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GERALDO ALCKMIN E O CEMITÉRIO DE ESPERANÇAS

Jhonatan Almada, Reitor do IEMA e ex-Secretário de CIência, Tecnologia e Inovação


Pensar caminhos para o desenvolvimento do Brasil é um desafio permanente e reposto a cada nova conjuntura político-eleitoral. Não conseguimos ir muito além de quatro anos, faz parte da nossa cultura política. China e Índia tocam seus planos quinquenais de forma ininterrupta há décadas, alcançando indicadores de crescimento econômico e desenvolvimento tecnológico expressivos.
Li a entrevista do presidenciável Geraldo Alckmin para a Folha de São Paulo e busquei identificar que propostas ele trará para o país em seu programa de governo. Um dos destaques foi gerar crescimento para reduzir as desigualdades, creio que será o tópico central. E como fazer isso? Segundo ele, o investimento em infraestrutura para ativar a construção civil injetando "emprego na veia": estrada, ferrovia, metrô, saneamento e habitação.
Sempre fico perplexo quando se discute propostas para o desenvolvimento e excluem educação, ciência, tecnologia e inovação, aspectos centrais do planejamento de China e Índia, para ficar no exemplo citado. Não há desenvolvimento sustentável sem educação, ciência, tecnologia e inovação. Talvez essa especificidade da cultura política nacional se justifique pela ignorância patente sobre os sentidos e conquistas de tal priorização, o alheamento da própria Universidade em não conseguir verbalizar o que faz e porque faz, a incapacidade da comunidade científica de expor resultados e sua contribuição para sociedade.
A educação sem ciência não desenvolve nada, se restringe à reprodução do existente. Ciência sem educação não desenvolve nada, o conhecimento fica isolado em uma única geração de privilegiados. Sem a articulação dessas dimensões à economia, o capital humano é absorvido pelos centros de capitalismo avançado e esse conhecimento é transformado em inovação para as empresas desses países.  

Os movimentos enquanto governador de São Paulo explicam esse ignorar a educação e ciência no discurso de presidenciável. O movimento para reduzir o percentual constitucional repassado à FAPESP, a violência contra os professores grevistas, os baixos salários pagos aos profissionais da educação e a crítica pública feita às pesquisas sem utilidade prática.
Listar um conjunto de realizações na área de educação e ciência de Geraldo Alckmin para contrapor o que estou afirmando não resolve. Não basta fazer muitas coisas, o cerne é em que medida elas tem coerência quanto ao objetivo de crescer com sustentabilidade e inclusão social. Os quantitativos podem impressionar, mas se olharmos para o histórico das políticas públicas dos últimos 50 anos, todos os governos tem quantitativos para apresentar.
Os Centros de Atenção Integral à Criança-CAIC criados pelo Governo Collor de Melo no início dos anos 1990 são exemplo cristalino de como desperdiçar dinheiro e não ver continuidade de uma política pública acertadíssima. Os CAICs são cemitérios de esperanças, abandonados, subutilizados, invadidos ou desviados de sua função original. Esqueceram de garantir o financiamento dos Centros (não existia Fundef ou Fundeb) e não combinaram institucionalmente o jogo de longo prazo com estados e municípios.

Lançar um programa de governo implica em deixar claro qual projeto de país se está defendendo e impedir que as agendas provisórias dos governantes decepcionem as esperanças inesgotáveis do povo brasileiro.

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