Jhonatan Almada, historiador,
escreve às sextas-feiras no Jornal Pequeno
jhonatanalmada@gmail.com
O modelo de desenvolvimento baseado em
grandes projetos não funcionou no Maranhão, vide o Programa Grande Carajás. Nascido
no seio da ditadura resultou em êxodo rural, periferização, cadeia produtiva
restrita, baixo valor agregado, nada de impostos, nos deixando a ver navios. A
ideia de uma Refinaria no Maranhão aportou a mesma fantasia quando da instalação
da Alumar nos idos de 1980. A Refinaria é o segundo golpe do antigo regime nessa
seara, verifique-se quem se beneficiou dos recursos aplicados e aguarde-se a
conclusão da Operação Lava Jato da Polícia Federal.
A elite política tem enorme dificuldade
em aprender com o passado. Exigir que o Governo do Estado se mobilize em prol da
Refinaria, a meu ver, significa equívoco e desperdício de esforços, mentalidade
retrógrada. Até os maiores produtores de petróleo sabem que isso acabará, tanto
que possuem grandes fundos de investimento dedicados a serviços e tecnologia. A
dúvida, hoje tênue, é saber se o petróleo acabará conosco primeiro por meio das
guerras, poluição e sectarismo. Toda uma cultura material e alimentar é sustentada
nos derivados do petróleo (carros, asfalto, plásticos e embalagens para
alimentos), desafiando a ciência na busca de alternativas viáveis, sustentáveis
e substitutivas.
O caminho para a construção de um novo modelo de desenvolvimento do
Maranhão se assenta nas energias renováveis (eólica, solar, de ondas e
biomassa), na economia do conhecimento e na agricultura de orgânicos. O Estado
do Maranhão pode se tornar referência nessas áreas. Aqui sim concordo em
mobilizar o Governo, empresariado, políticos e sociedade em frentes cívicas
para a elaboração e implementação de projetos, captação de recursos e atração
de investimentos, fomento a pesquisa e inovação.
Ciência, tecnologia e inovação devem ser
os eixos direcionadores desse novo modelo, o que exige, por um lado, investimento
vultoso e obsessivo, por outro, soluções inteligentes e sem custos. Esses eixos
articulariam programas estaduais para apoio e fomento ao novo modelo,
combinando o fortalecimento do mercado interno e uma inserção altiva no mercado
nacional e internacional. Para tanto, redes locais, nacionais e internacionais
de cooperação acadêmica são indispensáveis, bem como, a formação de
pesquisadores com inserção em arranjos público-privados de produção do
conhecimento e inovação no mundo produtivo.
O investimento vultoso e obsessivo em um
Estado endividado e oprimido pelas disputas em volta do fundo público implicará
em mudanças legais para a criação de fundo específico com esse objetivo, bem
como, o estímulo à criação de fundos patrimoniais (endowment) no âmbito das
instituições de ensino e pesquisa locais, todos protegidos do contingenciamento
orçamentário. Estamos atrasados, mas creio que o Maranhão dará passos largos em
pouco tempo, especialmente com as perspectivas abertas pela política estadual
de ciência, tecnologia e inovação do novo governo.
As experiências mais exitosas de fundos
patrimoniais ou endowment funds estão nos Estados Unidos. Os ativos dos fundos
da Harvard University, Yale University, Princeton University, dentre outras,
somam dezenas de bilhões de dólares cada um. Formados por doações de
empresários, ex-alunos, heranças e aplicações no mercado, esses fundos garantem
estabilidade e continuidade aos investimentos em pesquisa e infraestrutura
dessas instituições.
A economia do conhecimento demarcada
pelas startups, parques tecnológicos e indústria aeroespacial são a nova
fronteira da economia, elevando o mundo produtivo a outro patamar, modificando
inclusive as relações de trabalho. A experiência de Startup do Chile é um dos
programas internacionais mais exitosos, garantindo apoio financeiro, técnico e
relacional para empreendedores locais e estrangeiros que desejam desenvolver
ideias, produtos, processos e negócios inovadores, mobiliza mais de 1 bilhão de
dólares no país.
O potencial da agricultura de orgânicos
no Maranhão, de base familiar ou a partir de cooperativas agrícolas é muito
grande. O campesino maranhense com financiamento, assistência técnica
permanente e acesso aos mercados para comercialização, certamente, alcançará no
médio prazo, prosperidade econômica e maior qualidade de vida. Esse mercado
movimenta milhões de reais no Brasil e bilhões de dólares no mundo, os
prejuízos e as doenças disseminadas pela produção de alimentos com uso
extensivo de fertilizantes e agrotóxicos também é um caminho que acabará.Talvez
conosco primeiro, caso não consigamos empreender esse novo modelo de
desenvolvimento.
O novo modelo de
desenvolvimento em construção deve incorporar e potencializar esses elementos, mais
ainda, somar inteligências e forças para que as oportunidades gestadas possam
efetivamente ser de todos e cada um.
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