Pular para o conteúdo principal

A LUTA PELA QUALIDADE DOS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS



Jhonatan Almada, historiador

Repor a confiança do povo na política e nos políticos é um desafio permanente para todos os que lidam com a coisa pública, agravado e dificultado pela exposição dos desvios e corrupção aberta de nossa elite política. Por vezes não conseguimos acompanhar a quantidade de denúncias e o volume de dinheiro público assaltado. Hoje, exercer um cargo em qualquer governo é ato de coragem para aqueles que não compactuam com o modus operandi vigente e lutam por republicanizar as relações entre Estado e Sociedade.

 A formação social brasileira e maranhense produziu cultura política calcada no favor, guiada pelo bacharelismo de forma e conteúdo. O corporativismo da burocracia profissional não se importa com a qualidade do serviço público prestado ou a satisfação da sociedade. O relevante é garantir aumentos continuados e anuais independentemente de qualquer conjuntura, prioridade ou emergência. É como se os recursos públicos fossem não só para a minoria concentradora de renda, mas também para a elite política e burocrática que dirige o país. A maioria, por eles considerada resto, pode esperar nas suas necessidades que competiriam ao Estado resolver.

Vivemos o jogo bruto para concluir, entregar e fazer funcionar os equipamentos públicos, cujas obras foram irresponsavelmente abandonadas ou tiveram os dinheiros desviados para as campanhas do antigo regime. A criação dos instrumentos legais para punir essas empresas e empresários criminosos existem e estão sendo utilizados pela primeira vez em 30 anos de redemocratização brasileira. Precisamos de um empresariado novo que saiba trabalhar com o Estado sem corromper ou ser corrompido, entregando as obras com a devida qualidade. O Maranhão é famoso pelas pontes com lombadas, estradas desniveladas, elevados tortos e tantas obras que foram entregues em governos anteriores sem qualquer condição civilizada de servir ao povo.

Estamos trabalhosamente explicando que por ser público deve ser de qualidade, deve buscar a excelência. Material de terceira mão, fios soltos, paredes desniveladas e mal pintadas, encanamento mal instalado, janelas trincadas, banheiros entupidos, piso fofo. Nada disso é aceitável no equipamento público. Não aceitamos e exigimos o melhor que se possa oferecer ao povo. Guerra diária que enfrentamos contra a cultura instituída. Colhemos frutos na qualidade das obras como escolas, hospitais, estradas, praças e tantos outros prédios públicos entregues à população. 

Aspecto relativo aos equipamentos públicos que é relevante abordar diz respeito à construção sem pensar no conteúdo. A rede de Faróis da Educação espalhadas por vários municípios do Maranhão é um exemplo claro disso. Recentemente as Secretarias de Educação e Cultura requalificaram o projeto como Faróis do Saber e envidam esforços para reativar esse importante espaço de formação de leitores.

Faremos um projeto piloto que transforma os Faróis em Pontos do Saber disponibilizando computadores e internet gratuita para dar acesso aos seus frequentadores às principais bibliotecas digitais do mundo. É possível por exemplo consultar 14.630 itens de 193 países de até 8 mil anos atrás na Biblioteca Digital Mundial (https://www.wdl.org/pt/), como o Mapa da Cidade de São Luís do ano de 1800 ou o pôster convocando as mulheres para sua primeira eleição no Japão em 10 de abril de 1946. Também é possível acessar alguns serviços públicos on-line já disponíveis no site do Governo do Maranhão e fazer cursos nas Plataformas Educacionais gratuitas como a VEDUCA, a UEMANet e a Negro Cosme. 

O essencial é construir modelo pedagógico e de gestão do espaço que prime pela qualidade, tecnologia, conforto físico e enriquecimento cultural dos seus frequentadores.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,...

Jackson Lago - uma biografia para o nosso tempo

JACKSON LAGO uma biografia para o nosso tempo [1] O Grupo Escolar Oscar Galvão e o Colégio Professor Vidigal ainda estão lá, em Pedreiras, como testemunhas vivas a guardar memórias desse maranhense exemplar aí nascido em 01/11/1934. Estruturava-se, então, uma rara vocação de serviço e servidor público, sua marca indelével por toda a vida. De Pedreiras a São Luís, onde freqüentou o prestigiado Colégio Maristas, Jackson Lago foi amadurecendo, mesmo que adolescente, sua aprendizagem de mundo e seu convívio humano e cultural com a admirada Atenas Brasileira. Vocacionado a servir e a salvar vidas, formou-se médico cirurgião na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, aprimorando-se também na residência médica do Departamento de Doenças Pulmonares da Policlínica Geral da Cidade do Rio, então Capital político-administrativa e cultural do Brasil. Com a alma encharcada de chão das vivências da saga do arroz e d...

A Educação do Brasil

A Educação do Brasil: cinco contrapontos necessários Este livro é fruto de um esforço de sistematização sobre cinco questões relevantes presentes no debate sobre a educação pública do Brasil e que tenho abordado em aulas, conferências e intervenções públicas, sobretudo para estudantes na Universidad Autónoma de Baja California (UABC), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Centro Universitário IESB, Universidade Estadual de Roraima (UERR), Centro Universitário UNDB, Faculdade Santa Luzia e Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Portanto, há uma postura didática na minha escrita para responder às seguintes perguntas: 1. Existe só descontinuidade nas políticas educacionais brasileiras? 2. A infraestrutura escolar não importa para a qualidade do ensino? 3. Sobra recurso e falta gestão na educação pública? 4. A qualidade do ensino se resume aos resultados das avaliações? 5. As escolas militares são solução para os problemas da educação pública? Organizei as respostas para essas p...