Pular para o conteúdo principal

Um Plano de Governo para o Maranhão

O fio condutor de um Plano de Governo (de Estado) para o Maranhão


Jhonatan Almada, historiador


Toda eleição majoritária traz a baila a discussão sobre o plano de governo. Alguns banalizam esse momento como se não fosse fundamental para a conquista e convencimento do eleitorado em torno do programa do candidato. Outros compreendem o significado político desse momento, valorizando-o e democratizando-o o quanto possível.


O desafio básico de qualquer plano de governo é apresentar coerência interna e coerência externa. A coerência interna é que tenha um fio condutor de todas as propostas, a linha mestra. A coerência externa é que tenha sintonia com os problemas conjunturais e estruturais da realidade social na qual está referido.


Ao desenvolver o plano de governo do candidato Jackson Lago é fundamental compreender duas ordens de coisas. Primeiro (I) é que se trata de dar continuidade, de retomar ações, projetos e programas interrompidos pelo golpe judicial de 2009, perpetrado pelos que "vem com tudo". Segundo (II) é que se baseia na experiência concreta de 2 anos e 4 meses de governo, a qual possibilitou não só o conhecimento da chamada máquina administrativa, mas também das demandas sociais reivindicadas e apresentadas pela sociedade civil organizada durante as várias consultas populares, fóruns e reuniões ampliadas realizadas.


O fio condutor em face dessas questões está referido ao eixo tríplice da democracia, do desenvolvimento e da prosperidade. A democracia (1) por que não vivemos em uma sociedade democrática, por que não temos tradição de tomar decisões governamentais com base em consultas populares, referendos e plebiscitos, mas sim com base no pretenso conhecimento da realidade advindo das elites políticas e econômicas dirigentes. O desenvolvimento (2) que no conceito mais atual é multidimensional, ambiental, econômico, social, político, cultural, simbólico, etc, não está preso ao meramente econômico e muito menos aos grandes projetos, mas focado na dinamização das economias locais, das economias dos municípios, levando a ruptura, o quanto possível, da lógica capitalista. A prosperidade (3) é a superação dos programas assistencialistas e do discurso do combate a pobreza, é efetivamente garantir as condições materiais e imateriais para o empreendedorismo, o empoderamento e a solidarização.


Nenhuma das propostas integrantes do plano de governo está deslocada desse eixo tríplice, sintonizado com desafios históricos da realidade maranhense: a ausência de alternância do poder político (A), a concentração econômica (B) e a centralização da gestão pública (C).


Dar conta de tudo, da realidade inteira é impossível para qualquer planejamento. O fundamental é enfrentar os desafios principais, realizar as ações possíveis em face dos recursos públicos disponíveis, mas, sobretudo ir de encontro, atender as reivindicações históricas dos movimentos sociais e sociedade civil organizada. Dar continuidade, mas também inovar, pois a realidade é dinâmica, ela já não é a mesma do início desse texto, tem suas permanências, mas também mudanças.


O cerne de um plano de governo para o Maranhão é ter clareza da necessidade de uma profunda reforma do Estado, não as reformas administrativas feitas por aqui pelo governo roseanista, essas foram um desastre retumbante, na verdade foram contra-reformas, por que ao invés de consolidar direitos, os subtraiu.


A reforma do Estado no sentido que defendemos aqui, passa pela refundação deste em suas bases institucionais, políticas e sociais. Sem isso é improvável que um governo consiga mudar nas estruturas o Maranhão, mais ainda, garantir que o feito não seja desfeito ou destruído pelo governo seguinte.


A reforma orientada pelo plano de governo começa já na Comissão de Transição, deve reestruturar com segurança todas as instituições do Estado (I); profissionalizar o serviço público estadual por intermédio de concurso público, carreira e remuneração (II); estabelecer com clareza para cada Secretário de Estado o que deve fazer, em quanto tempo, deixando claro que sua permanência no cargo não está apenas vinculada a questões políticas, mas ao desempenho nele (III); articular tudo isso a um projeto estadual de desenvolvimento de médio e longo prazo (IV), próprio, sem imitar outros estados, sem copiar as políticas do governo federal, mas elaborado e pensado com a própria cabeça, mediante os próprios problemas, a própria realidade.

A questão central é não copiar modelos importados, mas desenvolver projeto autóctone, próprio, referido aos nossos problemas, aos nossos desafios. Ao lado disso não ter medo de ousar e propor o inovador.


A refundação do Estado passa por uma nova Assembléia Constituinte Estadual, por uma nova Constituição Estadual, que revise profundamente o arremedo de legislação que temos. Aí já não falamos de Plano de Governo, mas de Plano de Estado.


Se o caminho possível, agora, é o das reformas, então as façamos com o povo, nunca sem ele ou por ele. Durante o governo interrompido buscamos fazer com o povo, continuemos e aprofundemos essa experiência. Não basta, como diz o poeta cubano Nicolas Guillén, fazer que floresça e frutifique a idéia, mas diante do obstáculo a ela, sacudir com mais atrevimento ante o atrevimento do obstáculo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,...

Jackson Lago - uma biografia para o nosso tempo

JACKSON LAGO uma biografia para o nosso tempo [1] O Grupo Escolar Oscar Galvão e o Colégio Professor Vidigal ainda estão lá, em Pedreiras, como testemunhas vivas a guardar memórias desse maranhense exemplar aí nascido em 01/11/1934. Estruturava-se, então, uma rara vocação de serviço e servidor público, sua marca indelével por toda a vida. De Pedreiras a São Luís, onde freqüentou o prestigiado Colégio Maristas, Jackson Lago foi amadurecendo, mesmo que adolescente, sua aprendizagem de mundo e seu convívio humano e cultural com a admirada Atenas Brasileira. Vocacionado a servir e a salvar vidas, formou-se médico cirurgião na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, aprimorando-se também na residência médica do Departamento de Doenças Pulmonares da Policlínica Geral da Cidade do Rio, então Capital político-administrativa e cultural do Brasil. Com a alma encharcada de chão das vivências da saga do arroz e d...

A Educação do Brasil

A Educação do Brasil: cinco contrapontos necessários Este livro é fruto de um esforço de sistematização sobre cinco questões relevantes presentes no debate sobre a educação pública do Brasil e que tenho abordado em aulas, conferências e intervenções públicas, sobretudo para estudantes na Universidad Autónoma de Baja California (UABC), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Centro Universitário IESB, Universidade Estadual de Roraima (UERR), Centro Universitário UNDB, Faculdade Santa Luzia e Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Portanto, há uma postura didática na minha escrita para responder às seguintes perguntas: 1. Existe só descontinuidade nas políticas educacionais brasileiras? 2. A infraestrutura escolar não importa para a qualidade do ensino? 3. Sobra recurso e falta gestão na educação pública? 4. A qualidade do ensino se resume aos resultados das avaliações? 5. As escolas militares são solução para os problemas da educação pública? Organizei as respostas para essas p...