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ALTERNÂNCIA DO PODER NO MARANHÃO E O CREPÚSCULO DA OLIGARQUIA SARNEY

ALTERNÂNCIA DO PODER NO MARANHÃO E O CREPÚSCULO DA OLIGARQUIA SARNEY
Jhonatan Almada, historiador, integra o quadro técnico da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
A continuidade de Roseana Sarney no cargo de Governadora do Estado do Maranhão e a ausência de candidato viável no seu grupo político, tanto para a disputa de Governador, quanto de Senador são algumas das linhas que nos permitem vislumbrar o crepúsculo da oligarquia liderada por José Sarney. A tendência é que o inner circle ou círculo próximo da família fique sem mandato. A vitória da oposição sepultará no médio prazo as condições que ainda possibilitam a manutenção desses mandatos. Essa vitória, sabiamente frisou Manoel da Conceição, depende de uma campanha que por sua importância assumiu caráter humanitário.
A aliança denominada "Partido do Maranhão", sob a liderança de Flávio Dino é uma frente ampla cujo fundamento se assenta na necessidade imperiosa de vencer a oligarquia, virar a página da história e iniciar outro caminho para nosso estado. Se o hábito do raciocínio de curto prazo nos faz enxergar apenas 2014, o equívoco é grande.
O horizonte é de no mínimo 10 anos. Aquilo que foi pacientemente destruído por décadas de dominação não se recupera em um quadriênio. A longa duração permitiu aos membros da oligarquia entrar na ossatura do Estado, verdadeiros cistos, cuja extração demandará tempo e ação cirúrgica.
Tetsuo Tsuji, pioneiro dos estudos sobre o futuro no Maranhão publicou há 10 anos o livro "Cenários do Maranhão para o ano de 2007" (Edufma, 1993). Tetsuo vislumbrava que até 2007 nosso estado poderia ingressar em um círculo virtuoso de desenvolvimento se alguns óbices fossem removidos, entre eles, a política oligárquica. Os anos Roseana impediram que o vislumbre virasse realidade.
Em 2008, Tetsuo publica o livro "O que o Maranhão quer ser quando for grande" (Imesc), no âmbito do planejamento do Governo Jackson. Projetava para 2017 que nosso desenvolvimento se concretizaria pela regionalização, descentralização e fortalecimento da economia dos municípios, sendo a educação o fator mais relevante para esse futuro.
Ao professor Tetsuo Tsuji presto meu reconhecimento e respeito pelo pioneirismo. Dou testemunho de sua dedicação a causa do desenvolvimento, sobretudo pelos trabalhos que partilhamos.
É indispensável pensar e planejar a política também no longo prazo.
Existem dois espaços estratégicos em Brasília, cuja maioria obtida favorecerá a consolidação de um projeto de alternância do poder no Maranhão: o Senado Federal e a Câmara dos Deputados. Caso a vaga em disputa para o Senado Federal nos seja dada pelo povo, importante lembrar que ainda temos dois mandatos sob o controle da oligarquia. Mandatos que pertencem hoje ao Senador Edson Lobão e ao Senador João Alberto. Apesar da cômica campanha realizada por essa dupla na eleição passada, serão os sobreviventes da oligarquia com os mandatos mais estratégicos, os quais só poderão ser retomados em 2019 pela oposição vitoriosa em 2014.
Não será difícil obter uma maioria na Câmara dos Deputados nas próximas eleições. O fundamental é aposentar o deputado federal Sarney Filho e trabalhar pelo fortalecimento de bancada pró-Maranhão, preservando os aliados e reduzindo o espaço daqueles pertencentes aos quadros da oligarquia que lá estão ou que buscarão se apoderar de mandatos de deputados federais. A coordenação de bancada alinhada com o Governador do Estado poderá superar o atual quadro político que impede uma atuação conjunta voltada para atender aos interesses do Maranhão e respaldar um projeto de desenvolvimento em comum.
Controlar a representação do Maranhão em Brasília, sobretudo no Senado, sempre foi um dos principais instrumentos de poder da oligarquia e arma de barganha mais letal. O Governo Federal depende de maioria segura em um ambiente político conturbado e radicalizado, por isso, se submete aos acordos mais paradoxais para preservar a governabilidade. Aí está uma das variáveis estratégicas do balanço da gestão política. O objetivo não é controlar para a barganha, mas recompor para uma nova relação em prol dos interesses dos maranhenses.
A Assembleia Legislativa demanda um duplo trabalho para a oposição: formar maioria e reduzir ao inexpressivo o número de deputados vinculados à oligarquia. Durante o Governo Jackson Lago, ainda que poucos, as vestais da oligarquia se fizeram presentes e trabalharam dia-a-dia para o desgaste do Governo. Não basta eleger uma base forte, indispensável para aplainar os caminhos da mudança, mas é fundamental recuperar os mandatos políticos hoje fortemente vinculados à oligarquia.
Existem mais três espaços estratégicos, sabidamente utilizados pela oligarquia: o Tribunal de Contas do Estado (TCE), o Tribunal de Justiça (TJ) e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Existe uma enorme necessidade de compor novas maiorias virtuosas nesses órgãos, ainda que saibamos do caráter transitório delas em alguns, a exemplo do TRE. O desafio é ampliar os quadros técnicos indicados para o TCE e o TJ, valorizando de fato a reputação ilibada e a idoneidade moral, critérios que ficaram um tanto frágeis nos últimos anos frente aos apetites dos donos do poder, vínculos familiares e até transmissão hereditária dos cargos. Nesses órgãos, o trabalho de recomposição se desdobrará até meados de 2024 em um cálculo otimista.
Não se deve esquecer que no crepúsculo as coisas aparentemente ficam menos claras, turvam nossa vista, vemos lobos devoradores onde sequer cordeiros há. Isso não nos pode enganar. É nesse interlúdio que o golpe baixo, o jogo sujo, o ataque pessoal, o pugilato e o falso prestígio vicejarão com a intensidade de um desespero de náufrago. Apesar disso, a oligarquia encontrará seu crepúsculo, promessa de uma noite sem data para término.
O Partido do Maranhão deve trabalhar com dedicação, afinco e cuidado para não ser engolido pela penumbra e esquecer que a noite deles é promessa de outro amanhã para nós. Contudo, o amanhã só se levanta quando a esperança do dia o faz se erguer: um trabalho de muitas mãos em comunhão de sonhos, suor e luta

Comentários

  1. Ótimo artigo! Uma análise bem-feita e otimista, sem no entanto perder o norte realístico. Parabéns!

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