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A LUTA PELA CIÊNCIA NO BRASIL



Jhonatan Almada
Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Maranhão
 

Não é fácil fazer ciência no Brasil. Se não houver luta o risco de retrocessos está sempre à espreita. O orçamento de 2017 para a área de ciência e tecnologia só foi garantido após dura luta travada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Empresas Inovadoras (Anpei), Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti), Sociedade Brasileira de Física (SBF) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Cerca de 1,7 bilhão de reais foram transferidos da fonte 100 (pagamento garantido pelo Tesouro Nacional) para uma nova fonte, fonte 900 (recursos condicionados), ou seja, recursos sem garantia de empenho. Após nota de repúdio das entidades científicas supramencionadas e carta conjunta de protesto dirigida ao Presidente da República, conquistamos a manutenção desses recursos na fonte 100. 

É um valor irrisório se compararmos ao gasto improdutivo nos orçamentos de 11 bilhões da Justiça Federal, 20 bilhões da Justiça do Trabalho, 5,9 bilhões do orçamento da Câmara dos Deputados, 4,2 bilhões do Senado e 2 bilhões do Tribunal de Contas da União. 

Países como Estados Unidos, Japão, França e Alemanha aplicam mais de 2% do seu Produto Interno Bruto em pesquisa e desenvolvimento. Para termos uma ideia, o PIB estimado do Brasil é de 1,9 trilhão de dólares (5,7 trilhões de reais), deveríamos investir, portanto, 38 bilhões de dólares (114 bilhões de reais). O orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia para 2017 é de 15 bilhões de reais.  

O problema do investimento é acompanhado pelo problema da qualidade. O Brasil não consegue verbalizar as conquistas e os avanços propiciados pela ciência e tecnologia, não consegue estabelecer o que é prioritário, nem avaliar os resultados alcançados. A Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia propõe 11 áreas prioritárias, quem tem 11 não tem nenhuma. O efeito dessa ausência de política de Estado para este setor e pactuação suprapartidária que não descontinue os investimentos é impressionante.

O Programa Espacial Brasileiro é o que mais sofre com isso, entre 2006 e 2015 o orçamento da Agência Espacial Brasileira (AEB) foi de 200 milhões de reais em média, sendo que em 2016 somente 44,1 milhões foram empenhados de um orçamento de 169 milhões. A NASA teve um orçamento de 19 bilhões de dólares em 2016 (57 bilhões de reais) e a Rússia um orçamento de 2,2 bilhões de dólares (6,6 bilhões de reais).

O paradoxo do setor espacial é termos alta capacidade de formação de pessoal pelo aporte do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e não conseguirmos avançar no domínio completo do ciclo espacial que vai da construção de satélites ao lançamento de foguetes. Isso passa pelo exíguo investimento, mas também pela inexistência de setor privado pujante que compense essa falha do poder público e também por certa ineficiência/ingenuidade de nossos serviços de inteligência. 

Não se pode esquecer que a Presidente da República foi grampeada há pouquíssimo tempo e informações sobre a Petrobrás foram obtidas e jogadas no ventilador pela Operação Lava-Jato que sob o correto combate à corrupção contribuiu para o dilaceramento da principal empresa estatal brasileira e feriu de morte as principais empresas de construção civil. Veja-se como são conduzidas as investigações sobre empresas em países como Estados Unidos e Alemanha. 

Tenho perseverança de que em algum momento de nossa história iremos compreender que investir em ciência e tecnologia não é uma questão menor, mas de sobrevivência em um mundo onde conhecimento se torna chave para distinguir os países mais prósperos dos mais atrasados.

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