Jhonatan
Almada, historiador, escreve às sextas-feiras no Jornal Pequeno
Dentre as muitas
especulações em tempos de crise as de ordem financeira tendem a ser muito
pessimistas, mas, paradoxalmente, as mais realistas. Dão-nos elementos
materiais para sabermos onde pisamos e onde devemos dar os próximos passos. A
Receita Federal divulgou relatório com o resultado da arrecadação tributária
referente a outubro. Os indicadores macroeconômicos ali apontam a queda na
produção industrial (-6,84%) e na venda de bens e serviços (-6,76%), comparando
o período janeiro/outubro de 2015 com janeiro/outubro de 2014.
Em princípio, se a
atividade econômica retroage também a arrecadação tende a acompanhar esses
números. Os setores econômicos que apresentaram maior queda na perspectiva de
arrecadação foram o de extração de minerais metálicos, atividades de rádio e
televisão, obras de infraestrutura, metalurgia e transporte terrestre. Isso se
evidencia pela paralisação de inúmeras obras importantes, a exemplo da
duplicação da BR-135 e da construção de casas no programa Minha Casa, Minha
Vida. Ciclo vicioso agravado pelo ajuste fiscal e suas consequências para a
liberação de recursos federais para estados e municípios, zero ou quase nada
até o presente mês. O Maranhão não ouviu tilintar nenhuma moeda federal nos
seus cofres.
Entre janeiro e outubro
de 2014 a Receita Federal arrecadou R$ 931 bilhões, no mesmo período em 2015,
arrecadou R$ 977 bilhões. Em uma visão de conjunto as coisas vão bem.
Entretanto, abordando isoladamente o mês de outubro arrecadou-se R$ 10 bilhões
a menos em comparação com outubro de 2014. Maiores dificuldades terão Estados e
Municípios no horizonte se essa queda se tornar uma tendência, impactando
também as transferências constitucionais, pois as transferências voluntárias
minguaram há tempos.
Isso tudo para dizer
que as coisas vão mal no campo da economia, mas o campo da política consegue
superar e surpreender sempre. Quando as coisas começavam a arrefecer, os ânimos
mais exaltados se acalmavam. Eis que o senador Delcídio Amaral foi preso pela
Polícia Federal por tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato,
chantageando testemunhas, prometendo tráfico de influência e até fuga segura do
país. É demais. Não é possível que os parlamentares consigam ficar tão alheios ao
que se passa, conseguem colocar mais lama onde poucas reputações se sustentam
em pé.
Não se pode ignorar que
a corrupção frustra nosso sonho de Brasil mais desenvolvido e justo. Bilhões de
reais são arrecadados, mas um percentual nada modesto é desviado criando
fortunas gigantescas, adubando impérios bancários. Nosso desenvolvimento não
consegue avançar, pois onde faríamos 1.000 pontes, gastamos como se fossem
1.000, mas só construímos 100. Esta conta não consegue fechar. Não basta
transparência nas contas públicas, precisamos de inteligência no gasto público.
O que justifica termos
diferentes empresas e contratos para a prestação de serviços comuns, se
poderíamos ter preços melhores com contratos unificados? Telefonia, internet, segurança
privada, combustível e locação de veículos abocanham receitas que poderiam
servir para outros fins, caso tivéssemos maior organicidade na contratação
desses serviços e no seu respectivo pagamento. Já defendi a necessidade de uma
empresa pública na área de tecnologia da informação para o Maranhão. Se a
extinção da Prodamar não tivesse ocorrido há 17 anos atrás, hoje poderíamos
estar em patamar mais próximo do Ceará com sua Etice, a qual gera receita para
o governo em vez de despesa.
Minha expectativa é que
consigamos dar um salto civilizacional, após essa longa tormenta de uma
operação kafkiana sem fim, saindo do desperdício por corrupção para o
desperdício por falta de priorização estratégica. Teríamos um grande avanço.
Que bom se nossas críticas fossem apenas sobre a necessidade ou não de
construir barragens, mas não sobre a ausência delas por incompetência ou irresponsabilidade.
Precisamos de grandeza
de espírito para nos preservar intactos e seguir trabalhando pelo bem comum,
quando muitos insistem em seguir escarnecendo do povo, torrando dinheiro
público e se escondendo atrás das imunidades e foros privilegiados. O recado da
Ministra Carmen Lúcia do Supremo Tribunal Federal, bem merece ser pendurado
alto e visível nos gabinetes políticos de Brasília e alhures:
“Na história recente
da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros,
acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois,
nos deparamos com a Ação Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha vencido
aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O
crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de
corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e
da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre os juízes
e as juízas do Brasil. Não passarão sobre novas esperanças do povo brasileiro,
porque a decepção não pode estancar a vontade de acertar no espaço público. Não
passarão sobre a Constituição do Brasil”.
Como sempre com palavras certas. Estamos deixando fugir oportunidades pelo imobilismo do aparelho governamental. Há muitas e muitas pessoas lutando para reverter a situação atual com ações que não envolvem dinheiro público e que poderiam ajudar, entre outras coisas, a dar sustentabilidade aos programas que envolvem TI. Acabei de visitar a ETICE (Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará) e fiquei ainda mais convencido de que temos nas mãos muitas facilidades desperdiçadas. Lutemos para reverter esta situação com ainda mais força, organizando nossas estruturas de maneira que a distribuição dos poucos fundos públicos possam ser melhor repartidos. Avante, a luta continua
ResponderExcluirInteressante ponto de vista, Sr. Almada.
ResponderExcluirInfelizmente, como vimos na votação sobre a manutenção da prisão do ainda Senador Delcídio a política nacional tem razões que a própria razão desconhece.
As garras da corrupção tem um grande alcance e conseguem influenciar até mesmo a consciência daqueles que deveriam representar milhões de brasileiros que talvez ainda sentem a chamada vergonha alheia, mas para nossos "representantes" a vergonha morreu muito antes do começo de sua vida política.
Lobistas, representantes dos interesses de imensas empresas, de olho nos recursos públicos literalmente mandam nas decisões de parlamentares em todas as esferas do legislativo nacional, influenciando ou até mesmo determinando a aplicação de emendas parlamentares nos estados e municípios, direcionando estes recursos, dinheiro dos impostos que todos pagamos, reservando gordas fatias do montante para todos os envolvidos.
Dessa forma, devido a ganância de todos, a democracia vai esmorecendo e hoje vemos absurdos como parcelas da sociedade defendendo o retorno dos militares ao comando do país.
O "governo do povo pelo povo e para o povo" há muito foi substituído pelo "governo de poucos pelo lucro e para quem paga mais". E quem paga mais para os corruptos não são os mais de 200 milhões de habitantes brasileiros, mas algumas dezenas de empresas que consguem contratos milionoprpúblicos prostituem e seduzem, e porque não dizer prostituem, agentes e funcionários públicos, bem como vereadores , secretários, prefeitos, deputados, governadores, senadores, juízes, promotores, policiais, enfim. A corrupção faz parte da administração pública e quem não faz parte dos esquemas é obrigado a administrá-la, zelando por seus princípios e valores... enquanto estes durarem.