Pular para o conteúdo principal

CABO DE GUERRA

A polarização política tem atrapalhado o Brasil no enfrentamento de suas agendas históricas e urgentes. O país se vê paralisado como Nação. Quem deve liderar o país é o Presidente da República, algo que infelizmente não está ocorrendo e não por problemas externos ou internos, mas pela inabilidade do líder.

Ignorância exacerbada ou inteligência explicitada para não causarem autodestruição exigem humildade e escuta. Humildade para reconhecer que na nossa incompletude precisamos de muitos outros para nos auxiliar no aprendizado da vida. Escuta para ouvir a todos com justiça e assim decidir com equidade.

Humildade e escuta estão em falta na República que se tornou uma fábrica de heróis, não como na mitologia grega, mas algo como Roque Santeiro, sabendo a verdade preferiram a mentira por ser cômoda aos interesses estabelecidos. Eis um traço dramático do brasileiro, percorre sua história em busca de novos heróis e não enxerga a si mesmo como fortaleza de soluções.

A Revolução de 1930 comandada por Getúlio Vargas derrubou a política dos governadores que era assentada na alternância de Minas Gerais e São Paulo no exercício do cargo de Presidente, na descentralização do poder e nos partidos regionais. Essa prática política equivocada retardou nosso ingresso na modernidade durante as primeiras décadas do século XX. Os vitoriosos de 30 chamaram de República Velha e criaram as bases do Estado nacional contemporâneo.

A pandemia do coronavírus não é um problema de esquerda ou de direita, mas se agrava ao ser tomado pelo espectro político. Ao Presidente da República por mais poderoso que seja não cabe questionar evidências científicas. Bastava ver que o mundo reconhece a pandemia e tem seguido as recomendações da Organização Mundial de Saúde-OMS.

Persistindo nesse comportamento, o vácuo de liderança está sendo ocupado pelos governadores, algo positivo quando nos atemos ao problema do coronavírus. As chances de sobrevivermos a essa pandemia tem vindo do trabalho dos Estados, a eles todos os elogios. Por outro lado, passado esse gravíssimo problema de saúde pública, precisamos refletir sobre caminhos mais sustentáveis politicamente.

Tenho defendido o parlamentarismo como possível caminho. A longa estabilidade política do Império e a experiência parlamentarista no Governo João Goulart podem nos ensinar algo, ressalto, essas lições precisam ser atualizadas à luz do presente, sobretudo analisando as fissuras no pacto federativo que aumentaram com a crise econômica.

A questão é saber se o atual Presidente é de fato o centro de todos os problemas de governança e governabilidade. “Fraco rei, faz fraca a forte gente” diria Camões, se isso é verdadeiro, não é possível mantê-lo. Não sendo, como está não deve ficar.

No entanto, o cabo de guerra entre Presidente e Governadores não é bom para ninguém. Atrapalha a definição de projeto nacional de desenvolvimento e impõe agendas regionais limitadas que fragilizam o Estado-Nação. Estamos nos aproximando do Bicentenário da Independência em 2022 e não desejo um país dividido para as próximas gerações.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,...

A Educação do Brasil

A Educação do Brasil: cinco contrapontos necessários Este livro é fruto de um esforço de sistematização sobre cinco questões relevantes presentes no debate sobre a educação pública do Brasil e que tenho abordado em aulas, conferências e intervenções públicas, sobretudo para estudantes na Universidad Autónoma de Baja California (UABC), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Centro Universitário IESB, Universidade Estadual de Roraima (UERR), Centro Universitário UNDB, Faculdade Santa Luzia e Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Portanto, há uma postura didática na minha escrita para responder às seguintes perguntas: 1. Existe só descontinuidade nas políticas educacionais brasileiras? 2. A infraestrutura escolar não importa para a qualidade do ensino? 3. Sobra recurso e falta gestão na educação pública? 4. A qualidade do ensino se resume aos resultados das avaliações? 5. As escolas militares são solução para os problemas da educação pública? Organizei as respostas para essas p...

Faltam recursos e gestão na educação

É sempre necessário lembrar Celso Furtado quando disse que economia sem ciência social é pura álgebra, assim se pode compreender o texto do economista Marcos Mendes publicado dia 1º de novembro na Folha Mendes se volta contra a expansão da complementação federal ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb, por ter sido supostamente incapaz de entregar resultados melhores em exames como o PISA, avaliação internacional amostral. O aumento da participação federal no Fundeb de 10% para 23% foi previsto pela Emenda do Fundeb permanente em 2020 (EC 108), mas ainda não foi concluído, porque está escalonado para ocorrer paulatinamente de 2021 até 2026. Todavia Marcos Mendes se apressa em avaliar a mudança desde já, como se já estivesse plenamente implementada há décadas. O autor ignora ou deliberadamente desconsidera que reformas educacionais não produzem efeitos imediatos, tampouco são automáticas, porque demandam enraiza...