Jhonatan Almada, historiador.
As questões que envolvem o
currículo sempre interessaram diretamente os grupos no poder, seja para
encenação, seja para controlar o acesso ao conhecimento socialmente relevante.
O professor Jorge Larrosa em uma instigante palestra sobre a educação como
adoção, a qual assisti no início do mês, compara o Estado aos ogros das
histórias infantis. Os ogros devoram as crianças por que amam as crianças. As
famílias entregam seus filhos e filhas às escolas públicas imaginando que nelas
eles terão acesso a um futuro melhor. Um futuro decantado, ainda que
dificilmente materializado para as maiorias.
Quando se pensa o currículo
no Estado do Maranhão há que se duvidar sempre de leis que criam disciplinas ou
instituem a obrigatoriedade do ensino de determinados conteúdos. O projeto de
lei do deputado Manoel Ribeiro (PTB) que cria a disciplina de Educação para o
Trânsito, aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia
Legislativa é apenas um exemplo que se junta a outros tantos ao longo dos
últimos 20 anos.
A Lei Nº 6.344, de 13 de
junho de 1995, originada no projeto de lei Nº 53/1995, de autoria do deputado
Ibrahim Almeida e sancionada pela Governadora Roseana Sarney em seu primeiro
mandato, torna obrigatória a educação preventiva integral com respeito ao
consumo de álcool, tabaco e outras drogas na rede oficial e particular de 1º e
2º graus, o atual ensino fundamental e ensino médio. O Secretário de Educação
era Gastão Vieira.
A Lei Nº 5.575, de 7 de
dezembro de 2000, originada no projeto de lei Nº 16/2000, de autoria da
deputada Sandra de Deus e sancionada pela Governadora Roseana Sarney em seu
segundo mandato, torna obrigatório programas interdisciplinares de educação
ambiental nas escolas de ensino fundamental e ensino médio do Estado. O
Secretário de Educação, a época denominado de Gerente de Desenvolvimento
Humano, era Danilo Furtado, primo de Gastão Vieira.
A Lei Nº 7.804, de 26 de
dezembro de 2002, originada no projeto de lei Nº 195/2001, de autoria da
deputada Telma Pinheiro e sancionada pelo Governador José Reinaldo Carneiro
Tavares, institui a disciplina de Noções de Direitos Fundamentais no currículo
escolar da rede estadual de ensino médio. O Gerente de Desenvolvimento Humano
era Luís Fernando, atual Secretário de Infraestrutura do Governo Roseana
Sarney.
A Lei Nº 7.826, de 22 de
janeiro de 2003, originada no projeto de lei Nº 228/1999, de autoria do
deputado Stênio Rezende e sancionada pelo Governador José Reinaldo Carneiro
Tavares, inclui no currículo do ensino médio os conteúdos referentes aos
primeiros socorros. Luís Fernando continuava o Gerente de Desenvolvimento
Humano.
A Lei Nº 7.829, de 22 de
janeiro de 2003, originada no projeto de lei Nº 172/2002, de autoria do
deputado Pavão Filho e sancionada pelo Governador José Reinaldo, cria o
programa obrigatório para realização de palestras educativas sobre o
ensinamento da Bíblia Sagrada nas atividades dos estabelecimentos de ensino do
Maranhão. Calma, a lei garantia o respeito à diversidade cultural, vedava o
proselitismo ou a primazia de qualquer doutrina religiosa. Luís Fernando ainda era
Gerente de Desenvolvimento Humano.
A Lei Nº 8.073, de 7 de
janeiro de 2004, originada no projeto de lei Nº 318/2003, de autoria do
deputado César Pires e também sancionada pelo Governador José Reinaldo, cria a
disciplina Cidadania e Direitos Fundamentais em caráter optativo no currículo
das escolas estaduais de 5ª a 8ª série do ensino fundamental. Provavelmente
Altemar Lima era o Secretário de Educação.
Nenhuma das leis mencionadas
foram implementadas. Por quê? Imaginemos algumas possíveis respostas. Não
existe continuidade no âmbito das políticas públicas estaduais, todas elas são
políticas de Governo (temporárias), não políticas de Estado (permanentes). Muda
o governo, esquece-se. Não muda o governo, muda o secretário, esquece-se. Não muda
o governo, nem muda secretário, engaveta-se. A lei na formação social
brasileira e maranhense tem um caráter dual, ela existe apenas na aparência
formal. A lei no real concreto só é implementada se beneficiar o grupo no
poder. Quando isso não ocorre é apenas engodo. Trocando em miúdos, ela existe no
noticiário, no plenário da Assembleia, na internet, mas não no cotidiano.
Vamos aguardar a próxima
ideia genial que irá incluir mais uma disciplina no currículo e com isso
resolver os graves problemas educacionais maranhenses acumulados nas últimas
décadas.
olá.... como estás meu xará...
ResponderExcluirsou o professor de espanhol jhonnatan deivid do CII, vc foi meu aluno. me add no face..
boas opinões suas... boa sorte