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O BEM COMUM COMO OBJETIVO DA VIDA PÚBLICA



Jhonatan Almada, historiador


Tenho a oportunidade honrosa de exercer cargo público no Maranhão e quando vejo a crescente onda de investigações, prisões e condenações de políticos e empresários me impacto com o tamanho dessa ambição corrupta que nada consegue bastar. Pessoas que construíram toda uma trajetória na política e exerceram cargos públicos em praticamente todas as esferas. É chocante sacrificarem a reputação para ter uma vida principesca à custa do povo, vida efêmera que fatalmente se esfarela ante a força da verdade.

Precisamos reinventar o exercício de cargos públicos. Ao contrário do que se apresenta na mídia cotidianamente, existem sim pessoas que os exercem com seriedade, dedicação e empenho. Os verdadeiros espetáculos midiáticos nada contribuem para essa reinvenção, somente reforçam a criminalização da atividade política ao venderem a imagem dos vilões (os políticos) pegos pelos mocinhos (polícia, judiciário e ministério público). Importante repetir, nem todos que exercem cargo público praticam corrupção e não existem vilões e mocinhos na vida pública.

É fundamental o trabalho de investigação que tem sido realizado pela Polícia Federal, o trabalho de apuração do Ministério Público e alguns acertos do Judiciário em tempos recentes. No entanto, a agenda desses órgãos é desprovida de projeto nacional, realizam um trabalho eminentemente moralista, de negação e punição das condutas. Não possuem resposta para a pergunta: depois que todos forem presos, o que acontece? A agenda que propõe o projeto nacional é responsabilidade da política e dos políticos, função maior que justifica essa atividade e jamais virá desses órgãos.

Não podemos tolerar a corrução e nisto estou plenamente de acordo, contudo o discurso anticorrupção não pode se confundir com o discurso antipolítica. O enfrentamento desse problema se dá na política, não fora dela. A esquerda precisa encontrar o seu discurso anticorrupção e sobrepujar a criminalização antipolítica conduzida pela direita. Para tanto, precisamos ter e verbalizar um projeto de país que alcance certo consenso mínimo à esquerda e à direita.

É necessário um exame de consciência muito poderoso por parte de todos aqueles que se dedicam ou almejam à vida pública, não por que a Operação Lava Jato está em andamento, mas por que está em jogo o próprio sentido da vida pública. Precisamos resgatar a política dessa fogueira de reputações queimadas que não representam a riqueza e a beleza da política quando voltada para o bem comum, o comum de todos.

Quando a democracia clássica na Grécia ainda tateava pelas brumas do tempo, acreditava-se que a Timé (estima) era a mais alta expressão do valor de um indivíduo - traduzia a estima que esse indivíduo desfrutava junto aos outros pelo conjunto de seus feitos e atitudes. Ter estima social era o grande objetivo da vida, sobretudo para alcançar o Kléos (fama), isto é, o reconhecimento após a morte pelo impacto que esses feitos e atitudes tiveram na sociedade. Excepcionalmente, quando os feitos eram extraordinários o indivíduo poderia alcançar o Kléos Afthiton (fama imperecível), a perpetuação de seu nome entre as gerações futuras.

Não se pode entrar na vida pública para ganhar dinheiro e enriquecer, recomenda-se a iniciativa privada para esse fim. O lucro e o benefício pessoal não são e não podem ser os móveis da ação de quem se dedica à política. A busca incessante pelo bem comum é o grande móvel da ação política e o reconhecimento da sociedade é o único prêmio que se pode almejar.

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