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PACTO COMO PROJETO

Jhonatan Almada, historiador, escreve as sextas-feiras no Jornal Pequeno


É importante compreender o sentido de um pacto. Um pacto é um acordo sobre projeto ou projetos consensuais, firmado por um grupo heterogêneo do ponto de vista político-ideológico. A isso, o ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo se referiu no seu recente artigo. Muitas interpretações, na maioria desproporcionais e enviesadas, surgiram em relação a essa proposta. Variaram do entreguismo ao peleguismo, do denuncismo ao cretinismo, do “eu não disse” ao “eu sempre soube”, não debateram o sentido da ideia e a inserção da mesma na conjuntura nacional.

Não se está falando na ausência de punição em relação aos crimes cometidos, sequer na suspensão dos processos investigatórios ou auditorias em andamento. Também não se menciona repartição de espaços no governo. Essas coisas são impossíveis de negociar. O conteúdo da proposta é um pacto por um projeto para o Maranhão. O projeto são ações prioritárias em áreas consensuais entre as forças políticas almejando um horizonte de futuro e defesa unânime junto ao Governo Federal, Empresas, Organismos internacionais e Instituições Financeiras.

Nacionalmente vemos uma articulação direita-mídia-partidos conservadores e mesmo de extrema esquerda trabalharem pela derrubada de um governo eleito como a solução mágica que irá resolver os problemas vinculados a economia e a gestão pública. Como se colocando o PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, passando o poder para o PMDB de Michel Temer ou entregando um mandato ao PSDB de Aécio Neves, fossem caminho crível. Nenhum destes tem um projeto de país, possuem ações pontuais que pioram ou maquiam os problemas, sem tocar em profundidade na corrupção ou na reforma política. Se ações não possuem horizonte de futuro e sentido estratégico não se configuram como um projeto.

Por outro lado, seria muito simplismo julgar todos como corruptos e bloquear qualquer diálogo. Política e diálogo são intrínsecos. Defender a estabilidade política e a preservação da governabilidade tem sido a bandeira levantada por poucos em um momento que todos tiraram a Presidenta Dilma para Geni e Lula para Judas. Não vou embarcar na onda da Revista “Veja” ou do jornal “O Estado do Maranhão” para formar minha opinião sobre assuntos sérios e importantes. Se houve corrupção que se aguarde o trânsito em julgado da sentença, até lá, baixar a crista do golpismo, do elitismo e da misoginia. Distanciamento e criticidade são fundamentais, salvo se se vive em uma eterna adolescência deslumbrada, descompromissada e embrutecida, imune ao aprendizado do tempo.

O Maranhão e a Bahia foram os dois últimos estados a aderirem à Independência do Brasil. Tamanha a nossa subordinação e identificação com os interesses do colonizador português. Se em relação ao Brasil podemos falar de 2022 como o bicentenário, aqui precisamos postergar a data simbólica para 2028. A pergunta a ser feita é que projeto temos a apresentar para a Geração do Bicentenário de independência. Defendemos uma inserção significativa do Maranhão na área aeroespacial? Queremos nos tornar referência na agricultura de orgânicos? Vamos criar uma tecnologia social de melhoria do IDH com padrão internacional e copiada pelo mundo? Basta investir tudo em educação, segurança e saúde? Repetiremos o são-paulismo com uma industrialização concentradora? Criaremos um parque tecnológico voltado para as fronteiras da ciência aplicada? Que pontos do programa de governo vitorioso são consensuais entre as forças da situação e da oposição?

Adversário político não é inimigo público. O inimigo público é a cultura patrimonialista continuada, advinda de todos os oligarcas pretéritos e componente da formação social do país. Adversário se combate institucionalmente. Inimigo se combate fisicamente, objetivando a eliminação completa. Reitero, pacto se dá em torno de projetos, não de personalismos ou de abstrações. Se a leitura coletiva daqueles que estão no governo (não no poder) compreende que essa história de pacto só funciona no Uruguai ou na Espanha, então continuemos no rumo escolhido, seguros de nós mesmos e confiantes naquilo que estamos plantando.

O timing de José Reinaldo está incorreto? Alguns podem argumentar. Há que se enxergar os desdobramentos da atual conjuntura e os cenários que nascerão, a depender do desfecho dos movimentos do Tribunal de Contas da União (TCU), Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Câmara dos Deputados. O PMDB é o elemento persistente em qualquer desses cenários, seja como força estabilizadora, seja como homem-bomba.

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