Bira
do Pindaré, deputado
estadual e futuro Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação do
governo Flávio Dino
Jhonatan
Almada, técnico
em assuntos educacionais na Universidade Federal do Maranhão
Para compor o quadro em que se
encontra a Ciência e a Tecnologia no Maranhão é fundamental recorrermos aos
principais indicadores produzidos sobre o assunto, em especial os do IBGE/PNAD,
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), CNPQ, Finep, Inep, bem
como, os indicadores produzidos pelo próprio Governo do Estado, cuja gestão ora
termina. É indispensável analisarmos a situação da área de Ciência, Tecnologia
e Inovação (CT&I), da área de ensino superior e da área de educação
profissional e tecnológica no Maranhão.
Em relação ao IBGE/PNAD (2011,
2013), o Governo Flávio Dino herdará um estado onde somente 15,8% dos lares
maranhenses possuem microcomputador e acesso a internet, tornando-nos a unidade da federação com o menor índice de
utilização da Internet pela população, 24%.
O
MCTI (2012) aponta que temos o menor orçamento em Ciência e Tecnologia do
Nordeste, e ficamos em 24º lugar no ranking nacional. A FAPEMA
é a principal agência de fomento e aplica a quase totalidade dos recursos
disponíveis, pouquíssimo é investido pela AGERP em pesquisa agropecuária ou
pelo IMESC em pesquisa socioeconômica. A UEMA investe somente 4,05% em Pesquisa
& Desenvolvimento, a maior parte do orçamento é consumida com folha de
pessoal, sobretudo contratados.
Apesar de existir uma tendência de
crescimento na produção científica maranhense, fruto, sobretudo, da expansão da
rede de Institutos Federais e dos novos campi da UFMA com a consequente ampliação
do número de docentes com doutorado, a apresentação de pedidos de patentes é
decrescente. Isso significa que além de pesquisarmos pouco, quase nada disso se
transforma em alguma inovação, técnica ou produto aplicado ao desenvolvimento
econômico estadual.
A cultura das instituições de ensino
superior locais ainda é fortemente de ensino de graduação e fracamente voltada
para a pesquisa, apesar dos avanços dos últimos anos. Isso se materializa,
entre outras coisas, no pequeno número de projetos de pesquisa elaborados e na
dificuldade de obter financiamento por parte das agências nacionais de fomento,
como CNPq e FINEP. É sintomático que o maior número de bolsas concedidas pelo
CNPq se concentra na Iniciação Científica e que somente 6 projetos foram
aprovados junto ao FINEP nos últimos quatro anos.
O quadro atual da Secretaria de
Estado da Ciência e Tecnologia (SECTEC) não é dos mais animadores, de fato
ocorreu uma despriorização que colocou a razão de ser da Secretaria em segundo
plano. Nos últimos 6 anos (2009-2014), a SECTEC atuou como agência de
capacitação de trabalhadores fornecendo cursos de curta duração, relegando a
área da ciência, tecnologia e inovação. Para citarmos apenas um exemplo
emblemático, em 2014, das 27 Unidades Federativas, somente 4 ainda não possuíam
Lei de Inovação, entre essas, está o Maranhão.
Não há Política Estadual de C, T & I
formulada, o que implica na ausência de foco, sem linhas prioritárias de
investimento dos recursos e clareza quanto à política de fomento à pesquisa. Há
problemas de transparência em relação às bolsas institucionais de
desenvolvimento tecnológico da FAPEMA e de contratos vultosos da UEMA com
Fundações de apoio.
Criado pela Lei Nº 7.854, de 31 de
janeiro de 2003, o Sistema Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
e o respectivo Conselho Estadual de C, T & I não funcionam. Dessa forma, a
comunidade científica maranhense não influencia e sequer participa da
formulação da agenda governamental de CT&I. Isso se soma ao fato de não
haver Fundo específico de financiamento da CT&I e da Secretaria pautar-se
na realização de tão somente 2 grandes eventos anuais.
No que diz respeito ao ensino superior,
o Governo do Estado possui uma única Universidade Estadual multicampi, presente
em 22 municípios com 160 cursos regulares de graduação, sem contar os cursos na
modalidade à distância. O último Censo da Educação Superior do Inep (2013)
aponta que de 1.086 funções docentes da UEMA, somente 294 atuam em tempo
integral, a instituição é sustentada majoritariamente por docentes temporários.
Desse total, somente 259 possuem Doutorado. Tal quadro aponta que a instituição
atua muito no ensino de graduação (foco das Faculdades) e pouco na pesquisa
(foco das Universidades), pois não possuí docentes com tempo suficiente e titulação
necessária para desenvolver as duas atividades. O problema recente de 420
contratos cancelados e 5 meses de atraso no pagamento não é ponto fora da
curva, mas prática recorrente. Inobstante, reconhecer-se a interiorização da
UEMA e os esforços dos últimos anos para o crescimento da pós-graduação, a
instituição continua com produção científica pequena e de baixo impacto.
O painel Lattes/CNPq (2014) aponta
que no ensino superior público o Maranhão possui 1.135 doutores cadastrados na
plataforma Lattes, número reduzidíssimo em comparação aos 21.465 da Região
Nordeste e 102.071 do Brasil. Isso nos coloca em antepenúltimo lugar em número
de doutores atuando na área de pesquisa e ensino na Região Nordeste, a frente
de Piauí e Alagoas.
A educação
profissional e tecnológica tem sido mantida pela Rede Federal. Se por um lado,
a tendência nacional e regional é a predominância da REDE ESTADUAL na oferta de
Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, no caso do Maranhão, observa-se
que a REDE FEDERAL assumiu o protagonismo da oferta ante uma atuação
extremamente tímida da REDE ESTADUAL. Isso confere ao Maranhão, o 6º lugar no
ranking do Nordeste e o 16º lugar no ranking do Brasil. Frise-se que a
diferença quantitativa de matrículas entre o Maranhão e os demais Estados em
posição superior no ranking é enorme. Além disso, o Maranhão
não oferece educação profissional diretamente, esse papel é praticamente da
REDE FEDERAL e da REDE PRIVADA, a tal ponto que ocupa o último lugar no ranking
do Nordeste e do Brasil.
Diante desse cenário, deixado pelo
Governo Roseana Sarney como herança negativa, a nova gestão da SECTEC em
consonância com as diretrizes do programa do governador eleito Flávio Dino,
buscará em forte articulação estadual, nacional e internacional a ampliação e
descentralização da oferta de educação superior e profissional por intermédio
da criação do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA) e
das Universidades Regionais; a promoção de um ambiente de inovação e empreendedorismo
articulado com a produção científica e tecnológica, bem como, com a inclusão
social e digital; a ampliação da produção científica e tecnológica, retirando o
Estado dos últimos lugares no ranking nacional;
duplicação do número de pesquisadores e bolsistas atendidos pela FAPEMA; duplicação
do número de programas de mestrados e triplicar o número de programas de
doutorado no Maranhão; consolidação e ampliação dos novos programas,
contribuindo para uma produção de ciência, tecnologia e inovação sintonizadas
com as prioridades do estado em termos de inclusão social, sustentabilidade
ambiental e competitividade; apoio e valorização das Olimpíadas Estaduais
(Matemática, Português, Física, Química, Biologia, etc); bem como, a disponibilização
do incremento tecnológico necessário para o desenvolvimento das atividades
econômicas peculiares ao Maranhão (babaçu, bacuri, juçara, buriti, caranguejo,
etc).
Necessitaremos do
apoio da sociedade e comunidade acadêmica maranhense no esforço coletivo de
implantarmos efetiva Política Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação
materializada em Plano Estadual de longo prazo, Fundo setorial e instrumentos
legais de fomento à pesquisa e inovação para mudarmos esse quadro em bases
sólidas. Não se trata somente de uma Política de Governo, mas da convicção de
que o Maranhão precisa de uma Política de Estado para a área de Ciência,
Tecnologia e Inovação. Eis nosso desafio para contribuir com a construção de um
Maranhão desenvolvido e justo!
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