Jhonatan Almada,
historiador
Estamos
chegando ao meio de 2017, apesar das incertezas do cenário econômico e
político. A sensação é de que os ânimos precisam arrefecer para chegarmos ao
fim. Não é nada republicano que as instituições de justiça sejam colocadas como
adversárias dos réus, pugilistas que precisam derrubar o outro para sagrar-se
vencedores. Juiz não é boxeador ou justiceiro, mas árbitro e mediador de
conflitos.
Imagine
que qualquer um de nós estivesse sendo processado e o juiz do nosso caso
divulgasse carta pública agradecendo o apoio das pessoas ao trabalho dele,
palestrasse no exterior explicando como está agindo, fosse ator em filme sobre
o caso, postasse vídeos pedindo aos fãs que não se manifestem.
Imagine
ainda que os colegas desse mesmo juiz dessem liminar impedindo posse em cargo
público, proibissem os amigos de se solidarizarem com você, fechassem sua
instituição, ameaçassem com multa e prisão qualquer manifestação em seu favor.
Isso
tudo aconteceu e está acontecendo no Brasil. A imparcialidade e a isenção do
Judiciário foram corroídas pela sanha que tornou o processo mera formalidade
para se chegar à condenação.
A
repactuação de poder que atualmente atravessamos no Brasil impôs polarizações
perigosas para a democracia. A política não é o reino do bem e do mal, se isso
existir não é nesta existência. Política é mediação entre diferentes para
construir o bem comum pelo diálogo e entendimento. As instituições do sistema
de justiça não são heroínas e não substituem a política, elas são instâncias de
definição do que é proibido. Quando essas instituições ultrapassam esse papel
da vedação de condutas e passam a fazer a agenda do país, vamos mal.
Lula
será condenado, não porque existem provas, mas porque depois de tanto circo
midiático fica impossível outra conclusão. Trata-se de um pugilato que só
poderá resultar no nocaute do próprio Lula, afastando-o da política,
satisfazendo a direita reacionária e possibilitando que os inquietos outsiders
assumam seu lugar, mesmo que de forma farsesca. O combate a corrupção cedeu
lugar para a busca pela morte política do Lula.
É
temerário que as forças políticas não consigam superar o lodaçal em que se
meteram ao derrubar a Presidente Dilma. A agenda do grupo que assumiu o poder
se baseia na redução de direitos como caminho para a retomada do crescimento,
por isso investem toda sua energia nas reformas previdenciária e trabalhista.
Não há nada no horizonte pós-reformas, salvo uma aposta intuitiva de que elas
resultarão em crescimento.
O
ponto central é que na ausência de projeto nacional com pauta estratégica de
longo prazo, continuaremos a reboque dessas medidas apresentadas como
salvacionistas por campanhas midiáticas emburrecedoras e ultrajantes.
Roberto
Amaral ex-ministro do Governo Lula lançou a proposta de uma frente ampla com o
objetivo de pensar o Brasil para além de 2018, comprometida com a soberania
nacional, a retomada do desenvolvimento autônomo e a preservação dos direitos
dos trabalhadores, agregando o pensamento progressista amplo.
Bresser-Pereira
ex-ministro do Governo FHC lançou o Manifesto do Projeto Brasil Nação tendo
como pontos econômicos centrais: 1. Regra fiscal que
permita a atuação contracíclica do gasto público, e assegure prioridade à
educação e à saúde; 2. Taxa básica de juros em nível mais baixo, compatível com
o praticado por economias de estatura e grau de desenvolvimento semelhantes aos
do Brasil; 3. Superávit na conta corrente do balanço de pagamentos que é
necessário para que a taxa de câmbio seja competitiva; 4. Retomada do
investimento público em nível capaz de estimular a economia e garantir investimento
rentável para empresários e salários que reflitam uma política de redução da
desigualdade; 5. Reforma tributária que torne os impostos progressivos.
Antes dos dois, o PMDB lançou o documento “Ponte para o Futuro” em
novembro de 2015 e nele apresentava tudo o que está sendo feito pelo Governo
Temer. Os pontos centrais eram a flexibilização dos direitos trabalhistas
(terceirização), o fim das vinculações constitucionais para educação e saúde
(teto dos gastos públicos), elevação da idade para aposentadoria (reforma da
previdência) e redução dos gastos sociais (fim do Pronatec e do Ciência sem
Fronteiras).
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