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A LUTA PELA ESCOLA HONESTA

A defesa da escola pública exige tomada de posição e coerência entre a teoria e a prática. Não é aceitável declarar-se favorável à escola pública e não tomar decisões que de fato a coloquem como prioridade, dedicando o investimento necessário e suficiente para seu desenvolvimento. Ao longo da história brasileira um dos campos de luta sempre foi o financiamento da educação pública.

A proposta de novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica-Fundeb que está em tramitação no Senado Federal traz um dos mais relevantes avanços, torna o fundo permanente. Isso significa que as próximas gerações de brasileiros, sobretudo aqueles que mais precisam, terão garantido o acesso à escola pública e seu respectivo financiamento.

Quando fiz ensino médio na escola estadual de minha cidade não existia Fundeb. Somente o ensino fundamental era etapa obrigatória e financiada pelo poder público como direito. Naquela escola em que estudei, os professores e equipe escolar se empenhavam para garantir esse direito sob condições totalmente desfavoráveis.

Não tínhamos biblioteca, laboratórios, internet, refeitório, enfermaria, ar-condicionado, carteiras adequadas, intercâmbio, nada disso. Algumas disciplinas ficavam sem professores por meses e nunca esse conteúdo foi reposto. Tal realidade segue existindo no Brasil, em maior ou menor intensidade. Até quando vamos aceitar isso?

E foi nessa escola que conclui o ensino médio com enormes lacunas de aprendizagem. Isso exigiu de mim mais esforço, mais dedicação para superar e criar o próprio caminho. Não é a regra, fui uma exceção, a maioria fica pelo caminho e interrompe sua trajetória educacional. Talvez essa experiência tenha me conduzido para atuar profissionalmente na área de educação, desse lugar faço sua defesa.

Será tão difícil oferecer uma “escola honesta” como defendia Darcy Ribeiro? Acredito que não é difícil quando há consenso razoável entre a política e a dimensão técnico-pedagógica. Todo consenso é provisório e situado no tempo. Nesse momento, o novo Fundeb deve incluir o Custo-Aluno Qualidade, pois esse instrumento vai nos aproximar mais dessa escola sonhada por tantos educadores e educadoras.

Além disso, não é aceitável que os recursos do novo Fundeb sejam utilizados para o pagamento de aposentados, se a saúde veda tal prática, na educação não deve ser diferente. Precisamos assegurar os investimentos, não diminuir, por isso essas malandragens contábeis na educação devem acabar, astúcia tem limite.

Estamos em semana decisiva para a educação pública e os/as Senadores/as tem papel fundamental, seus votos têm peso histórico para o futuro dos estudantes e para os estudantes do futuro. Desejo que cada um e cada uma esteja à altura desse momento, votando pela aprovação do novo Fundeb.

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