Jhonatan Almada, historiador
A conjuntura política reforça a necessidade de pensarmos estratégia global de formação de novas lideranças, sobretudo no campo da juventude. Ficou patente a incapacidade dos atuais representantes e sistema político responderem com efetividade às demandas e desafios sociais impostos pelo avanço tecnológico, ineficácia do sistema público de educação e desemprego estrutural.
A derrubada de um governo democrático eleito por uma mal ajambrada interpretação constitucional significa que não avançamos na formação política o suficiente para gerar uma sociedade mais ciosa da importância das eleições regulares, do exercício do voto e da alternância dos governantes.
A reação contida ou a reação à direita do espectro político significa que falhamos de forma retumbante. Relaxamos no cumprimento de nosso papel quanto à essa tarefa histórica, formar mentes e corações. As Juventudes dos Partidos não conseguiram massificar a formação e a composição de seus quadros, os Movimentos Estudantis não conseguiram agregar os novos interesses dos jovens estudantes e as Entidades Estudantis não conseguiram modernizar sua linguagem para tal.
O que se impõem com a derrota da esquerda brasileira neste ano de 2016? Retomar a base. Quando não há conscientização e mobilização política pela base outras forças sociais ocupam esse espaço. As igrejas evangélicas e os movimentos neofascistas nas redes sociais levaram a melhor durante o cochilo sistemático dos movimentos da juventude de esquerda. Não é o fim do mundo, mas precisamos retomar esse trabalho agora e com bastante intensidade e inteligência.
É nos municípios, nos bairros, associações, clubes e escolas que se encontra um campo aberto à conquista política. É inacreditável que um país da dimensão que o Brasil possui se possa manipular tão escancaradamente por minorias no poder. Não é isso que vemos? Crise virar otimismo, corrupção virar moralização, inflação virar mercado aquecido, dólar baixo virar poder de compra, máfia virar harmonia entre poderes.
A agenda moralizadora imposta de fora para dentro via Ministério Público Federal, Tribunal de Contas e Polícia Federal tem um limite óbvio. Quando findam todas as investigações, processos e condenações nada sobra. Não há projeto, pois a natureza da agenda é combater o mal até extingui-lo. Terminada a tarefa santa e inquisitorial não fica nada além do "todos são culpados", ninguém presta e somente uns poucos podem ser bons, nenhum deles claro está na política partidária.
Os agentes públicos estão à serviço do povo, mas não representam o povo, nem podem fazer isso. A beleza da política está na capacidade de construir projetos comuns em nome da coletividade que entregue às vontades individuais se destrói ou avança lentamente para o caos. Isso se faz por meio de programas e eleições, não de inquéritos. Entregamos o futuro do país e a ideia de projeto nacional ao grupo que sempre esteve no poder e não valoriza ou vê sentido nessas coisas.
Esse grupo tem orgulho do agronegócio, como os barões sulistas tinham do café na época do Império. Temos grãos mas não fabricamos nenhum equipamento ou detemos as tecnologias dos insumos. Temos carne mas não temos os maquinários e as tecnologias genéticas envolvidas. Continuamos acreditando que nossa vocação agrícola é um fim em si mesmo, não um meio para desenvolvermos a inteligência e a pesquisa que agrega e gera mais valor e riqueza.
O Brasil precisa saber o que quer ser nos próximos 30 anos, se a eterna potência agrícola que enriquece alguns ou um país avançado com tecnologias autóctones, inteligentes e desejadas no mundo todo. Não vejo qualquer sinalização da liderança que assumiu o poder. Cumpre-nos retomar o trabalho pela base e refazer a semeadura.
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