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NA POLÍTICA NÃO CABE "PAZ" E "AMOR"

NA POLÍTICA NÃO CABE "PAZ" E "AMOR"

Por Jhonatan Almada

O que talvez os marketeiros desconheçam ou lhe faltem é uma perspectiva histórica. Em política no Maranhão, como no Brasil, sempre estivemos sobre o signo da conciliação, traço característico do comportamento político tão criticado por Raymundo Faoro, pois implica na imobilidade, no não mudar, na incapacidade de transformar.

Se a tudo conciliamos, a tudo acomodamos, nada punimos, não existe referencial, ninguém diferencia como cantou Fernando Pessoa, o bem do mal, vivemos em permanente nevoeiro, é mais do que chegada a hora para por em termos claros a situação política que tanto nos aflige e a tempos tantos.

Tivemos por obra da fortuna ou do azar, talvez de nós mesmos, um Juscelino invertido, que ao invés de não ter o sentimento do medo, se diz incapaz de ter ódio. Se o primeiro destemido fez 50 anos em 5, o segundo fez de 5 seus 50. Nos foi legado um Borges ao avesso. Se o primeiro tinha incapacidade de odiar, mas a sublimidade da arte literária. O segundo tem a perseguição pessoal e institucional como prática, somada à mediocridade intelectual.

Se a oposição não firmar seu terreno, delimitar seu campo, colocar às claras o que de fato se passou e se passa na sociabilidade política maranhense, mais uma vez a farsa redundará em repetição.

Não basta o discurso anti-Sarney, mas ele é indispensável, mais ainda ele deve ser nominado, por que este grupo, esta tão falada oligarquia, não é feita apenas de um senador pelo Amapá, aqui está o ponto crucial.

Explicitar quem são, o que fizeram, o que fazem, sem rodeios, sem meias palavras, sem punhos de renda, a política nesta quadra não comporta “paz e amor”, sobretudo por que estas não o são em essência, mas apenas enquanto cena. Se Bourdieu estava certo ao dizer que a sociologia é um esporte de combate, mais correto é dizer que a política é um esporte de sangue. Isto não quer dizer violência, mais intensidade de sentimento, verdade de argumento, ética nos meios e um bem coletivamente decidido ao final do percurso.

Essa plasticidade, essa maranhensidade do sentimento do medo, medo de enfrentar de peito aberto, de dizer às claras e assumir as conseqüências é o grande limite de vida e de morte da oposição. Ninguém governa sozinho, mas mesmo na solidão escolhemos quem e por quanto tempo nos acompanha.

Alguns certamente discordam. Seduzidos que estão pelo adesismo governista, pelos banquetes do poder, iludidos por um projeto de país que não inclui o Maranhão, pois se de fato incluísse iria de encontro ao maior empecilho do nosso desenvolvimento: a fragilidade ou quase ausência de alternância do poder político.

Se a oposição chegar ao poder, e o “se” é a parte de esperança que cabe a todos que mantém a crença nos homens e mulheres de boa vontade, que não se perca com a perdição dos conciliados. Não se pode crer como Tancredo que temos que apenas fitar o futuro, sem nos livrarmos em trabalho persistente, detido, consciente, incansável do passado e do legado passado que insiste em sobreviver.

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