Jhonatan
Almada, historiador, escreve às sextas-feiras no Jornal Pequeno
Eduardo Cunha,
chantageador, comprovadamente criminoso, denunciado pelo Ministério Público
Federal, com inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal, receptador de
milhões de reais com propinas, em vias de ter seu processo aceito pelo Conselho
de Ética da Câmara dos Deputados, resolveu admitir um pedido de impeachment da
presidente Dilma, cujos fundamentos são inconstitucionais e já foram
questionados por inúmeros juristas desde o início do ano.
Em qualquer país
civilizado, Eduardo Cunha jamais continuaria exercendo a Presidência da Câmara
dos Deputados. Exceto no Brasil, aqui, por ele cumprir um papel que interessa à
oposição, à direita raivosa e à mídia, foi investido de inatacabilidade e
permanece chantageando o governo. O próprio PSDB só decidiu retirar-lhe o apoio
no limite da tolerância, quando este não admitiu o impeachment meses atrás. Ignoraram
todas as evidências e provas contra ele apresentados pelo Ministério Público da
Suíça.
Alguns desavisados
vendo os jornais explicarem o rito do impeachment, poderiam supor ser uma
tentativa desesperada de Cunha salvar o próprio pescoço, jogando Dilma aos
leões. Penso que a melhor resposta a isso se encontra no silêncio do
vice-presidente Michel Temer e na fala do Ministro Marco Aurélio de Mello
(primo de Collor, cuja filha foi nomeada para o TRF tendo na bagagem somente o
diploma de graduação no CEUB). O insuspeito Ministro do Supremo Tribunal
Federal pediu que não atribuíssemos ao ato de Cunha uma dimensão o qual não
tem.
É justamente o
contrário, as explicações sobre o rito, o silêncio de Temer e o acalmem-se do
Ministro recomendam que iniciemos com tranquilidade, mas firmes e decididos,
campanha nacional pela legalidade, em defesa da democracia e do mandato
constitucional da presidente. O
governador do Maranhão, Flávio Dino, comparou a situação com 1961 e a tentativa
de golpe contra Jango, lembrando a importante liderança de Brizola em defesa da
legalidade.
Quando todos recomendam
calma. Não tenham dúvidas, as costuras já foram feitas, os indicativos dados,
acordos selados, garantias trocadas. O documento “Uma ponte para o futuro” do
PMDB foi lançado dia 29 de outubro de 2015, ali consta o programa de um futuro
governo, destacando-se entre as propostas: 1. o fim das vinculações
constitucionais para a educação e a saúde, 2. revisão do regime previdenciário
com aumento da idade mínima, 3. revisão do modelo de concessão do setor
petrolífero com abertura total para empresas privadas e redução do papel da
Petrobrás, 4. cancelamento de programas e políticas governamentais após
avaliação que comprove sua ineficiência. Essas serão as diretrizes de um
governo do PMDB, caso se materialize o golpe institucional em andamento, o qual
segue o estilo de Honduras e Paraguai.
Não há o que esperar. Como
diria Luís Carlos Prestes “só não comete erros quem nada faz”. Aqueles que
defendem a democracia e lutaram para vivermos o mais longo período democrático
de nossa história não podem se acovardar, devemos partir para cima das vivandeiras
de golpe com vigor, ousadia e inteligência. O palco da guerra é o Congresso
Nacional. O palco da batalha são as ruas.
Não se trata de
desconsiderar as graves denúncias, inquéritos, delações e desvios que pesam
sobre membros de vários partidos, entre eles membros do PT, os
preferencialmente divulgados pela mídia nacional. Não compactuo jamais com tal.
Acredito que as instituições (PF, MPF e STF) darão cabo de resolver isso,
processando e condenando quando do julgamento definitivo desses casos. A corrupção
é um problema histórico e sério, tornado mais visível pelas tecnologias, redes
sociais e instrumentos de transparência pública. Há que se fazer combate
incansável.
Eu sei o que é ser derrubado
de um governo por vontade arbitrária revestida de argumentos e floreios
jurídicos. A nossa arma é a palavra e as ruas, invoco o grande brasileiro, Sobral
Pinto “trabalhem não com violência, trabalhem através da palavra, do raciocínio,
do argumento, no sentido de convencer a todos que devem realmente organizar seu
país dentro de uma organização jurídica perfeita em que os três poderes
funcionem livremente e respeitando-se mutuamente”.
Tantas décadas depois
ainda não aprendemos essa lição. Invoco ainda Leonel Brizola sobre a
necessidade de erguermos “uma cidadela contra a violência, contra o
absolutismo, contra os atos arbitrários”. A história não se repete, mas sempre
temos que repor essa constatação, explicá-la e lutar para que os descrentes da
democracia não tentem aventurar uma repetição.
Não aceitamos golpe!
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