Jhonatan Almada, historiador,
escreve às sextas-feiras no Jornal Pequeno
É com grande satisfação
que vejo a retomada da cooperação internacional pelo atual Governo. A vinda dos
embaixadores da China e de Cuba foi o primeiro passo. Tenho absoluta convicção
da importância e dos benefícios da cooperação internacional para nosso estado,
hoje mais do nunca precisamos desprovincianizar o Maranhão e inseri-lo em círculo
virtuoso de relações e prosperidade.
A propósito disso, o
conhecimento das experiências internacionais e os estudos de educação comparada
permitem duas constatações muito claras em relação às políticas públicas de
educação e ao ensino de graduação do Brasil: o fracasso dos programas nacionais
de alfabetização e a falência do modelo de formação dos cursos de medicina.
Desde a experiência do
Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), criado durante a ditadura
militar de 1964, ao atual Programa Brasil Alfabetizado, milhões foram gastos do
fundo público sem êxito para a erradicação do analfabetismo no país. Penso que
a única coisa que mantem esses programas é a indústria da alfabetização que se
formou no entorno deles, instrutores, monitores, tutores, capacitações,
material didático, diárias, viagens e tudo mais.
Se tivéssemos a sério
adotado a metodologia de Paulo Freire nos anos 1970 e priorizado a
alfabetização esse problema há muito estaria resolvido. Por outro lado e em
contraste, a metodologia de Cuba (Si, yo puedo) com módicos recursos e educação
a distância, erradicou o analfabetismo na Venezuela e na Bolívia, onde mais de
3,5 milhões de pessoas foram alfabetizadas. Os dois países foram declarados
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco)
como territórios livres do analfabetismo e o método recebeu o Prêmio de
Alfabetização Rey Sejong. Atualmente, o método é aplicado em dezenas de países
do mundo e contextualizado para cada país nos idiomas espanhol, inglês,
português, criolo, aymará, quéchua, tetum e francês.
Existem duas
resistências a serem contornadas, daqueles que colocam o método cubano em
oposição ao método freiriano, sem nunca tê-lo lido, entendido ou praticado e dos
que desejam manter tudo como está seguindo exclusivamente os programas federais
existentes.
Médicos como Maria
Aragão não são a regra no Brasil, são a exceção. O curso de Medicina nascido
desde a época colonial para atender a realeza, permanece elitista, racista,
machista e seletivamente xenofóbico. Apesar do longo processo de formação, o
currículo não tem por foco o ser humano e a prevenção das doenças, mas sim o fornecimento
de profissionais liberais endeusados pela capacidade de curar a doença. O
compromisso essencial é com a abertura do próprio negócio (consultório,
clínica, hospital, etc), enquanto o trabalho no setor público é considerado complementação
de renda.
A Colaboração Médica
Internacional Cubana que ocorre desde 1963 se materializa pelo envio de
médicos, especialistas, técnicos e enfermeiros para realizar atividades
assistenciais e de ensino, apoio na criação de faculdades de Medicina (11 no
total, sobretudo em países africanos), assessoramento na elaboração e desenvolvimento
de programas de saúde, realização de estudos diagnósticos de saúde e formação
de médicos. No balanço de 49 anos desse trabalho, Cuba enviou 134 mil equipes
médicas para 108 países da África, América, Europa, Ásia e Oriente Médio,
mantendo essa mesma colaboração em 74 países com 38 mil equipes atuantes.
Nesse âmbito, o
trabalho de Cuba atendeu 14,6 milhões de pessoas no mundo, realizou 151 mil
intervenções cirúrgicas, atendeu 3,9 milhões de crianças menores de 1 ano,
realizou 95 mil partos, aplicou vacinas em 2,9 milhões de pessoas e capacitou
em serviço 561 mil profissionais da saúde. Isso tudo, em um país com 11 milhões
de habitantes que dá valor a cada centavo de seu PIB de 68 bilhões de dólares
(2011). Só para comparar, cabem na cidade de São Paulo e sua economia
representa pouco menos de uma Petrobrás (R$ 179 bilhões).
Falta-nos humildade
para aprender com os cubanos, falta-nos vergonha para reconhecer nossa
ignorância em relação a Cuba e falta-nos honestidade para aplicar o dinheiro
público corretamente e em benefício da população. O Maranhão agradece ao grande
povo de Cuba pela prática de verdadeira solidariedade internacional que muito
contribuirá para tirar-nos do extravio da história. Sejam bem-vindos!
Comentários
Postar um comentário