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OS OITO ANJOS DO GOVERNANTE

Concluí em outubro de 2018 curso do Programa Regional de Planejamento e Gestão de Políticas Educativas realizado no Instituto Internacional de Planejamento da Educação da UNESCO, para o qual fui aprovado após rigorosa seleção. Juntamente com colegas de 19 países da América Latina nos aperfeiçoamos em métodos, técnicas e práticas com professores, pesquisadores e gestores de alto nível que ampliaram nossa visão sobre os efetivos problemas educacionais latino-americanos e suas possíveis soluções.

Mais de 500 profissionais do continente participaram desse Programa, minha turma fundou a Rede de Planificadores de Latinoamerica-RedPEL(www.redpel.org) com o objetivo de criar, compartilhar e promover ideias que fortaleçam a luta pela qualidade e busca pela excelência na educação pública.

O economista Carlos Matus (1931-1998) continua sendo referência no marco teórico que utilizamos, seu planejamento estratégico situacional orientou nossas análises sobre o fenômeno educacional. Um dos livros mais famosos de Matus se chama “Adeus Senhor Presidente” em que apresenta sua teoria do planejamento construída a partir da experiência do Governo Salvador Allende no Chile, do qual foi Ministro da Economia e presidente do Banco Central.

A metáfora dos anjos é uma das utilizadas por Matus para explicar os desafios de um governo e por consequência dos governantes. São oito anjos e oito passos da via crucis de um governo:

“1. O anjo da trombeta marca o tempo até o juízo final; todos os dias nos diz, olhando ao longe: Mais dia, menos dia, chegará o final. Tu és mortal!

2. O anjo das uvas grita angustiado: Quantos puderam, como tu, comer neste dia? Quantos ficaram sem comida? O que comes sem necessidade, roubas do estômago dos pobres.

3. O anjo da mofa nos adverte: Não abuses do poder, o poder corrompe. Mais vale toda a vida de homem que seis anos como governante; a arbitrariedade é corrupção.

4. O anjo do sexo anuncia: Não tens vida privada, toda a tua vida é pública.

5. O anjo do livro proclama: Primeiro a educação, tudo depende do investimento em saber, é daí que provêm todas as desigualdades.

6. O anjo acusador aponta, severo: Deves prestar contas perante o povo e ante tua consciência.

7. O anjo sonhador aconselha: Põe teu olhar nas alturas, sonha com o futuro, não te deixes apanhar nas mesquinharias do governo

8. O anjo da clemência sussurra: Sê humilde e generoso, esquece os ódios e lembra teus compromissos; teu poder é emprestado do povo.

A mosca que acompanha os anjos aconselha: Eu vivo, não penso; não posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Essa é a minha vantagem!”.

A metáfora se refere a virtudes e valores importantes para que se governe o povo, a temperança, a prudência, o conselho, a capacidade de definir prioridades, a dimensão do sonho, a transparência, o equilíbrio, o senso de proporção e tempo. O desafio central é ser capaz de pensar e fazer, não apenas viver o fluxo de problemas e demandas que se apresentam a cada momento.

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