Jhonatan Almada, historiador, escreve as sextas-feiras no Jornal Pequeno
A síndrome do quadrado é
um problema sério que acompanhou a implementação das políticas públicas
materializadoras de direitos. Existe uma tendência a se apropriar desta ou
daquela parte como um exclusivo colonial. Ninguém pode opinar ou se meter
naquilo que penso ser meu quadrado, minha especialidade ou minha área de
competência. Esse pensamento ao extremo leva ao gigantismo burocrático, aos
conflitos paralisantes e a incapacidade de agir.
O grande desafio de quem
tem responsabilidade de planejamento e gestão das políticas públicas é não se
acovardar ante às vaidades e aos demarcadores de área. Um problema objeto de
ação de uma determinada política pública não é como um território em que se
chega e fincando bandeira toma-se como seu. A complexidade dos problemas exige
ação intersetorial. Mais ainda, exige que os problemas sejam enfrentados. Não
se pode esperar a boa vontade de agir de um ou de outros, mas sim, incorporar o
espírito “não sabendo que era impossível, foi lá e fez”.
Um exemplo disso é a
juventude maranhense, cujos problemas demandam ação de várias frentes com
diversidade de meios e níveis de intensidade, urgência e estratégia. Os
programas Cidadão do Mundo, Pré-Universitário, CNH Jovem e Projeto
Rondon/Operação Bacuri são tocados por diferentes órgãos e todos tem esse
público como sujeito-fim. Isso tudo converge em uma Agenda da Juventude,
apoiada de forma intersetorial e transversal, sem necessidade de demarcações
com cores mais fortes. Importante é que ações tenham complementaridade e
alcancem o objetivo de dignificar a vida desses jovens. Criado por um ou outro
órgão, a solidariedade de princípios deve levar os diversos veios a um leito
comum, sinérgico e unido.
A síndrome do coitadismo
é um problema sério que acomete prefeitos e prefeitas do Maranhão para
justificarem a ausência, a lentidão ou a corrupção. Encostados nas
transferências federais e estaduais, corroídas pela corrupção ampla, geral e
irrestrita, vendem a imagem de pobres gestores de pobres municípios. O dinheiro
da merenda é pouco. O dinheiro do Fundeb só deu para o salário dos professores,
não sobrou nada para melhorias nas escolas. O dinheiro da Saúde não foi
suficiente para constituir mais equipes multiprofissionais. Essas e outras
desculpas são atiradas pelos prefeitos.
Se o desejo dos prefeitos
é enganar e enriquecer às custas do dinheiro público, que saiam de suas
funções, reconheçam sua incapacidade de gestão e busquem algo melhor para fazer
de suas vidas. A exiguidade de recursos não é uma justificativa plausível para
a ausência de ações. A corrupção nunca reconhecida, mas sempre denunciada e
comprovada, é a irmã gêmea do coitadismo. Não se pode aceitar como normal
pagarmos até uma beleza inventada em ginástica e plásticas. Lamentavelmente, os
efeitos das políticas públicas voltadas para a juventude serão sentidos no
médio e longo prazo, toda uma geração de maranhenses continuará a colocar e
recolocar no poder esses monumentos à burrice.
Graciliano Ramos
(1892-1953) é sempre lembrado como escritor e algumas vezes como político. Foi
prefeito de Palmeira dos Índios (Alagoas) em uma época de pouca tecnologia e
fraco desenvolvimento das forças produtivas locais. Ainda assim realizou uma
gestão honesta, saiu mais pobre do que entrou, elevou a arrecadação, deixou
dinheiro em caixa, construiu escolas, urbanizou ruas, aplicou a lei sem
distinções e colocou o funcionalismo público para trabalhar. Isso tudo entre
1928 e 1930.
O mestre Graça escreveu
nos seus relatórios de gestão o que hoje chamamos de boas práticas. Cito
algumas: “não
empreguei rigores excessivos. Fiz apenas isto: extingui favores largamente
concedidos a pessoa que não precisavam deles e pus termo à extorsões que
afligiam os matutos de pequeno valor, ordinariamente raspados, escorchados,
esbrugados pelos exatores”. E ainda “favoreci a agricultura livrando-a dos
bichos criados à toa; ataquei as patifarias dos pequeninos senhores feudais,
exploradores da canalha; suprimi, nas questões rurais, a presença de certos
intermediários, que estragavam tudo; facilitei o transporte; estimulei as
relações entre o produtor e o consumidor”.
Não acredito que todos os
prefeitos do Maranhão sejam como Lidiane ou tantos outros pegos pela sua
corrupção deslavada. Entretanto, ainda não conseguimos ventilar nenhum nome no
cenário atual sequer próximo ao do velho mestre Graça que governou quando não
existia FPM, FUNDEB, SUS, IPTU, ICMS, FNDE, e outros tantos. Eu acredito na
juventude, longe dos quadradismos e coitadismos.
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