São Luís e a educação sem norte
Jhonatan Almada
Jhonatan Almada
Historiador, Mestre em Educação pela UFMA e secretário executivo da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae) no Maranhão.
Passada a refrega eleitoral, os prefeitos (as)
eleitos (as) começam a organizar a transição entre a administração anterior e a
futura administração municipal. Esse período sempre carreou muitos problemas
nas últimas décadas, especialmente pela tendência da “queima de arquivo”.
Tradicionalmente, os antigos administradores que não conseguem se reeleger ou
eleger o sucessor praticam a queima dos documentos, computadores e outros materiais
ligados a memória institucional da Prefeitura. Impossibilitam, assim, que os
novos gestores tenham conhecimento do feito, do pendente e do não cumprido.
Quase sempre, a transição não ocorre de maneira republicana e transparente. Espero
que não seja o caso de São Luís.
As
primeiras declarações do novo prefeito de São Luís, Edvaldo Holanda Júnior, dão
conta de que suas prioridades serão a educação e a saúde. Em relação à
primeira, arriscamos algumas reflexões com base no que foi praticado nos
últimos quatros anos durante a administração de João Castelo.
O
primeiro aspecto da educação municipal nesse período foi a instabilidade
administrativa. A Secretaria Municipal de Educação teve quatro titulares ao
longo do mandato: Moacir Feitosa, Suely Tonial, Othon Bastos e o último,
Albertino Leal. Praticamente um secretário para cada ano do mandato. Isso
significa que o município de São Luís não construiu uma política educacional,
entre outros fatores, por falta de liderança estável à frente da Secretaria.
Isso se explica, em parte, pela tendência centralizadora do prefeito e o temor
de dar autonomia de trabalho à Secretaria cujos recursos perfazem um dos
principais orçamentos.
A
educação municipal deixou de cuidar da qualidade e dos resultados do processo
educativo, se tornando uma agência complementar da política social ancorada no Programa
Bolsa Família do Governo Federal. Tanto que a maior realização debatida e utilizada
como instrumento de coação do eleitor foi o Programa do Leite. Além da entrega
do fardamento escolar. Ora, tudo isso e muito mais se tornou dever do Estado
(União, Estados e Municípios) com a mudança do inciso VII, do art. 208, da
Constituição Federal de 1988. É obrigatório atender ao educando, em todas as
etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material
didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Essa mudança legal
ocorreu em 2009, pela Emenda Constitucional n.º 59. Sua efetivação é que tem
sido postergada.
Outro
aspecto foi a reforma e a construção de escolas. Algo normal e usual em toda
Prefeitura, ela foi prejudicial em dois sentidos. Primeiro, interrompeu o ano
letivo na maioria das escolas da rede pública municipal, deixando um prejuízo
irrecuperável em termos de conhecimento que não pôde ser desenvolvido. É
irracional pensar que as professoras e professores conseguiram ensinar o
conteúdo de 1 ano escolar em 3 meses de aulas. Segundo, essa medida não alterou
em nada a prática de manter dezenas de anexos, cujas condições de trabalho são
desumanas e inadequadas para o desenvolvimento educacional das crianças e
adolescentes de São Luís. Conforme dados da própria Secretaria Municipal de
Educação, em 2012, temos 77 anexos para 171 escolas. Praticamente 45% das
escolas são anexos, não são escolas de fato. Assim, uma boa parcela da educação
municipal vive na improvisação de prédios alugados. Certamente, a manutenção
dessas dezenas de alugueis e locatários interessa a algumas pessoas que disso
se beneficiam.
Um
último aspecto que reforça a inexistência de uma política educacional no
município de São Luís é que não há um Plano Municipal de Educação, a exemplo do
Estado do Maranhão. Durante os últimos quatro anos não se soube o que se
efetivamente queria para a educação pública municipal de São Luís e continuamos
sem saber o que se quer para os próximos 10 anos. E não adianta produzir um
documento de gabinete sem força de lei. Ora, o último Plano Nacional de
Educação (2001-2011) era uma lei aprovada pelo Congresso Nacional e a maioria
de suas metas não foi cumprida. Quem dirá um documento de gabinete com tabelas
e gráficos coloridos sem força de lei.
Em síntese, tivemos uma educação sem norte ao longo de toda a
administração de João Castelo. O planejamento educacional materializado em um
Plano Municipal de Educação, aprovado como lei pela Câmara Municipal de São
Luís seria o ponto de partida para uma política educacional concreta, a qual enfrentasse
os principais problemas, emergências, urgências e desafios no curto, médio e
longo prazo. Entendo que esse é o desafio número 1 do novo prefeito de São Luís
em relação à educação municipal.
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