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IMPACTO DAS DESIGUALDADES NA EDUCAÇÃO

O mundo vive algo inédito na história recente, a suspensão das aulas alcançou 191 países, 1,575 bilhão de estudantes, isso significa 91,3% da população estudantil. O período de quarentena requerido para contribuir com o enfrentamento do coronavirus trouxe desafios enormes para os sistemas educacionais e para as famílias, ambos despreparados para a modalidade de educação a distância ou remota.

Em casa, temos alternado entre as tarefas domésticas e as tarefas escolares dos filhos pequenos. É muito claro para mim que não podemos substituir os professores da educação infantil e do ensino fundamental, menos ainda a instituição escolar. As instituições escolares, por sua vez, precisam moderar os conteúdos, não se trata de ensinarmos no lugar dos professores, mas de auxiliarmos nas atividades adequadas ao momento.

Jaime Saavedra, Diretor Global de Educação do Banco Mundial enfatiza que tal suspensão de aulas nunca ocorreu em nível global e chama nossa atenção para o fato de que só 20 a 30% dos estudantes tem internet e computadores em casa, 300 milhões dependem da alimentação escolar. Portanto, as soluções devem vir em multiplataformas, combinando sites, rádio, TV e distribuição de material impresso.

Isso nos remete à questão da desigualdade que em situações como essa se apresenta de forma aguda e pronunciada. O documento “Um roteiro para guiar a resposta educacional à pandemia da COVID-19 de 2020”, produzido por Fernando Reimers (Harvard) e Andreas Schleicher (OCDE) traz diagnóstico importante. O documento foi traduzido para o português pela equipe do CEIPE/FGV liderados por Cláudia Costin.

No Brasil, somente 30% dos estudantes em escolas desfavorecidas afirmam ter acesso ao computador para o trabalho escolar, cerca de 50% dos professores declaram ter habilidades técnicas e pedagógicas para integrar dispositivos digitais e 20% afirmam existir plataforma on line eficaz.

Minha impressão é que há uma correria desenfreada, onde alguns tem tido mais êxito que outros na apresentação de propostas factíveis e flexíveis. Dialogando com meu amigo Ricardo Funes, de El Salvador, ele afirmara que nossos governos tentam adiantar-se 10 anos no uso de tecnologias educativas, penso que poderiam ter feito isso há 10 anos se respeitássemos o planejamento das políticas educacionais.

Precisamos compreender os limites existentes, as escolas urbanas têm realidade diferente das escolas rurais, das escolas da periferia, das escolas das capitais, de cidades médias e pequenas, por isso, qualquer solução deve ser em multiplataforma. Se não é possível, e assim as condições socioeconômicas e de infraestrutura tecnológica apontam, me parece mais honesto suspender o calendário escolar e retomarmos quando tivermos condições.

Mariano Narodowski e Agustina Lenzi, do Proyecto Pansophia, afirmam em artigo para o jornal La Nación, que educar não é, necessariamente, escolarizar. As famílias não substituem a escola e os professores, a preocupação em não deixar ninguém de fora deve considerar a idade do estudante, o nível de ensino e o conteúdo a ser ensinado.

É equivocado pensar que teremos os mesmos resultados do modelo presencial (que já são ruins) utilizando esse modelo a distância, mais equivocado ainda é propor soluções sem considerar a especificidade de cada etapa da educação básica e a realidade desses estudantes.

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