Jhonatan Almada, diretor do Ciepp
Essa pergunta sempre me vem à mente quando observo o contínuo processo de escandalização em torno dos resultados dos estudantes brasileiros em Matemática. É inegável que há um problema, e ele não é novo.
Apesar disso, precisamos reconhecer que o Brasil possui excelentes instituições na área de pesquisa em Matemática, como o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), que é uma referência internacional. Já quando se trata do ensino básico, os resultados de avaliações internacionais frequentemente são usados para expor o problema, mas eles não explicam as razões por trás desse desempenho. A imprensa brasileira, muitas vezes, deseja que essas avaliações tragam respostas prontas, mas elas não foram desenhadas para isso.
Na verdade, não precisamos dessas avaliações internacionais para diagnosticar o problema, já que as avaliações nacionais do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) já fazem esse trabalho há anos. A questão central, porém, não é apenas diagnosticar o problema, mas entendê-lo profundamente e buscar soluções que vão além do que essas avaliações mostram. Nesse ponto, ainda não avançamos o suficiente. Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) anunciou uma iniciativa que parecia genial: ouvir os professores da educação básica. Para isso, divulgou uma parceria com a Fundação Itaú e associados.
No entanto, na mesma semana, a principal associação científica da área de educação, a Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), liderou um Manifesto que critica duramente essa abordagem. O Manifesto aponta que as Secretarias de Educação têm substituído parcerias tradicionais com universidades públicas por contratos com fundações privadas, como a Fundação Itaú, o que levanta preocupações sobre a transparência e a legitimidade desses processos. O que mais chama atenção é que o MEC parece não ter dado atenção a esse Manifesto. Não há registros de uma chamada pública ou manifestação de interesse que justificasse a escolha da Fundação Itaú como parceira nesse projeto. Isso sugere falta de transparência, algo que não deveria acontecer em um órgão que precisa dar o exemplo de gestão democrática.
O MEC ainda não aprendeu a utilizar instrumentos simples, como uma chamada pública aberta e transparente, que permita a todas as instituições brasileiras, públicas ou privadas, contribuírem com ideias e soluções. Seria tão fácil, por exemplo, abrir um debate amplo com a pergunta: quais são os principais problemas do ensino de Matemática e o que podemos fazer? Tenho certeza de que universidades, institutos e ONGs teriam grande interesse em propor estratégias e soluções. O problema surge quando decisões são tomadas entre cúpulas, partindo do pressuposto de que uma entidade específica já tem a solução mágica para os desafios da educação brasileira.
Essa lógica também se reflete em outras ações recentes. O INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), por exemplo, convidou aleatoriamente algumas instituições para discutir as avaliações e o novo IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), sem seguir um processo democrático e inclusivo. Parece que esses órgãos ainda não compreenderam que o princípio da gestão democrática do ensino não se aplica apenas às escolas, mas também a eles próprios.
Outro ponto que causa espanto é a aparente falta de interesse em pesquisar o conhecimento já produzido sobre o ensino de Matemática no Brasil. Será que não há produção relevante na pós-graduação brasileira? Ou será que só se valoriza o que vem de instituições como Stanford? Esses detalhes fazem toda a diferença e não podem ser ignorados.
Por isso, faço um apelo direto ao ministro Camilo Santana: é necessário rever esse encaminhamento e torná-lo mais democrático. É preciso abrir espaço e dar oportunidades justas a todos que desejam contribuir – e há muitos dispostos a isso. Cada problema da educação brasileira precisa de um debate amplo, transparente e participativo, que valorize o conhecimento de todos os atores. Quem sabe assim a Matemática deixará de ser um bicho-papão.
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