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A ESCOLA QUE NÃO ENSINA

Você colocaria seu filho para estudar em uma escola pública municipal de São Luís? Sim, responderiam aqueles que não a conhecem. Não, responderiam aqueles que tem condições de pagar a escola particular. A desigualdade no ponto de partida, sobretudo na infância, rouba de nossas crianças a possibilidade de ser mais e a base para abrir seus próprios futuros.

Talvez você caro leitor seja um dos privilegiados que trabalham em escritórios com ar-condicionado e cadeiras confortáveis. Tenho certeza, jamais permitiria que seus filhos passassem o dia todo no calor ou em cadeiras de madeira, as velhas e retas cadeiras inglesas do século passado. Infelizmente, aos filhos da maioria destinam as retas cadeiras de pau, aos filhos da elite, as cadeiras ergonômicas e adequadas. Isso nem é o mais grave, apenas simboliza como a escola pública foi e é tratada no Brasil.

Darcy Ribeiro falava em 1984 no culto à mentira educacional por parte de nossos líderes. Qual a ideia aí? É tratar a escola como algo idealizado e enfeixado em palavras ocas que nada tem a ver com seus desafios e problemas, pois é mais difícil enfrentá-los do que mentir belamente, ignorando-os.

A escola pública municipal de São Luís é uma tragédia e não me venham culpar os professores, os gestores, os técnicos da Secretaria. Não! Os erros são políticos, são de política educacional. A tragédia se divide em dois componentes, as condições de funcionamento que são péssimas e a qualidade do ensino que é lamentável.

O Censo Escolar de 2018 refere que 55% das escolas de São Luís não tem bibliotecas, 76% não tem quadra de esportes, 64% não tem salas de atendimento para estudantes com deficiência, 85% não tem laboratórios de informática e 98% não possuem laboratórios de ciências. É preciso dizer mais? Sem livros, sem esportes, sem ciência, sem tecnologia e sem inclusão. É essa escola que serve às 3,8 mil crianças matriculadas na creche, 9,3 mil da pré-escola e as mais de 65 mil no ensino fundamental.

Nós temos 46 mil crianças de 0 a 3 anos em São Luís, crianças em idade para frequentar creche, somente 38,3% estão matriculadas, isso se somarmos a rede pública e particular. Por outro lado, temos 22 mil adolescentes de 10 a 14 anos fora da escola. Isso é uma violência contra nosso próprio presente e futuro.

O segundo componente se refere à qualidade do ensino em São Luís. Não devemos nos enganar com estatística educacional, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica-IDEB vai de 0 a 10, a rede municipal de São Luís tem nota 4,6 nos anos iniciais do ensino fundamental (a meta era 5,2) e nota 3,8 nos anos finais do ensino fundamental (meta era 4,3). A melhor rede municipal do Brasil é a de Sobral com IDEB de 9,1 nos anos iniciais e 7,2 nos anos finais. Portanto, longuíssimo caminho ainda deve ser percorrido.

Vou traduzir melhor o significado dessa nota do IDEB para São Luís, significa que ao final do 5º ano do ensino fundamental somente 36% das crianças aprendem o adequado de língua portuguesa e 20% o adequado de matemática. Por outro lado, ao final do 9º ano do ensino fundamental somente 22% aprende o adequado em português e 6% o adequado em matemática. Em síntese, 78% das crianças concluem o ensino fundamental em São Luís sem saber português e 94% sem saber matemática.

Como resolver isso? Implementando política educacional de longo prazo, garantindo autonomia à Secretaria Municipal de Educação, blindando os gestores escolares da interferência política, realizando formação continuada dos professores, investindo em infraestrutura e equipamentos, e o mais relevante, acompanhando e monitorando os indicadores educacionais para que a tomada de decisão seja informada e pertinente.

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