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PORQUE ATACAM O PROGRAMA ESCOLA DIGNA?

Jhonatan Almada, Reitor do IEMA e ex-Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação


As crianças do Povoado Peritoró dos Pretos não podem estudar o sistema solar como as crianças das escolas particulares da capital?

O problema educacional brasileiro, ao contrário do que muitos afirmam não se reduz à qualidade do ensino. Temos problemas ligados ao acesso (ausência de vagas em creche, pré-escola e no ensino médio), a permanência (evasão no ensino fundamental e ensino médio), ao aprendizado (baixa proficiência de português, matemática e ciências) e ao sucesso escolar (poucos concluem e progridem entre as etapas). Esse é um resumo da situação brasileira que se agrava ou se repete nos estados e municípios.

Todos os anos os sistemas federal, estaduais e municipais de ensino investem bilhões de reais em salários, equipamentos e formações. É possível questionar o monitoramento dos resultados e da qualidade desses investimentos, mas não o fato deles acontecerem. Os principais diferenciais do governo Flávio Dino no que se refere à educação dizem respeito ao salário inicial para o professor com 40 horas semanais (R$ 5.750, o maior do Brasil); a concessão de milhares de promoções e progressões onde antes os servidores morriam sem receber; a reforma de todas as escolas estaduais (750 já concluídas); a construção de escolas estaduais e municipais onde não existiam ou onde eram precárias; a criação da rede de escolas de tempo integral; e a implantação da rede profissionalizante do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA).

A baixa escolaridade é um problema brasileiro há décadas. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU), o brasileiro estuda em média 7,8 anos e está bem atrás da Argentina (9,9 anos), Estados Unidos (12,4 anos) ou Alemanha (12,2 anos). O Maranhão não resolveu a baixa escolaridade no Governo Sarney, segundo o IPEA, em 1970 a média de anos de estudo do maranhense era de 0,4. Exatamente o que você leu não chegávamos a 1 ano completo de estudos. Alguém poderia argumentar que o investimento realizado pelo Governo Sarney traria resultados 20 anos depois, veja, em 1980 essa escolaridade era de 1,1 anos. 

Fica claro que da afirmaçãoo Estado inteiro foi coberto de escolas, simples, mas eficientes”, bem como, do conteúdo global do recente artigo de José Sarney, nada sobra de verdadeiro. As escolas não eram simples, eram de palha e barro, multisseriadas e incapazes de fazer as crianças aprenderem. Essas mesmas escolas que hoje o programa Escola Digna está substituindo, 50 anos depois. As escolas não eram eficientes, basta ver os dados de escolaridade, basta ouvir os depoimentos dos estudantes e professores que estudam em escolas com tais condições. Precariedade e indignidade não são sinônimas de simples.

Apresento um comentário sobre a educação no Governo Sarney. O então Secretário de Educação, Coronel Andrade afirmou: “Deixei a Secretaria de Educação por não poder fazer uma educação séria no Maranhão. Não há política educacional séria”, depoimento que consta na pesquisa de Maria Núbia Bonfim sobre aquele período. Por que o próprio Secretário questionava a seriedade do Governo em educação? Porque os ginásios foram implantados sem quadro de professores para ministrarem as aulas e em estruturas improvisadas; as escolas eram de barro e palha; as quatro faculdades criadas não tinham professores suficientes na área de formação dos cursos superiores abertos e nem se tocou no analfabetismo (59,55% em 1970).

É fato que o Maranhão foi pioneiro na criação de uma TV Educativa. Entretanto, essa experiência nunca foi consistentemente avaliada, ela goza um sucesso autorreferente. É mais lamentável que Sarney não reconheça ser uma ideia tomada de Renato Archer. Em depoimento ao CPDOC/FGV, Renato afirmou que “para as condições peculiares do Maranhão, eu propus um programa de governo que Sarney, muito tranquilamente, adotou na íntegra”. Frise-se “na íntegra”. As ideias foram copiadas e apresentadas como se do Governo Sarney fossem.

Atacam o programa Escola Digna do Governo Flávio Dino porque se incomodam pelo nosso combate a herança maldita que nos deixaram. Não aceitam que se faça uma escola bonita e equipada, não aceitam que os professores sejam capacitados de verdade, não aceitam que o Maranhão melhore seus indicadores educacionais. Reconheça-se a beleza do João de Barro, mas sua casa é de passarinho não de gente. Só acha escola de palha e barro eficiente quem não entende de educação ou pensa que os outros são bobos. 

As crianças do Povoado Peritoró dos Pretos tem o direito de estudar o sistema solar como as crianças das escolas particulares da capital.

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