Jhonatan Almada, historiador
Imaginem um país que resolve colocar seus principais bancos à disposição de um projeto internacional ousado, financiando infraestrutura de outros países em troca do financiamento de longo prazo com juros subsidiados. Imaginem ainda que este país também resolveu financiar programas de combate à pobreza. Este país existe e é a China.
A iniciativa “One Belt, One Road” da China foi lançada com a participação de líderes de mais de 100 países do mundo, sob forte crítica da mídia ocidental, copiada no Brasil pelo nosso frágil jornalismo em temas internacionais.
A China irá investir 105 bilhões de dólares prioritariamente em 60 países da Ásia, África e Europa para estimular transações em moeda chinesa em troca de financiamento para pontes, ferrovias, estradas, portos, energia e combate à pobreza. Não existe Operação Lava-Jato na China, não precisam, lá a corrupção é punida com pena de morte e não é crime apoiar as empresas chinesas em projetos no exterior.
O maduro Brasil com sua pujante democracia resolveu criminalizar a estratégia ativa e altiva de política externa implementada nos últimos 10 anos que se continuada iria ampliar a influência do país, consolidar a presença de empresas brasileiras no exterior e conquistar relevância definitiva como player global. Isso tudo ruiu pela ação de nossas próprias instituições alimentadas por países com claro interesse de implodir a referida estratégia.
Os historiadores do futuro perceberão essa nuance ao se deparar com a medíocre cobertura midiática do Brasil quanto aos fatos ocorridos entre 2013 e 2016? Eis uma pergunta complexa para o nosso tempo, uma maioria de perdidos que só consegue se preocupar com o imediatismo.
O mais curioso que percebo na atual conjuntura é a amnésia seletiva que a mídia nos submete. A corrupção liderada pelo Temer não é uma novidade, o PMDB foi o berço de todo esse processo desde quando assumiu o leme do Congresso Nacional pós-redemocratização. Nunca tiveram coragem de liderar abertamente o país, somente quando a estrutura por eles montada e operada se viu ameaçada pelas investigações é que resolveram pôr-se no descoberto.
Pagamos alto preço por não termos feito a reforma política antes. O momento é de reorganização das forças sociais que desejam mudar o cenário deletério em que nos atiraram. Tenho minhas dúvidas quanto a soluções como a de “volta quem já foi”, tendem a não dar certo e serem danosas para os que embarcam nelas, o momento é de mudança política. Os candidatos da anti-política não conseguirão se sustentar caso eleitos, pois o falso purismo não sobreviverá às negociações inerentes à política.
Não vejo sentido em comemorar a eventual queda de Temer. O centro do problema é não existirem alternativas amadurecidas para pôr no lugar do que está aí. A oposição precisa construir consenso sintonizado com a vontade de mudança da sociedade ou correrá o risco de ver o país cair no colo do fascismo.
Os interesses difusos são a bússola quando inexiste projeto de país e resultam na paralisia de rumo. Apesar disso, creio que serenidade é mais do que necessária neste momento, acompanhemos as próximas cenas da novela Brasil.
Observa-se que aparentemente o Brasil não está contemplado na iniciativa lançada pela China. Estariam eles com medo de investir no país diante de nossa novela?
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