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REMOVENDO MONTANHAS

O primeiro semestre de 2019 caminha para seu final e o país continua paralisado, sobretudo em políticas públicas fundamentais como educação. A aposta na memória curta do brasileiro e na mitificação produzida pela política nos fazem refém dos retumbantes do momento, ignorando que as mudanças estruturais e sustentáveis dependem de tempo, planejamento e continuidade, acaso não foi assim na Coréia do Sul arrasada pela guerra, na China por séculos explorada pelas potências ocidentais ou no Uruguai após a ditadura militar?

Os chineses contam a história de um velho que removeu as montanhas, chamavam-no de Velho Tonto das Montanhas do Norte, de tonto não tinha nada, era experiente, caçador, agricultor, marceneiro, carpinteiro, pedreiro, além de ser um líder honesto e sem ardis. As terras em que trabalhava estavam ficando insuficientes para o sustento da família, as dificuldades se agravavam por serem terras no sopé de duas montanhas, ou seja, com pedras por remover e canais por escavar para torná-las agricultáveis.

O Velho Tonto reuniu a numerosa família e comunicou sua decisão de remover as montanhas. A sua mulher alertou que ele já estava bastante idoso, não teria tempo e questionou onde iriam colocar os pedregulhos retirados. Os filhos e netos lembraram que eram jovens e poderiam continuar o trabalho, além de arremessarem os pedregulhos ao mar.

Iniciada a tarefa, vizinhos e moradores de outras aldeias vieram se juntar a eles. Vendo essa árdua labuta, um homem a quem chamavam de Velho Sábio riu do Velho Tonto afirmando que aquilo era impossível. O Velho Tonto respondeu que “quando eu morrer ficarão os meus filhos e netos, e assim se sucederão infindavelmente as gerações. Quanto a estas montanhas, são muito altas, mas já não podem crescer”. E assim eles prosseguiram, incansavelmente, dia após dia.

Juventude e maturidade são necessárias para levar à frente os grandes desafios do Brasil, as experiências do passado e as novidades do presente. Infelizmente, os espíritos partidos nos atrapalham, os facciosos dos extremos e seus milicianos digitais confundem corações e mentes, dividem, fazendo a pequenez nublar a vista para a grandeza.

O Bicentenário da Independência do Brasil será em 2022, deveríamos estar empenhados em formular metas ambiciosas, colocar nossa educação em patamares de excelência com equidade, consolidarmos nossos programas de ciência, tecnologia e inovação, superar os déficits de moradia, saúde e saneamento, fortalecermos nossas empresas, enfim, termos um projeto suprapartidário de país. Eis algo que valeria a pena.

Atravessamos uma ponte de ilusões que nos prometia o crescimento econômico, a geração de empregos e o desenvolvimento, no outro lado dela, mitos daqui e dacolá nos receberam de braços abertos sem a menor ideia de como cumprir o prometido. Fico preocupado com falsas problematizações guiarem a tomada de decisões, não tenho paciência com elas. Perdemos tempo, recurso escasso e não renovável. Os problemas existem e estão aí, a perfeição não está nesse plano, nos cabe usar de inteligência e perseverança para resolvê-los, darmos cabo deles. Não é lavrar o sopé das montanhas como trabalho de Sísifo, mas sim removê-las.

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