Jhonatan
Almada, historiador, escreve às sextas-feiras no Jornal Pequeno
Os resultados do Exame
Nacional do Ensino Médio são repetitivos. Primeiro, o desempenho das escolas
privadas (de elite) sempre está acima das escolas públicas (federais, estaduais
ou municipais). Segundo, o desempenho das escolas privadas do Maranhão está bem
abaixo das escolas privadas do Centro-Sul. Vemos uma lógica de elevador que
evidencia, repito, evidencia, a baixa qualidade da escola pública em geral, a
fragilidade comparativa da escola privada local e um fracasso global em ensinar.
A pergunta fundamental é
o que a escola pública aprendeu com décadas de avaliações em escala nacional?
Pouco. Quase nada. O cerne da questão não está nas provas em si, mas numa
triangulação complexa que envolve estudantes, professores e famílias.
Desperdiçamos bilhões de reais por ano. Gastamos sem planejamento, sem priorização
e sem avaliação. Não se aprende com as evidências. Tentamos ensinar tudo de
tudo e não permitimos que os estudantes façam suas escolhas.
Colhi um depoimento de
diretora de escola pública que me pareceu digno de partilhar. Ao receber os
recursos da escola e ir comprar a merenda no supermercado local, concluída a
compra, o comerciante pergunta qual das sacolas deveria ser entregue na casa da
diretora. Sempre foi assim. A diretora comprava o da merenda das crianças e
separava uma parte para suprir sua própria casa. Ao responder que todas a
compra era da escola, o comerciante incrédulo diz que em dez anos foi a
primeira vez que aquilo acontecia.
Outro depoimento que
recolhi trata de episódio similar. O cenário agora é uma livraria. A diretora
vai comprar material de expediente e de consumo básico para as atividades
escolares. A dona da livraria logo pergunta se a diretora não quer levar o
celular lançamento que acabou de chegar, antes de ouvir a resposta, diz para
ela ficar à vontade que incluirá na nota fiscal sem problema. Todas faziam
isso. Novamente uma incrédula dona de livraria afirma que foi a primeira vez
que uma diretora não levava nada para si.
Não existe transparência
na escola pública em relação aos recursos que recebe. O Portal da Transparência
não alcança as escolas e seus respectivos diretores. Os Colegiados e os Caixas
Escolares são ficções. A participação na gestão da escola nem toca o campo do
dinheiro público. Eis aí área estratégica para uma ação republicanizante, até o
presente momento isso não foi enfrentado por nenhum governo do país.
Por que as escolas
privadas de elite são melhores? Uma infinidade de respostas. Pagam salários
maiores aos professores, porém cobram dedicação exclusiva e muito trabalho,
capacitam permanentemente, ensinam seus alunos a pensar em vez de decorar,
utilizam material didático e tecnologias educacionais de fato, exigem
desempenho dos alunos e funcionam em tempo integral. Claramente, os diretores
são lideranças do processo educacional, trabalham com metas, mobilizam a
comunidade escolar. Não são figuras complacentes com a mediocridade, corroídos
pela cultura patrimonialista.
A academia brasileira tem
pouca expertise em melhorar a qualidade do ensino, mas tem muito conteúdo
crítico produzido em relação a avaliação, rankings e desempenho. Algo curioso
em relação aos resultados do ENEM foi o destaque dos Colégios Militares,
escolas vinculadas às polícias ou forças armadas; e dos Colégios de Aplicação,
escolas vinculadas às Universidades Federais que funcionam como campo de
estágio dos estudantes dos cursos de licenciaturas e espaços de experimentação
e inovação no ensino.
O Maranhão recentemente
começou a criar Colégios Militares, mas de forma pouco consistente quanto ao
processo de institucionalização. O Colégio Universitário (COLUN), vinculado a
Universidade Federal do Maranhão (UFMA) continua sendo o único no Estado. A
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) não possui Colégio de Aplicação. São
caminhos a se pensar, mas se não há consistência nessa pequena rede, quanto
mais expandindo-a.
O caminho seria
oferecer educação integral em tempo integral? Tenho convicção de que isso
contribuirá para melhorarmos, mas não solucionará todos os problemas. A escola
pública vai mal no ensino cotidiano do seu conteúdo de língua portuguesa,
matemática, história etc. Acreditar que ensinaremos tudo isso em um turno de
aula com metodologia expositiva, é uma tremenda ilusão. Não há solução fácil
para as pesadas redes públicas de ensino e suas megasecretarias.
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