Pular para o conteúdo principal

Novas Universidades no Maranhão

Jhonatan Almada, historiador.
 
A Universidade no Maranhão experimentou nos últimos anos um significativo processo de expansão. Tanto as instituições particulares quanto as instituições públicas. Isso significou certa democratização do acesso ao ensino superior, mas não representou, nem mesmo com as cotas raciais e para a escola pública ou com as bolsas do PROUNI, a ampliação do número de maranhenses que possuem nível superior. Dos 6,7 milhões de habitantes, apenas 3,56% desse total, cerca de 187 mil pessoas, possuem nível superior. Como é de praxe, o último entre todos os estados da federação brasileira.

A Universidade Estadual do Maranhão foi a primeira a se expandir e está bastante interiorizada, com 21 campi. A maioria deles criado por conveniência política e funcionando com professores substitutos e estruturas emprestadas ou improvisadas nos municípios. Sem mencionar a questionável qualidade de alguns dos seus cursos.

Contudo, o mais grave em relação à Universidade Estadual é a sua oligarquização. O atual Reitor conseguiu judicialmente o direito de se reeleger para um terceiro mandato consecutivo. O que deveria ser a vanguarda do conhecimento é apenas um reflexo do arcaísmo político local.

A Universidade Federal do Maranhão chega bem depois e com uma expansão mais rápida, ainda que tímida, pois só agora caminha para 9 campi. Claramente, uma expansão mais estruturada tanto em termos físicos quanto humanos via recursos do REUNI.

O trabalho educativo do pessoal docente que ingressou na carreira do magistério superior nesses campi terá impactos importantes na formação de uma nova geração de maranhenses em cidades e comunidades marcadas pelo arcaísmo político, modorra cultural e brutal exclusão social. Penso que o impacto disso só será percebido nos próximos 25 anos.

Há que se discutir se a formação ali desenvolvida estará à altura desse desafio político, cultural e social. Isso o tempo dirá. Pelo que conheço dos campi criados e dos professores efetivos, existe forte motivação para ser esperançoso. Ainda que a referida expansão tenha ocorrida há pouco mais de 4 anos, os novos campi exibem uma pujança e potencialidade inovativa perceptível. O mesmo não se pode dizer do campus-sede, aferrado a eternas divergências, reivindicações de estrutura física e reposição do quadro de pessoal. Pejado de jovens “velhos”, se encontra incapaz de avançar em termos de conteúdo, mantendo-se preso à reivindicação de concretos.

A expansão do ensino superior no Maranhão hipertrofiou instituições já vocacionadas ao centralismo. As administrações superiores sediadas em São Luís passaram a lidar com uma complexidade acadêmico-administrativa impensável e impossível de planejar e gerenciar. Não tivemos a criação de novas Universidades, mas o inchaço das existentes. Contrariamente ao que ocorreu em estados como Ceará, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, que receberam novas Universidades.

Nada explica que cidades como Imperatriz ou Caxias sejam extensões (centros ou campus) de ensino subordinadas à administração superior de São Luís, seja no caso da Universidade Federal, Estadual ou do Instituto Federal. Nada, salvo a tradição política maranhense de centralizar tudo na capital, temendo pelo surgimento de novos atores institucionais que eventualmente possam ameaçar o status quo e oxigenar os quadros políticos e técnicos locais.

Entendo que a efetiva democratização do ensino superior passa mais pela criação de novas instituições do que pela expansão das existentes. A expansão é uma condição inicial, mas não condição decisiva. Só novas instituições poderão defender uma cultura da liberdade, pois as atuais estão fortemente cingidas à cultura da necessidade.

A cultura da necessidade reduz o ensino superior às suas faltas. Falta carteira, falta computador, faltam salas, falta pincel, falta ar-condicionado, faltam residências, faltam restaurantes, faltam professores, faltam alunos, falta energia. Ainda que isso exista, a percepção é que não o há. Se o houver nunca é ou será o suficiente. Não vejo no horizonte dos próximos 10 anos qualquer possibilidade de superação dessa cultura no âmbito do campus-sede em São Luís.

A cultura da liberdade nos leva a ir além das faltas. Insere-nos na construção do conhecimento, no livre pensar, na inserção da Universidade em uma realidade-enigma que a reivindica enquanto instituição criadora e decifrante. Essa cultura é vivificada pelo espírito universitário da unidade na diversidade, da comunidade criante-aprendente e da universalidade que equilibra a especialização e a generalização.

Inúmeros projetos no Congresso Nacional propõem a criação de novas Universidades Federais no Maranhão. Na última campanha eleitoral também foi ventilada a ideia de criar novas Universidades Estaduais. Entretanto, algo tem emperrado por décadas esse movimento fundamental.

É condição decisiva para fortalecer a democratização do ensino superior no Maranhão o surgimento de novas Universidades. Isso é um desafio vultoso e imprescindível que cobra lideranças que o assumam e o concretizem. Essas novas instituições não podem ter as mesmas estruturas organizacionais e mentais das existentes. É preciso ousar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,

Tetsuo Tsuji - um sumurai em terras do Maranhão

Esta semana faleceu meu querido amigo Tetsuo Tsuji (1941-2023), um sumurai em terras maranhotas. Nascido em 13 de julho de 1941 em São Paulo construiu sua carreira lá e no Maranhão. Neste espaço presto minha sincera homenagem. Formado em Administração Pública e Direito pela USP, mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas-FGV e doutor em Administração pela USP. Tetsuo trabalhou na Secretaria de Finanças do Estado de São Paulo e foi professor na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Largou tudo e veio para Maranhão ser empresário na área de agricultura e pesca, formou família. A vida acadêmica volta na Universidade Federal do Maranhão-UFMA onde se tornou professor e reconstruiu carreira. No Maranhão foi pioneiro nos estudos de futuro e planejamento estratégico, contribuindo para o processo de planejamento do desenvolvimento no âmbito do Governo do Estado. É aqui que nos conhecemos, na experiência do Governo Jackson Lago (2007-2009). Tinha uns 2

A escola honesta

a) O que falta na escola pública? 69% não tem bibliotecas 91% não tem laboratório de ciências 70% não tem laboratório de informática 77% não tem sala de leitura 65% não tem quadra de esportes 75% não tem sala de atendimento especial São dados do Censo Escolar de 2022 e que acompanho há mais de 10 anos, afirmo com segurança, pouco ou quase nada mudou. b) E as propostas de solução? - formação continuada - flexibilidade curricular - gestão por resultados - avaliações de aprendizagem - plataformas a distância - internet Darcy Ribeiro finaliza um dos seus livros mais emblemáticos dizendo que nossa tarefa nacional é criar escola honesta para o povo. Quando?