Jhonatan Almada, historiador,
escreve às sextas-feiras no Jornal Pequeno
Os que produzem discursos
no Maranhão sejam intelectuais, militantes ou sociedade civil organizada, os
úteis dispostos, experimentam conjuntura inédita. A derrota do antigo regime e
a vitória do projeto político do atual governo abriu uma oportunidade para
todos. Aqueles que até outubro de 2014 não teriam acesso a qualquer senda de
mídia, dispõem agora de uma avenida às suas críticas. Por que isso ocorreu?
Ora, a mídia de maior capilaridade e penetração é controlada pela família que
perdeu a eleição, a qual tem interesse em enfraquecer e achincalhar o governo,
lançando mão de suas próprias forças ou dos úteis dispostos. Estes últimos, carregados
de boas intenções ou não, vivem o deslumbre dessa luz, como os sapos do poema
de Manuel Bandeira.
A cidadania
classicamente é conceituada como o exercício dos direitos civis, políticos e
sociais pelos cidadãos de forma plena em uma determinada sociedade. Ao longo da
história do Brasil, a cidadania encontrou inúmeros percalços para se firmar,
direitos políticos sem direitos civis, direitos civis sem direitos políticos,
direitos sociais sem direitos civis e políticos. No caso do Maranhão, a
cidadania ainda apresenta fortes defasagens e descaminhos em relação aos
direitos civis, políticos e sociais. O domínio político de um mesmo grupo por
décadas fez germinar a cultura de que os direitos pertencem a alguns e os
deveres a nenhum, distantes do povo como produto de luxo para consumo de poucos
privilegiados.
Temos discutido como as
práticas de Cidadania Digital podem
contribuir para a ampliação e efetividade do exercício da cidadania no
Maranhão. Cidadania digital é ter direito à cultura digital, meios, espaços e
instrumentos que potencializem o exercício de direitos pelos cidadãos, seja
acompanhando os gastos do governo (Portal da Transparência, Acesso à Informação,
Ouvidoria), formulando políticas públicas (Plataformas de Participação Popular,
Consultas Públicas) ou acessando serviços públicos (Documentos oficiais,
Matrícula On-Line, Marcação de Consultas, Plataformas de Exames Médicos, Cursos
Profissionalizantes).
Inúmeras são as
possibilidades e as áreas da Cidadania Digital. O principal militante da
cidadania digital é o próprio governador Flávio Dino, ao usar as redes sociais
para tornar as decisões mais acessíveis ao público e dialogar diretamente com
as pessoas. Essa ação é das que mais causam horror aos antigos donos do poder
pelo apreço aos jogos de bastidores, conchavos de gabinete e acertos de cúpula.
Medidas sem custo ou de
baixo custo com impactos significativos para o Governo do Estado do Maranhão
podem ser adotadas no âmbito da Cidadania Digital, especificamente na área de
governo eletrônico. Não faz mais sentido produzir papéis e documentos oficiais
que dizem respeito à comunicação interna dos diferentes setores e órgãos,
existindo sistemas de gestão que utilizam memorandos eletrônicos para o mesmo
trabalho, economizando papel, combustível e a manutenção ou aluguel de
veículos, eliminando as distâncias geográficas, além de conferir agilidade e
dinamismo na velocidade da máquina pública.
Também não faz mais sentido
que o cidadão se desloque de sua casa até uma repartição pública com o objetivo
de requerer declarações ou documentos oficiais, os quais tranquilamente
poderiam estar disponíveis de forma digital e acessíveis nos sites
institucionais para impressão e autenticação eletrônica. A única coisa que
impede essa facilitação tecnológica é a resistência da própria burocracia em
perder uma de suas justificativas de existir, talvez a que mais impacte nos
custos de manutenção da força de trabalho, mais útil em atividades-fim do que
em atividades-meio. Chama a atenção, por exemplo, que apesar do Portal do
Servidor permitir acesso imediato ao contracheque dos funcionários, se continue
imprimindo os tais contracheques. É o cúmulo da resistência de uma cultura
organizacional ultrapassada e cega ao mundo.
Não basta juntar tudo
numa cesta digital e colocar o nome de serviços ao cidadão no site
governamental, importante gestar de forma inteligente, articulada e orgânica
essas facilitações tendo por norte o fortalecimento do exercício de direitos em
linguagem comum, padrões reconhecíveis e plataforma amigável. Nesse caminho,
não tenho dúvidas, a Cidadania Digital será uma das marcas do governo em curto
espaço de tempo.
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