OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A
ALTERNÂNCIA DO PODER NO MARANHÃO
Jhonatan Almada, historiador, integra o quadro técnico da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
O monopólio de comunicação do
grupo dominante local é um dos maiores óbices à democracia no Maranhão. O
monopólio da verdade (que eles exercem) impossibilita e fragiliza o dissenso. É
utilizado como arma de desconstrução de qualquer governo que lhes seja
potencialmente ameaçador, vide as estratégias utilizadas contra José Reinaldo, Jackson
Lago ou o atual prefeito de São Luís, Edvaldo Holanda Júnior. O cerne dessa
estratégia foi e é apresentar os adversários como incompetentes, sem projeto,
negativos, impopulares e equivocados, independentemente de o serem ou não.
Cientes disso, contudo, não
podemos confundir os donos das empresas de comunicação com os profissionais que
lá trabalham. É importante respeitar aqueles e aquelas que vivem do trabalho nesses
meios de comunicação, preservando a liberdade de imprensa e a dignidade do
exercício da profissão de jornalista, sem descurar, no entanto, do combate ao
uso desses meios como forma de destruir reputações públicas. Acima dos donos
está o fato desses meios serem concessões públicas com um papel social e a ser
cobrado pela cidadania organizada para garantir que atuem em prol do direito à
informação.
O documento “Propostas para
um Maranhão com desenvolvimento e justiça social – juntos, a gente faz a
mudança”, lançado pelo pré-candidato a governador, Flávio Dino dia 23 de abril
de 2014, sinaliza um novo momento de relação entre um futuro governo da mudança
e os meios de comunicação. Fui um dos que contribuíram com o documento,
somando-me aos mais de 30 mil maranhenses que participaram dessa construção,
durante os Diálogos pelo Maranhão.
Um dos tópicos afirma
explicitamente que o futuro governo apoiará as rádios comunitárias, os jornais
regionais e os blogs noticiosos tendo como objetivo maior garantir o direito
humano à comunicação. Pela primeira vez na história recente, um programa de
governo contempla setores até então marginalizados pelos políticos, salvo
quando lhes serviam de instrumento de exaltação de si ou combate aos
adversários.
A historiadora Lígia Teixeira
já analisou muito bem que duas formas de relação entre o governo e os meios de
comunicação do grupo dominante foram tentadas anteriormente. O Governo José
Reinaldo suspendeu o financiamento vultoso que para lá corria dos cofres
públicos. O Governo Jackson Lago retomou parcialmente esse financiamento,
buscando democratizá-lo com os concorrentes do grupo dominante. Ainda assim, em
ambas as situações, esse grupo atacou diariamente os governos, sem pausa e em
temperatura crescente nas conjunturas eleitorais.
Superar o monopólio e
construir uma nova relação, demanda a elaboração de um marco regulatório que
discipline a distribuição dos recursos para as empresas de comunicação locais
com base em critérios técnicos e transparentes, bem como a criação de uma Rede
Pública de Comunicação (RPC), agregando à Rádio Timbira, uma TV Pública, um
Portal de Notícias Governamentais na internet (que não se confunde com o portal
oficial do governo) e redes sociais. Essa Rede Pública produzirá e distribuirá
informação governamental, além de desenvolver programação cultural relevante. Existem
experiências similares nos Governos Estaduais de Pernambuco, Paraná e São
Paulo.
A Universidade Federal do
Maranhão tem buscado implantar a TV UFMA, cuja liberação do canal por parte do
Ministério de Comunicações enfrenta a morosidade do Governo Federal, aplicada, sobretudo
quando o assunto não lhe é prioritário. A TV UFMA tem um potencial enorme para
contribuir com a democratização das comunicações no nosso estado e também
poderia integrar a RPC.
A RPC poderia oportunizar uma
interlocução direta entre o Governo e a sociedade. Ora na TV, ora nas rádios,
ora na internet. Um momento ou um programa com o nome de “Diálogos com o
Governador” propiciaria resposta direta às demandas da sociedade, reduzindo
assim o déficit de comunicação governamental e por fora da mídia dominante. O
objetivo não é concorrer, mas democratizar.
Entendo o conceito de rede
pública para além dos componentes mencionados. Ela deverá constituir uma
articulação com os meios de comunicação disponíveis em cada município,
sobretudo, as rádios comunitárias. Já lembrou-nos o professor Carlos Agostinho
quanto à imbricação entre Estado, mídia e oligarquia, reforçando a necessidade
de construção dessa rede pública para romper com as atuais formas de
relacionamento, caudatárias da herança maldita da oligarquia.
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