Jhonatan
Almada, historiador
Este ano o livro “Veias
Abertas da América Latina” completa 45 anos de lançamento. Talvez a obra mais
continental de Eduardo Galeano (1940-2015), certamente a mais reconhecida por
todos os círculos intelectuais de esquerda. O livro faz um balanço histórico
fundamental de nossa colonização e reiterados colonialismos. Leitura de muitos
jovens universitários é impossível não repensar o papel de nossos colonizadores
e a exploração das potências que lhes sucederam, oprimiram as culturas
originárias e nos legaram uma visão subserviente, deslumbrada com o chamado
mundo desenvolvido e enormes desconfianças entre nós mesmos, dificultando nossa
cooperação e integração solidária.
Eduardo Galeano tem uma
obra muito maior que este livro, mas a vida toda e em todo lugar sempre foi
inquirido a rever as ideias ali apresentadas. Lançado em 1971 no terrível ciclo
de ditaduras da América Latina o livro carrega nas suas tintas sobre nossa
história, entretanto, não inventa fatos. Entre 1973 e 1985 Galeano viveu no
exílio, sonhava em ser jogador de futebol como todo uruguaio de sua geração,
mas para o engrandecimento das letras latinas se tornou escritor.
Em 2014, um ano antes de
morrer, declarou que não teria condições de reler esse livro cujo estilo seu
corpo atual não suportava mais, dormiria até. Essa declaração dada em uma Feira
do Livro de Brasília despertou uma onda de direita que nunca gostou do livro e
uma onda de esquerda que o considerava ímpar. Basta ler livros escritos bem
depois, como “Espelhos – uma história quase universal”, cuja primeira edição é
de 2008 e ali consta o mesmo Galeano, não no sentido físico, mas de escritor:
“Os peregrinos do Mayflower ouviram: Deus dizia que a
América era a Terra Prometida. E os que viviam lá eram surdos? Depois os netos
daqueles peregrinos do norte se apoderaram do nome e de todo o resto. Agora,
americanos são eles. E nós, que vivemos nas outras Américas, o que somos?”
Em linhas gerais
extraíram do que Galeano disse aquilo que gostariam ter ouvido. O que fica
patente é a contribuição do livro “As Veias Abertas da América Latina” ao
evidenciar a exploração colonial e seus fortes desdobramentos ao longo de nossa
história. Isso independente da vontade do próprio autor. O livro não nos
pertence mais depois que publicamos, se soma ao legado da humanidade no
infindável repositório cultural a ser transmitido por gerações, sobretudo
quando lemos:
“A causa
nacional latino-americana é, antes de tudo, uma causa social: para que a
América Latina possa renascer, terá de começar por derrubar seus donos, país
por país. Abrem-se tempos de rebelião e mudança. Há aqueles que creem que o
destino descansa nos joelhos dos deuses, mas a verdade é que trabalha, como um
desafio candente, sobre as consciências dos homens.”
A propósito da passagem
desses 45 anos, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Maranhão
lançou edital do Concurso Eduardo Galeado de Redação com o tema “Ciência e tecnologia
integrando a América Latina”. O edital pode ser acesso em Podem participar
estudantes de ensino médio e de graduação de qualquer dos países do continente.
Os textos de máximo uma página e meia podem ser enviados em português ou
espanhol para o e-mail eduardogaleano@secti.ma.gov.br.
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