Jhonatan Almada, historiador
O
Senado Federal aprovou o afastamento da Presidenta Dilma Rousseff e Michel
Temer atualmente é Vice-Presidente no Exercício da Presidência da República
Federativa do Brasil. Temos um governo interino constituído pela base que
elegeu Dilma e a oposição por ela derrotada. Eduardo Cunha depois de aprovar o
impeachment na Câmara dos Deputados foi afastado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF). Aparentemente as instituições funcionaram perfeitamente se não fosse um
golpe parlamentar para afastar por impopularidade à Presidenta, cuja primeira
etapa foi finalizada. Falta ainda o julgamento final pelo Senado.
O
combate à corrupção cuja intensidade foi ampliada justamente nos governos do PT
expôs o sistema político brasileiro e a forma como se constrói a governabilidade.
O PMDB artífice desse sistema recusou manter uma aliança que estava ameaçando essa
arquitetura de governança. Esse movimento é sintomático, observe-se, na medida
em que Polícia Federal e Ministério Público Federal miraram no PT,
invariavelmente atingiram também o PMDB. Há claramente uma proteção velada à
parcela da oposição representada por PSDB e DEM.
Ao
romper com PT e urdir o golpe parlamentar, o PMDB voltou-se para a aliança
preferencial dos anos 1990 com PSDB e DEM (antigo PFL). Nesse sentido, juntaram-se
pela oportunidade de afastar a Presidenta Dilma Rousseff e retomar a agenda que
não conseguiu vencer a eleição de 2014. O PMDB para permanecer no poder tem que
desvencilhar-se do PT e aliar-se ao PSDB, pois não há governabilidade razoável
sem o apoio das três principais forças políticas do país.
Jogos
de cena são necessários para reforçar essa falsa ruptura, pois de forma alguma
ela alcança o cerne do sistema. O exemplo da Eletrobrás é paradoxal. Quem
controla o setor elétrico desde o Governo de Fernando Henrique Cardoso? O PMDB.
Quem indica os quadros dirigentes das estatais do setor elétrico, entre elas, a
Eletrobrás? O PMDB. A Operação Lava a Jato expôs os desvios realizados no
âmbito dessas estatais, os quais alcançam as principais lideranças de que
partido? O PMDB. Desce o pano.
A
agenda apresentada no documento “Ponte para o Futuro” foi a derrotada na
eleição de 2014. Implica na flexibilização dos direitos trabalhistas (menos
direitos, menos empregos), no fim das vinculações constitucionais para educação
e saúde (menos dinheiro para bancar essas políticas públicas), elevação da
idade para aposentadoria (mais tempo de trabalho), redução dos gastos sociais (SUS,
Minha Casa Minha Vida, PROUNI, FIES, PRONATEC, etc) e aumento de impostos. Não
há nenhuma novidade nas medidas adotadas pelo Governo Interino de Michel Temer,
todas foram anunciadas em novembro de 2015. Não há efeito surpresa.
Na
cabeça dos políticos brasileiros existem dois tipos de política. A política
para o povo e a política para os políticos. A política nascida na rua e a
política gestada nos gabinetes. Se isso for verdade, nos anos do PT no poder a
política para o povo prevaleceu na Agenda Pública. Nos anos que poderão se
seguir, claramente, a política para os políticos dará as cartas. Essa separação
é falsa e frágil, sobretudo para aqueles que como eu acreditam na política como
meio para o bem comum, não como instrumento para beneficiar quem está no poder.
Não
basta fazer autocrítica à esquerda para saber como agir na derrota,
necessitamos urgentemente renovar os quadros, implementar democracia partidária
e encontrar propostas consistentes que possam enfrentar e superar o receituário
da agenda derrotada.
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