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O PODER COMO SERVIÇO

Jhonatan Almada, historiador, escreve às sextas-feiras no Jornal Pequeno

A mudança cultural é um processo lento de transformação das práticas sociais que invariavelmente gera resistências por parte da sociedade, organização ou instituição em que ocorre. A introdução de novos conceitos que se materializam em novas práticas, tais como, a transparência, a integração, a inteligência colaborativa e a intersetorialidade, implica no despertar de seus opostos combativos, os segredos de Estado, a demarcação de territórios de influência em disputas abertas ou fechadas pelo poder, a inteligência competitiva e a setorialização. Lidar com a cultura instituída no serviço público exige dos gestores sabedoria para não sucumbir e perseverança para não desviar do caminho.

Esses opostos combativos surgem tanto dos que já estavam habituados às práticas sociais de planejamento e gestão da coisa pública, quanto aos que chegam, quando ambos não conseguem traduzir os princípios e as diretrizes estratégicas legitimadas nas urnas em novos comportamentos e práticas de governo. A união para gerar os resultados e melhorar a vida das pessoas, objetivo primordial de um projeto de mudança do Maranhão, não é abstrata, corporifica-se nas relações e ações. Existem os que fincam os pés na imobilidade; transferem equívocos ou impõe divisões cartesianas; não atentam para a envergadura da função pública, se perdem na busca das partes que lhes cabem no latifúndio imaginário do poder; por outro lado, existem os que apreendem e praticam com verdade efetiva os princípios e as diretrizes acordados, compartilhando e chamando para o compartilhar.

O Plano Mais IDH é um bom exemplo de articulação intersetorial e colaborativa em prol da melhoria dos indicadores de longevidade, educação e renda dos 30 municípios em situação precaríssima não só nos rankings, mas na vida real das pessoas que ali vivem. Trabalhar juntos em prol de um objetivo comum alimenta de sentidos o ser e o fazer individual ou setorial. O desafio é viabilizar a convergência das ações governamentais navegando pela teia de exigências burocráticas e legais com desenvoltura e precisão. Ao lado disso, unir as forças daqueles que não estão na governança da ação, mas podem contribuir para sua efetividade.

O Programa CNH Jovem recentemente lançado evidencia a integração entre o DETRAN-MA e a Secretaria de Juventude, símbolo de trabalho conjunto no atual governo. O objetivo do programa é fornecer gratuitamente carteiras de habilitação para os jovens entre 18 e 21 anos, egressos da rede pública de ensino médio e com boas pontuações no ENEM. Isso gera oportunidade de trabalho e resgata para a possibilidade de uma vida digna, milhares de jovens que engrossam as estatísticas daqueles que nem trabalham, nem estudam. Essa é uma das iniciativas mais importantes em termos de novas ideias e ações para incentivar a geração de trabalho. O desafio é dar a maior transparência possível às inscrições, selecionados ou sorteados por intermédio de plataforma digital pública e amigável.

A FAPEMA pela primeira vez divulgou a lista completa dos seus bolsistas, medida inédita de transparência. Além disso, realizou oficinas de planejamento e participação social para socializar a discussão e a definição de dois editais dos novos programas “Universidade para Todos Nós” e “Tecnologias Sociais”, inaugurando nova forma de construir a política de fomento à pesquisa. Os programas financiarão projetos de extensão universitária e projetos de pesquisa para a superação de problemas socioeconômicos. O desafio é aprovar projetos alinhados aos objetivos estabelecidos e conquistar a adesão da comunidade acadêmica às novas ideias.

A Secretaria de Saúde e a Secretaria da Mulher teceram iniciativa fundamental para a garantia do direito à saúde integral da mulher como política de Estado. A implementação de ações voltadas para a atenção primária tendo por foco a redução da mortalidade materna e a prevenção de doenças materializa a intersetorialidade e a transversalidade dessas políticas públicas. O desafio é humanizar o quadro de pessoal da saúde em consonância com as novas diretrizes, além de conduzir processo educativo com as mulheres sobre o cuidado de si.


O Papa Francisco, estadista dos tempos atuais, ao nos convidar a sermos “aquele sal que dá sabor” afirmou em uma de suas meditações matutinas que o verdadeiro poder é o serviço. Não se trata do poder pelo poder ou da disputa em torno de quem pode menos ou pode mais. Muitos e por muito tempo se serviram do Maranhão, nosso desafio maior é superar essa cultura do servir-se e praticar de mãos dadas, irmanados, a cultura do servir. Por fim e para que isso ocorra, entendo ser indispensável despir-se das vaidades armadas e purgar-se da mesquinhez desses opostos combativos.

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