Jhonatan
Almada, historiador, integra o quadro técnico da Universidade Federal do
Maranhão (UFMA)
Tenho
minhas reservas quanto ao jogo do poder, sobretudo quando ignora o bem comum ou
a construção de si com o outro. Contudo, sou consciente de que ele existe,
sobejando ideologias e partidos, pessoas e grupos, real e imaginário, valores e
práticas. Os recursos e os acúmulos para entrar na disputa e conquistar uma
vitória, implicam em tempo, valores, alianças e muito trabalho aplicado, sobretudo
para os little fishes.
O Conselho Nacional de Educação (CNE) se reuniu entre os dias 5 e 8 de maio de 2014 na cidade de São Luís. Fui indicado para fazer uma palestra sobre a política e a gestão de ensino superior da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) na reunião do CNE. Horas antes do evento, desconvidaram-me com uma lisonja costumeira, incapaz de encobrir a deseducação do ato e expor sua motivação profunda. O fato me fez recordar que também estou sujeito às intricadas redes de poder e pequenez de espírito, mesmo nas instituições acadêmicas as quais pensava serem verdadeiros abrigos do saber desinteressado.
OS
ANIMAIS E O PODER. Na série de livros “As Crônicas de Gelo e
Fogo”, George R. R. Martin expõe o jogo cru do poder e da política que
transcorre em época semelhante a idade medieval europeia. As famílias potentes
escolhem símbolos nos seus brasões para lhes representar, os animais são os
preferidos. Em um dos volumes, o autor ridiculariza essa prática ao afirmar pela
voz de um de seus personagens que os homens escolhem um leão, um dragão ou um
lobo, acreditando de fato que são leões, dragões ou lobos, esquecendo-se de sua
mortalidade e de quão temporais as pretensões humanas são neste mundo.
Rememoro os estudos do historiador Marco Morel sobre a zoologia política na época do Império brasileiro. Ali frequentavam cabras, bodes, urubus, cães, dentre outros. Aliados e adversários se atacavam nominando-se de animais para ressaltar o caráter irracional do outro e desqualificá-lo na arena política.
Ainda que ninguém saiba ser tão desumano como nós, não somos os animais imaginados, nem mesmo os dos signos do zodíaco ou os do horóscopo chinês. Os animais, portanto, servem para exaltar características que buscamos apresentar como nossas, bem como, irracionalizar o outro. Entretanto, o lobo parece gozar de certo consenso quanto a sua reputação, sobretudo nas fábulas de Esopo.
A fábula sobre o lobo e o cabrito é emblemática a esse respeito. A cabra ao sair de casa recomendou ao cabrito não abrir a porta aos estranhos. No rastro de sua saída, o lobo chega carinhosamente imitando a voz da cabra, não fosse a fresta da porta o cabrito teria sua vida abreviada. No jogo do poder, a lisonja pode esconder a peçonha e o desejo de destruir ou impor pela força, esta é o último recurso dos covardes, quando todos os métodos anteriores falham.
Esopo talvez tenha escrito um dos primeiros espelhos de príncipe, gênero estudado pelo professor de filosofia política, Michell Senellart no seu livro “As Artes de Governar” (Editora 34, 2006). Talvez ainda não se tenha feito uma apreciação de suas fábulas nesta perspectiva, entretanto, considerando os objetivos morais ou moralizantes ali contidos, fundamental lê-las com cuidado. Dito isto, não se pode ignorar o quanto os valores no âmbito da política se quararam nos varais das denúncias, da corrupção e da impunidade.
Rememoro os estudos do historiador Marco Morel sobre a zoologia política na época do Império brasileiro. Ali frequentavam cabras, bodes, urubus, cães, dentre outros. Aliados e adversários se atacavam nominando-se de animais para ressaltar o caráter irracional do outro e desqualificá-lo na arena política.
Ainda que ninguém saiba ser tão desumano como nós, não somos os animais imaginados, nem mesmo os dos signos do zodíaco ou os do horóscopo chinês. Os animais, portanto, servem para exaltar características que buscamos apresentar como nossas, bem como, irracionalizar o outro. Entretanto, o lobo parece gozar de certo consenso quanto a sua reputação, sobretudo nas fábulas de Esopo.
A fábula sobre o lobo e o cabrito é emblemática a esse respeito. A cabra ao sair de casa recomendou ao cabrito não abrir a porta aos estranhos. No rastro de sua saída, o lobo chega carinhosamente imitando a voz da cabra, não fosse a fresta da porta o cabrito teria sua vida abreviada. No jogo do poder, a lisonja pode esconder a peçonha e o desejo de destruir ou impor pela força, esta é o último recurso dos covardes, quando todos os métodos anteriores falham.
Esopo talvez tenha escrito um dos primeiros espelhos de príncipe, gênero estudado pelo professor de filosofia política, Michell Senellart no seu livro “As Artes de Governar” (Editora 34, 2006). Talvez ainda não se tenha feito uma apreciação de suas fábulas nesta perspectiva, entretanto, considerando os objetivos morais ou moralizantes ali contidos, fundamental lê-las com cuidado. Dito isto, não se pode ignorar o quanto os valores no âmbito da política se quararam nos varais das denúncias, da corrupção e da impunidade.
O
PODER EM JOGO. Os jogos pelo poder estão em campo no Maranhão.
De um lado, os que estão interessados em continuar, os lobos e os cangurus
(José Sarney apelidado por Vitorino Freire) buscam a preservação de sua
espécie, guardando as terras do Maranhão para si e seus descendentes. O
vale-tudo impera neste lado do campo, nada está ou será descartado, tudo será
feito em nome do poder pelo poder.
O outro lado busca a alternância do poder, iniciar uma mudança concreta no Maranhão. Dispensa os comparativos animalescos e tem no ser humano a medida de si e daquilo que busca conquistar para todos. O caráter plebiscitário das eleições fortalece cada vez mais esse lado, neste momento, as opções são claras: mudança progressista ou continuísmo conservador.
O pré-candidato Flávio Dino robusteceu suas alianças em prol da mudança progressista com as adesões de lideranças importantes como a deputada Eliziane Gama e o prefeito Sebastião Madeira, esta última adesão foi antecipada por Frederico Luiz Maciel (Blog Aldeia Global). Soma-se ainda o apoio declarado de dois presidenciáveis, Eduardo Campos e Aécio Neves. A defesa da transparência, o combate à corrupção e a superação das desigualdades é a pauta de sua pré-candidatura. Ainda temos muitos meses até às eleições de outubro de 2014, a busca pelo convencimento do eleitorado não pode parar, sobretudo junto às faixas indecisas, nos municípios do interior e áreas periféricas de São Luís.
As estratégias dos capitães hereditários do Maranhão continuam as mesmas: utilização de pesquisas manipuladas ou baseadas em universos que cabem em um ou dois bairros da capital; invenção de denúncias e irregularidades por parte dos adversários enquanto as praticam largamente; busca constante de novos Reis Pacheco; tentativas de apagamento do passado pessoal e omissão dos sobrenomes; apresentação de mais um de seus filhos na disputa eleitoral como algo legítimo e imposto pelo destino genético; ausência de projeto e contra-argumentos consistentes substituindo-os por abstrações, falas vazias e falsas medidas de impacto; aparentar empolgação e apoio vindos não se sabe de onde; apresentação da quantidade de siglas partidárias como sinônimo de respaldo eleitoral; escamoteamento da realidade conjuntural de modo a torcê-la e torná-la favorável por mais improvável ou inacreditável que pareça; por fim, o desprezo em relação aos intelectuais de uma geração diferente daquela que até hoje lima os couros dos seus calcanhares, moços velhos ou velhos moços servis.
Destaco dois casos que parecem corroborar com algumas dessas estratégias: o rompimento de contrato entre a TV Difusora e a retransmissora do município de Presidente Vargas, devido ao fato do empresário Herialdo Pelúcio apoiar Flávio Dino e a censura às postagens do blog de Luís Pablo divulgando as ligações perigosas do novo pré-candidato da oligarquia. Ainda estamos em maio e as coisas tendem a deteriorar-se ainda mais nos próximos meses, como bem prevê o jornalista JM Cunha Santos.
O outro lado busca a alternância do poder, iniciar uma mudança concreta no Maranhão. Dispensa os comparativos animalescos e tem no ser humano a medida de si e daquilo que busca conquistar para todos. O caráter plebiscitário das eleições fortalece cada vez mais esse lado, neste momento, as opções são claras: mudança progressista ou continuísmo conservador.
O pré-candidato Flávio Dino robusteceu suas alianças em prol da mudança progressista com as adesões de lideranças importantes como a deputada Eliziane Gama e o prefeito Sebastião Madeira, esta última adesão foi antecipada por Frederico Luiz Maciel (Blog Aldeia Global). Soma-se ainda o apoio declarado de dois presidenciáveis, Eduardo Campos e Aécio Neves. A defesa da transparência, o combate à corrupção e a superação das desigualdades é a pauta de sua pré-candidatura. Ainda temos muitos meses até às eleições de outubro de 2014, a busca pelo convencimento do eleitorado não pode parar, sobretudo junto às faixas indecisas, nos municípios do interior e áreas periféricas de São Luís.
As estratégias dos capitães hereditários do Maranhão continuam as mesmas: utilização de pesquisas manipuladas ou baseadas em universos que cabem em um ou dois bairros da capital; invenção de denúncias e irregularidades por parte dos adversários enquanto as praticam largamente; busca constante de novos Reis Pacheco; tentativas de apagamento do passado pessoal e omissão dos sobrenomes; apresentação de mais um de seus filhos na disputa eleitoral como algo legítimo e imposto pelo destino genético; ausência de projeto e contra-argumentos consistentes substituindo-os por abstrações, falas vazias e falsas medidas de impacto; aparentar empolgação e apoio vindos não se sabe de onde; apresentação da quantidade de siglas partidárias como sinônimo de respaldo eleitoral; escamoteamento da realidade conjuntural de modo a torcê-la e torná-la favorável por mais improvável ou inacreditável que pareça; por fim, o desprezo em relação aos intelectuais de uma geração diferente daquela que até hoje lima os couros dos seus calcanhares, moços velhos ou velhos moços servis.
Destaco dois casos que parecem corroborar com algumas dessas estratégias: o rompimento de contrato entre a TV Difusora e a retransmissora do município de Presidente Vargas, devido ao fato do empresário Herialdo Pelúcio apoiar Flávio Dino e a censura às postagens do blog de Luís Pablo divulgando as ligações perigosas do novo pré-candidato da oligarquia. Ainda estamos em maio e as coisas tendem a deteriorar-se ainda mais nos próximos meses, como bem prevê o jornalista JM Cunha Santos.
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