Pular para o conteúdo principal

Sobre a parceria PNUD e SEDUC

Sobre a parceria PNUD e SEDUC no Maranhão


Não causa surpresa que a SEDUC e o governo do Estado do Maranhão, reconhecendo sua incompetência, mais uma vez busque auxílio fora do Estado para resolver os problemas educacionais históricos de nossa realidade. Ao firmar parceria com o PNUD-Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, ligado a ONU-Organização das Nações Unidas, a incompetência da atual gestão frente a SEDUC é formal e explicitamente reconhecida.

É sabido que temos mais de vinte anos de estatísticas educacionais produzidas pelo Ministério da Educação, por intermédio do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais-Inep e pelo IBGE, formando considerável série histórica sucetível de análises por qualquer um que possa se dedicar um pouco a coligir os dados, constituir as séries e analisá-las. É surpreendente que a SEDUC não consiga fazer uma operação tão simplória tendo centenas de funcionários, entre técnicos e professores. Importante dizer que a maioria deles é comissionado e sem vínculo orgânico com as políticas educacionais, boa parte nomeados pela governadora Roseana Sarney na sua já longa gestão (2 anos, contando de abril de 2009, quando ocorreu o golpe judicial contra o Dr. Jackson Lago).

Além da incompetência reconhecida publicamente, observamos também a ignorância do Governo quanto a duas temáticas fundamentais na educação pública contemporânea. A primeira é a necessidade de constituir uma carreira efetiva para os trabalhadores na educação (técnicos e professores). O Governo do Estado não admite a aprovação do Estatuto do Educador. Excluiu tanto do PPA 2008-2011 quanto da lei orçamentária quaisquer referências sobre o assunto. A segunda é o Plano Estadual de Educação-PEE. Os educadores e educadoras do Maranhão já se reuniram e discutiram amplamente os principais problemas da educação maranhense na Conferência Estadual de Educação, realizada em 2008. O documento final dessa Conferência deveria ter sido encaminhado pela SEDUC como projeto de lei à ser apreciado, discutido e votado pela Assembléia Legislativa do Estado.

A ignorância, no sentido do desconhecimento, fica patente quando o Governo do Estado e sua SEDUC ignoram essas duas questões fundantes para se repensar a educação no Maranhão. No seu lugar temos a reafirmação do paternalismo (ou seria maternalismo?) da governadora em relação a um diagnóstico risível, cuja única preocupação é a melhoria dos indicadores educacionais. Como nem a governadora, nem a secretária, entendem de educação, somos obrigados a assistir o escamoteamento e redução dos problemas educacionais aos indicadores existentes, os quais não dão conta da totalidade da realidade. Fica claro que a SEDUC, ao não possuir um quadro técnico-profissional concursado, pois só realiza concurso para professores (sempre abaixo da demanda existente), é incapaz de assumir a coordenação de uma política educacional estadual, se houvesse uma.

Todos nós que estudamos as estratégias da oligarquia (ou seria dinastia?) Sarney, sabemos que uma das mais cansadas é a do eterno presente fundacional. Eles estão sempre reiniciando a história, fundando a história, o "novo", o "marco". Incapazes de tratar a história como totalidade, se fixam no eterno presente que está sempre sujeito aos seus reiterados "atos fundadores" e "marcos zeros". São incapazes de pensar políticas de Estado, estão sempre expressando "políticas" de Governo, quando muito, pois o que prevalece é a improvisação midiática. Um exemplo cômico da atual gestão da SEDUC é seu conceito de planejamento educacional, reduzido a fixação do calendário escolar, vide a propaganda no site da Secretaria - "o governo planejou a educação, para que todos possam se planejar melhor". O planejamento educacional é o instrumento de mediação entre a política e a administração da educação, portanto implica numa articulação entre essas três dimensões. Lamentavelmente, observamos que a educação no Maranhão não possui nem política, nem planejamento e muito menos administração.


Por Jhonatan Almada, historiador e membro da Associação Nacional de Política e Administração da Educação-ANPAE.

Para ver a notícia click aqui

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,...

A Educação do Brasil

A Educação do Brasil: cinco contrapontos necessários Este livro é fruto de um esforço de sistematização sobre cinco questões relevantes presentes no debate sobre a educação pública do Brasil e que tenho abordado em aulas, conferências e intervenções públicas, sobretudo para estudantes na Universidad Autónoma de Baja California (UABC), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Centro Universitário IESB, Universidade Estadual de Roraima (UERR), Centro Universitário UNDB, Faculdade Santa Luzia e Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Portanto, há uma postura didática na minha escrita para responder às seguintes perguntas: 1. Existe só descontinuidade nas políticas educacionais brasileiras? 2. A infraestrutura escolar não importa para a qualidade do ensino? 3. Sobra recurso e falta gestão na educação pública? 4. A qualidade do ensino se resume aos resultados das avaliações? 5. As escolas militares são solução para os problemas da educação pública? Organizei as respostas para essas p...

Faltam recursos e gestão na educação

É sempre necessário lembrar Celso Furtado quando disse que economia sem ciência social é pura álgebra, assim se pode compreender o texto do economista Marcos Mendes publicado dia 1º de novembro na Folha Mendes se volta contra a expansão da complementação federal ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb, por ter sido supostamente incapaz de entregar resultados melhores em exames como o PISA, avaliação internacional amostral. O aumento da participação federal no Fundeb de 10% para 23% foi previsto pela Emenda do Fundeb permanente em 2020 (EC 108), mas ainda não foi concluído, porque está escalonado para ocorrer paulatinamente de 2021 até 2026. Todavia Marcos Mendes se apressa em avaliar a mudança desde já, como se já estivesse plenamente implementada há décadas. O autor ignora ou deliberadamente desconsidera que reformas educacionais não produzem efeitos imediatos, tampouco são automáticas, porque demandam enraiza...