Jhonatan Almada, historiador e quadro técnico da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Os historiadores continuam gostando de datas. O dia 19 de dezembro de
2014 ingressa no Calendário histórico de um Maranhão mais justo e desenvolvido
com a diplomação do governador eleito Flávio Dino. É emblemático, pois
simboliza a esperança da mudança, sentimento verdadeiro e genuíno naqueles e
naquelas que ainda acreditam na política como instrumento de transformação
social e de luta pelo bem comum do povo.
Eduardo Galeano, no livro Os
Filhos dos Dias, reserva para o dia 20 de dezembro, o texto “O encontro”:
A porta estava fechada:
- Quem é?
- Sou eu.
- Não conheço você.
E a porta continuou fechada.
No dia seguinte:
- Quem é?
- Sou eu.
- Não sei quem você é.
E a porta continuou fechada.
E no outro dia:
- Quem é?
- Sou você.
E a porta se abriu.
(Do poeta persa Farid al-din Attar, nascido em 1119, na cidade de Nishapur)
Esse texto remete ao encontro do Maranhão consigo mesmo, com as
maiorias heterogêneas que somente agora, após décadas de hegemonia do mesmo
grupo político e frustrados movimentos de ruptura, conseguiram expressar-se com
a vitoriosa eleição de Flávio Dino para o mandato de Governador do Estado.
A porta que se abre é uma oportunidade ímpar para essa geração. Convidada
a assumir cargos dirigentes pelo governador, tem, com ele, a enorme responsabilidade
de ser
mais e fazer mais. Em tempos
de crise ética infindável, possuir abnegação no exercício do cargo e
compromisso com o trabalho pelo bem comum do povo torna-se indispensável para
retirar o Maranhão do extravio. Não é uma premiação, mas uma honra, convite
para entrar e diuturnamente justificar a confiança da designação com trabalho
aplicado e dedicação. Servir, nunca servir-se.
Para além do desafio individual está o desafio de agir coletivamente
guiados por um projeto comum, em boa parte presente no programa de governo de
Flávio Dino. A partir de 1º de janeiro de 2015, ano do planejamento para
2016-2019, esse programa precisará se tornar plano, momento fundamental de
ajustes das propostas e expectativas no encontro com a realidade, como bem diz
Manoel da Conceição. O cenário fiscal ruim e as experiências pretéritas não
recomendam ações isoladas e setoriais, melhorar os indicadores sociais do
Maranhão, demanda ação coordenada e intersetorial mais do que nunca. Não foi
mera coincidência o governador eleito Flávio Dino escrever “equipe de governo”
ao anunciar secretários e titulares de autarquias e fundações.
Na medida em que as equipes do governo eleito tomam conhecimento da
situação deixada pelo Governo Roseana Sarney fica cada vez mais palpável a
herança negativa deixada, o que interferirá na construção do plano do novo
governo, apesar de não sabermos ainda em que proporção.
Roseana não deixa legado, deixa herança e negativa. Legado é o
conjunto de ideias emblemáticas que direcionam ou direcionaram a ação
governamental, a qual pode ou não ser materializada em obras, mas jamais o
legado se reduz a isso. A herança é mais concreta e objetiva perfaz as obras
inconclusas e pagas; convênios liberados e irrealizados; precatórios pagos pelo
expediente da propina; endividamento público crescente; terceirização exacerbada;
contratação de empreiteiras dos amigos ou parentes; emprego de familiares e
agregados; direcionamento dos editais de licitação; ausência de transparência
na aplicação dos recursos públicos; usurpação de espaços públicos para fins
particulares, dentre outros.
Esses são alguns elementos que permitem uma aproximação com a herança
de Roseana, um dos desafios a ser enfrentado pelo governo eleito. O diálogo com a historiadora Lígia Teixeira tem nos encaminhado para o trabalho conjunto de dimensionar essa herança e construir uma narrativa fiel do recebido pelo governo eleito. Entretanto, sem disso esquecer, penso que o momento é de
alegria e congraçamento, brindemos ao encontro do Maranhão consigo mesmo!
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