Jhonatan
Almada, historiador
A revolta pública contra
a corrupção que já vimos nos anos 1990 volta a tomar fôlego em 2016. Necessita
de alguém para ser sacrificado e dar a falsa sensação de que tudo será
diferente e resolvido. Em 1992 foi Collor de Melo, hoje querem que seja o Lula e
a Dilma. A revolta teve a sua expiação nos anos 1990, mas não tocou um
milímetro na forma como o sistema político funciona e se organiza.
Novamente temos situação
similar, com agravante que o Pedro Collor de hoje é o juiz Sérgio Moro. O
Caprilles da Venezuela é o Moro do Brasil. Entretanto, ao divulgar áudio
ilegalmente gravado pela Polícia Federal largou a toga e vestiu a carapuça
política que estava fora das luzes. Moro se tornou candidato ao se impor como
opção de pureza ao sistema político existente. É a tentação do juiz, o poder de
decidir o faz ter certeza de sua natureza quase divina.
Não há governo fora do
sistema político atual. Isso não isenta o PT dos seus erros, o PMDB de sua
cupidez insaciável por dinheiro público, o PSDB do assalto permanente aos
cofres de São Paulo, etc. Qualquer governo, atual ou futuro, não governa o país
sem acordar com o PMDB a principal força política e uma miríade de partidos com
base no Congresso Nacional.
Acordar com os partidos implica
em cargos, obras e dinheiro público. Existe alternativa? Se fizessem reforma
política sim. Não fazem por que depende de quem se beneficia do atual sistema.
Ficamos então em um beco sem saída. A população não pode propor leis
diretamente por que na Constituição Federal alguém escreveu que precisa de
autorização do Congresso Nacional.
A Operação Lava-Jato pôs
a nu como o sistema funciona de fato, não desde o Governo do PT, desde sempre.
Os nuances são diferentes, mas a essência é inerente à formação social
brasileira onde a corrupção faz parte da cultura e o que não está nesse cômputo
é a exceção. Claramente, nem todos os políticos e os governos são corruptos. A
desesperança eufórica alimentada pela mídia brasileira não se sustenta quando
vemos bons exemplos de governança no Brasil e no mundo.
Mudar isso é extremamente
complexo. É muito mais simples apontar que tudo se resume ao PT e acreditar que
basta mudar o governo para tudo mudar. Não mudará. Não adianta deitar texto e
discurso explicando, apontando e provando, por que quando se odeia a corrupção
não há nada que satisfaça mais que a anulação política do corruptor. As ruas
pedem sangue, não há complacência.
Não creio que o PT seja
santo, assim como o PSDB não é, menos ainda o PMDB. Contudo, não é atropelando
as leis para prender os corruptos que nos tornamos melhores que eles. Não é
clamando pela renúncia do governo, impeachment ou golpe de força que nos
tornamos superiores aos acusados de corrupção ou aos corruptos convictos. O
sentido superior da política como arte do diálogo entre homens e mulheres
elevando-os acima da barbárie e da violência é conversar entre diferentes e
alcançar consensos sem abrir mão de princípios fundadores.
As opções postas oscilam
entre a derrubada da Presidenta Dilma e a assunção de Michel Temer, a cassação
da chapa Dilma-Temer e a realização de novas eleições, e a mudança do regime de
governo de presidencialista para semi-presidencialista ou parlamentarista.
Essas são as opções postas pelos que não aceitaram o resultado das eleições de
2014 e foram embaladas pela máquina de vazamentos da Polícia Federal, do
Ministério Público e da Justiça Federal. Os vazamentos propiciam um julgamento
sem juiz via opinião pública ou um julgamento com juiz sem provas robustas além
dos testemunhos. O processo e a lei são dispensados pelo brado de que todos são
culpados e devem ser punidos, marchamos rumo a insensatez e a impossibilidade
de atuar no coletivo.
Lamento que o Brasil
passe pela atual conjuntura. Não vislumbro amadurecimento político após essa
refrega. Vejo a ascensão de figuras políticas justiceiras e acima das leis para
suprir o quadro de vacância das atuais lideranças. Estamos namorando o fascismo
e o autoritarismo. Não vejo solução aos problemas sistêmicos no quadro de
carência de propostas e na conflagração de mágoas do momento.
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