nunca precisou de tanta luz, de ideias novas, inovações
e certa contundência. A novidade sempre vem do Nordeste. E é nesta espetacular
e dinâmica região do Brasil que cá estou a apostar todas as minhas fichas. “A
certeza é certa”. Acredito piamente que as coisas devem se arranjar. Não
partindo de uma “rebelião do desejo”. Mas, de uma ciência. Força a Flávio Dino
e ao povo do Maranhão, a quem subscrevo este prefácio pela coragem e ousadia
que vocês demonstraram no dia 5 de outubro último.
*
Doutor e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP. Professor Adjunto da
Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado de Rio de Janeiro
(FCE-UERJ) e membro do Comitê Central do PCdoB.
Prefácio do livro "A alternância do poder no Maranhão: temas de um projeto político pós-Sarney". Este livro pode ser adquirido nas seguintes livrarias virtuais:
Perse (E-book pdf e Impresso)
Amazon (E-book)
Kobo (E-book)
Comentários
Postar um comentário