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APRENDER COM AS DERROTAS E SE REINVENTAR



Jhonatan Almada, historiador


As pessoas precisam vivenciar governos conservadores e à direita do espectro político para conseguirem parâmetros e comparar. Sem viver a experiência por mais que se informe, dialogue e discuta fica no ar a dúvida e a abstração. Nestes tempos de desconfiança e fugacidade é necessário o trauma de um governo conservador para aferir se de fato um governo progressista é diferente.

O mais preocupante é ver parcela significativa da juventude ser arrastada para essa onda conservadora. É urgente retomar o trabalho de base com os jovens, urgente. Precisamos falar de política, de políticos e políticas públicas. Explicitar o contexto, as relações entre o local e o global. Trabalho de formação de alta relevância e crucial para enfrentar essa onda que se avoluma no Brasil e no mundo.

Outro aspecto grave é o crescimento da abstenção e voto nulo, significando que a desconfiança atingiu tal patamar entre os mais maduros que virou descrença mesmo. Se a descrença se ampliar, o risco de declarados “não políticos” ou “anti-políticos” vencerem eleições também cresce. É pelo silêncio e indiferença que se oportuniza a ascensão de figuras heterodoxas, capazes de surfar nessa onda avassaladora. A incapacidade de mudar e gerar confiança do nosso sistema político aponta para o agravamento dessa tendência.

A nova crise econômica do sistema capitalista (que por natureza sempre gera crises) é o aspecto transversal desse cenário. As saídas não são fáceis, nem simples na conjuntura atual. A criação de um teto do gasto público apontada como solução na verdade repete o remédio adotado nos anos 1990, ousadamente por período longuíssimo de tempo. Se um estudante começa a estudar na rede pública aos 6 anos de idade, somente aos 26 anos, quando completar sua escolaridade (básica e superior) e possivelmente já no mercado de trabalho verá o fim do teto do gasto público.

A organização Auditoria Cidadã da Dívida Pública por anos afirma que quase metade do nosso orçamento anual é gasto com juros e amortização da dívida pública, percentual muito pequeno é investido em educação e saúde. Pode se argumentar que esse percentual tem sérios problemas de eficiência e efetividade, estou plenamente de acordo. Contudo não se pode querer resolver a nova crise econômica estabelecendo o gasto público como o vilão de sempre e o mercado como o eterno mocinho. 

Alguns esquecem que antes se estudava economia política, não havia separação radical na abordagem, hoje existe, deturpando as análises e caindo no economicismo. Não há solução econômica sem solução política, mesmo assim sempre serão provisórias. O relevante é garantir novo ciclo de desenvolvimento. As derrotas de 2016 são fundamentais para o aprendizado democrático e a reconstrução da esquerda. O governador Flávio Dino sugeriu como caminho a organização de frente ampla, sem ressentimentos e com proposições concretas para o Brasil se reinventar.

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