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ENFRENTAR AS DESIGUALDADES EDUCACIONAIS

As desigualdades educacionais são um problema central em qualquer nível de ensino que tendem a se estender da educação básica à educação superior. Penso especialmente nas redes públicas e como esses estudantes ao longo de sua trajetória enfrentam percalços poderosos que podem interromper abruptamente seu caminho ou dificultá-lo.

Os diferentes níveis de aprendizado em português e matemática são o exemplo mais conhecido quando abordamos as redes públicas. O problema do aprendizado envolve um conjunto complexo de variáveis que ao serem mencionadas nos estudos da área tendem para o cenário insolúvel de uma tragédia e não conseguem comunicar caminhos para os decisores políticos. Todos os principais testes e avaliações de larga escola referem o baixo desempenho de nossos estudantes, a questão é o que fazer com este dado.

O Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IEMA recebe estudantes egressos do 9º ano do ensino fundamental das redes municipais de ensino. Reservamos 80% de nossas vagas para esse público, pois compreendemos que o investimento deve priorizar as maiorias desprivilegiadas. Ao tomarmos essa decisão herdamos o referido problema das redes municipais e precisamos minorá-lo ao longo do ensino médio. 

Entre as estratégias que utilizamos está o nivelamento, cujo foco é os conteúdos básicos de português e matemática para os estudantes com tais déficits de aprendizado. A segunda estratégia são as Oficinas de Férias (janeiro e julho) em português, matemática e inglês para que possamos qualificar cada vez mais a capacidade de aprender de nossos estudantes, algo difícil ou mesmo impossível se não consolidarmos os fundamentos básicos dessas áreas de conhecimento. 

Ainda que essas estratégias sejam importantes, operam de forma interna e não enfrentam o problema na origem, ou seja, nas escolas municipais. Daí pensarmos em duas linhas de ação junto aos municípios, a partir de atuação em rede da equipe do IEMA, ações-chave para a maturação de nosso Instituto e seu contínuo aperfeiçoamento rumo a excelência no ensino oferecido.

A primeira ação é a cooperação técnica junto aos municípios onde o IEMA tem unidade física. A cooperação com as Prefeituras através das Secretarias Municipais de Educação para implantarmos nosso modelo pedagógico nas escolas dessas redes, especificamente nas escolas de 6º ao 9º ano. 

Atualmente dialogamos com as primeiras redes com interesse em fazer a adesão ao nosso modelo e implementar a educação integral nos municípios. Iremos partilhar a experiência que acumulamos nos últimos 3 anos com resultados publicamente conhecidos e validados.

A segunda ação é o desenvolvimento de cursos preparatórios nos municípios, priorizando os estudantes do 9º ano do ensino fundamental. Esses cursos seriam ministrados em parceria com as Escolas que receberiam capacitação dos professores e materiais didáticos para os estudantes.

Enquanto a primeira ação tem o longo prazo como tempo para ser implementada, a segunda ação mira o curto prazo. Agindo nas duas linhas entendemos contribuir para elevação do desempenho dos estudantes das redes municipais, por conseguinte, ampliar as possibilidades de avanço quando de seu ingresso no IEMA.

O centro das desigualdades educacionais está na ausência de soluções em rede que criem sinergias institucionais e pedagógicas com reflexo na sala de aula e impacto efetivo no aprendizado dos estudantes. Não se pode apostar em modelos cujo cerne constitua-se de eventos isolados, pontuais e episódicos, esse caminho já foi percorrido e testado sem produzir resultados bem-sucedidos.

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