Jhonatan
Almada, historiador, escreve às sextas-feiras no Jornal Pequeno
Os estudos do futuro são
importantes fontes de orientação e direcionamento dos decisores, sejam da
esfera pública, sejam da iniciativa privada. Ao delinearem as grandes
tendências da humanidade em 15, 20 ou 30 anos à frente, evidenciam os desafios
a serem enfrentados e os possíveis caminhos que precisamos abrir para reduzir
sua gravidade ou superá-los. Muito se avançou neste último século no
desenvolvimento de cenários de futuro.
Recentemente saíram dois
excelentes estudos sobre essa temática tomando por referência o ano de 2030. O
primeiro é “O Estado do Futuro 2030: as megatendências globais que moldam os
governos”, foi encomendado pela KMPG International e elaborado pelo Mowat
Centre (Canadá). O segundo é “Megatendências mundiais 2030: o que as entidades
e personalidades internacionais pensam sobre o futuro do mundo”, elaborado pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
As megatendências que
exercerão impacto sobre governos e cidadãos, segundo o primeiro estudo, são
mudanças como perfil demográfico (maior número de idosos e grandes contingentes
de jovens desempregados), ascensão do indivíduo (maior empoderamento individual
em face das redes sociais), inclusão tecnológica (avanços tecnológicos,
educação e emprego), interligação econômica (quebras e crises financeiras),
dívida pública (equilíbrio fiscal e investimento produtivo), mudanças no poder
econômico (controle estrangeiro de empresas), mudanças climáticas (degradação
ambiental, desabastecimento de água e poluição), pressão sobre recursos
(esgotamento dos recursos naturais essenciais) e urbanização (infraestrutura e
energia).
Os governos precisam
responder a essas mudanças com antecipação, agindo nos campos das políticas,
regulamentação e programas, repensando e alterando estratégias, estruturas
administrativas e desenvolvendo novas habilidades e capacidades institucionais.
Não é um cenário positivo, sobretudo se considerarmos que o máximo de
planejamento dos governos, marcadamente os do Brasil, estende-se por 4 anos, o
tempo do PPA. Acrescentamos, existem uma multiplicidade de planos quase sempre
alheados uns dos outros, com diferentes temporalidades, metodologias e
perspectivas. Não temos tradição de planejamento como a China e a Índia, cujas
diretrizes estratégicas miram décadas à frente e vão sendo implementadas desde
a metade do século passado.
Segundo o estudo do Ipea
as megatendências mundiais estão implicadas em cinco dimensões: população e
sociedade, geopolítica, ciência e tecnologia, economia, e meio ambiente. O
envelhecimento populacional, as migrações, a urbanização crescente e o
empoderamento dos indivíduos e da sociedade civil são alguns dos destaques. A
ideologia da globalização, a permanência dos Estados Unidos como maior
potência, o crescimento da importância da Ásia e dos BRICS são elementos-chave
da dimensão geopolítica. O acelerado desenvolvimento tecnológico continuará
alterando a natureza do trabalho, a estrutura produtiva, educacional e de
relação entre as pessoas, também ocorrerá crescimento marcante dos
investimentos em robótica, nanotecnologia e biotecnologia.
A dimensão econômica
evidencia que apesar da retomada do crescimento econômico mundial a
concentração de renda se mantem, a inovação terá mais força nos países
desenvolvidos, a demanda por energia se voltará para a matriz renovável e os
alimentos experimentarão forte procura. Ao lado disso, a dimensão meio ambiente
prevê que em face da pressão por recursos hídricos e da ocorrência de eventos
climáticos extremos será amplificado o questionamento do modelo econômico atual
sem sustentabilidade.
Nossa dificuldade de
pensamento de longo prazo impõe ações erráticas no médio e curto prazo.
Incentivamos os biocombustíveis e energias renováveis com intensidade em
determinado momento, logo em seguida, com a descoberta do pré-sal, revertemos
esse quadro pela ilusão do ouro negro. Continuamos furando poços nas grandes
cidades para suprir o abastecimento de água, mesmo com o exemplo de Recife onde
os poços secaram. Apesar do investimento em tratamento de esgoto, descuidamos
da preservação das nascentes e da revitalização das bacias hidrográficas, a
exemplo do Rio Itapecuru que supre São Luís.
Esses cenários de
futuro nos remetem ao Maranhão. O último estudo de futuro foi produzido pelo
Governo Jackson com o título “O que o Maranhão quer ser quando for Grande”, tendo
2017 como horizonte temporal. Esse trabalho foi coordenado pelo professor
Tetsuo Tsuji e suas linhas gerais se mantém válidas. Entretanto, precisamos
retomar as reflexões sobre o futuro do Maranhão para não nos perdermos na
conjuntura ou na síndrome do quadriênio.
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